segunda-feira, 11 de abril de 2011

LEMBRANÇAS DO MEU AVÔ

Toda a vez que o vovô passava por Campo Grande, normalmente alguns dias antes das minhas férias escolares eu implorava aos meus pais que me deixassem ir para a fazenda com ele. Passar férias lá com eles era sagrado, eu não queria outra coisa.

No caminho da fazenda sempre paravamos em Pedro Gomes onde visitávamos tio Eilson. A Elga (prima) sempre tentava me convencer a ficar em Pedro Gomes por uns dois dias. Às vezes ficava, às vezes não.

Gostava de tomar leite no curral às cinco da manhã. O único problema era que cinco da manhã nunca chegava. Lembro que muitas vezes acordava o tempo todo para ver se já estava amanhecendo e muitas vezes ia ao quarto dele para perguntar a hora e também para saber se já estava na hora de tirar leite das vacas. Quando finalmente chegava a hora, ele ou a vovó Nini levantavam para colocar canela com açúcar na minha caneca para poder levar para o curral. Lá o Manoel enchia meu copo com leite. Tomava dois copos cheios e o dia começava, o próximo passo era esperar dar a hora de tocar a tropa, para poder ir para o campo.

Lembro que Eduardo (primo) sempre ia também, éramos a dupla dinâmica. Quando íamos no campo, levar o gado para vacinar, a gente torcia para boiada estourar para podermos galopar atrás dos bois com a cachorrada louca atrás deles, nós atrás, e tio Eilson falando para tomarmos cuidado com os buracos de tatu.

Vovô, ia em seu cavalo Manga Larga, sempre ereto e exuberante. Homem forte, tão forte e valente que às vezes levava uns coices de mula, ou se cortava com arame puxando cerca, e minha vó Nini, brava, dizia que ele não tinha mais idade para essas coisas, isso ha 20 anos atrás. Não havia quem o convencesse que não tinha mais idade para essas coisas. Lembro que alguns anos depois o convenceram a não laçar mais os bois, mas tenho certeza que levaram alguns anos para convencê-lo disso.

Os netos tinham um burro para ir ao campo, burro Salu (meus primos mais velhos devem se lembrar dele). Era um burro manso, exclusivo para os netos, mas neto nenhum queria montar no Salu, era muito devagar, só andava rápido quando via que estava chegando em casa. Isso por um lado era bom, porque sempre que estávamos chegando do campo, eu e Eduardo apostávamos corrida, era nossa chance da ultima galopada do dia.

Coisa que não esqueço são as variedades de frutas que ele tinha na fazenda, frutas jamais encontradas na cidade, com certeza frutas nordestinas, que naquela época só tinha a oportunidade de comer nas minhas férias. Uma coisa que eu admirava é que para o café da manhã, ele já tinha catado mangas, coco, seringuela, carambola, entre outras e tinha um prato com manga em pedaços, água de coco no copo, um banquete, com queijos, e doces que vovó Nini fazia, sucos, e etc... coisa que guri aprecia e que ficou em minha memória.

A noite, íamos para varanda, ele na rede ouvindo o radio com um programa que mais chiava do que falava, lembro que era um programa cômico, porque quem conseguia entender, ria.

Ele fazia contas de cabeça. Fazia somas, multiplicações, divisões, sem nunca usar uma calculadora. Todo mundo ficava admirado. Lembrava em que ano havia comprado determinada cadeira, dizia quanto tinha pago naquela rede que trouxe do Ceara em 1973. Bons tempos, tempos que não voltam mais.

Carro para ele tinha que ser Ford, trocava de carro a cada dois anos, mas sempre Ford, lembro da Belina, depois Del Rey... E por ai adiante, não tinha dívidas, dormia tranqüilo. Acredito que tinha seus problemas e preocupações, mas não perdia o sono por estar devendo a banco.

Ajudou a muita gente e sei que ajudou muito nossa igreja, mamãe comentava, às vezes, que ele tinha dado dinheiro para ajudar na construção da igreja, ou algum missionário ou alguém que estava passando dificuldades.

Os anos passaram, cresci, acabei me mudando de Campo Grande, mas em todos esses anos, digo a todos com quem convivo que minhas lembranças da fazenda são minhas melhores memórias de infância. Memórias que foram proporcionadas pelo meu avô.


Jeuel Almeida Viveros, é o neto mais velho do irmão Edízio Saldanha de Almeida, falecido dia 03 de abril. é filho do Pr. Júlio Viveros, da igreja neotestamentária da Vila Planalto em Campo Grande - MS. Reside nos Estados Unidos e enviou essa mensagem no dia do funeral do seu avô.

Um comentário:

Ivon Pereira da Silva disse...

Parabéns, Jeuel, são narrativas como a sua que demonstra que em determinado momento da vida, coisas que aconteceram marcam para sempre as nossas vidas. Momentos que ficarão guardados na sua e na vida de outros que viveram e desfrutaram destes doces e memoráveis dias.