Infelizmente, às vezes nos deparamos com
crentes que tomaram este versículo da palavra de Deus e quer de todas as formas
colocá-lo como um fardo nas próprias costas e nas dos obreiros da igreja.
Devemos tomar muito cuidado porque isto é perigoso e podemos passar a outro
extremo!
Então vamos desprezar o versículo? Claro
que não! Essa foi uma ordem dada por Jesus aos seus discípulos, antes que
houvesse igreja. Porém, devemos tomar cuidado com esse “ide”, para não vermos
apenas como uma ordem a nós hoje, de sairmos importunando as pessoas, a ponto
de distancia-las ainda mais de Deus, tentando fazê-las engolir o evangelho,
argumentando que é nossa obrigação, ganhá-las para Deus.
Aliás, “Evangelho” quer dizer boas novas
de salvação. Então o que temos que pregar é a boa notícia de que Cristo morreu
na Cruz para a salvação de todas as pessoas e que, todo aquele que O receber,
crendo Nele, será dado o poder de ser filho de Deus, Jo. 1:12; O apóstolo Paulo disse em Rm. 1:16, “Não me envergonho do evangelho, porque é o
poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê”... Em Rm. 10 14a diz: ...e como ouvirão se não há
quem pregue? É nosso dever pregar? Claro, com certeza é; mas devemos tomar
cuidado ao interpretarmos a ordem de Jesus “ide”.
Muitas pessoas dizem: “A palavra diz Ide
e não Vinde; então todo tem que sair por aí levando o evangelho de porta em
porta, não devemos esperar as pessoas virem à igreja, devemos ir atrás delas”.
Não é bem assim hoje. Os tempos são
outros, as épocas mudaram, as pessoas mudaram e o sentido que os “evangélicos”
dão para evangelho hoje também mudou.
Quando eu digo que os tempos mudaram eu
quero dizer que ninguém quer mais receber pessoas na porta de sua casa, porque
não pode ter garantia de que realmente é um pregador que vai falar de Deus.
Mesmo aqueles que querem ouvir uma palavra boa dificilmente abrem a sua porta
para receber uma pessoa, por mais que esteja com uma Bíblia. Ninguém confia
mais em ninguém. Há insegurança demais para as pessoas confiarem a ponto de
abrir a porta para alguém. Não estou dizendo que devemos parar de pregar por
isto; estou dizendo que o “ide e pregai”, é muito mais que sair batendo palmas
nas portas e tirando as pessoas dos seus afazeres para dar-lhes a notícia da
salvação.
Ir por todo mundo e levar o evangelho é
viver o evangelho de forma que, em as pessoas vindo até nós, ou nos encontrando
de alguma forma, possa ver em nós o poder de Deus. Que o reflexo da luz de Deus, através de nós
seja visível àqueles que nos cercam mesmo não nos dando a oportunidade de
falar-lhes acerca do evangelho. Temos que ser o sal da terra e a luz do mundo
desta forma. Não tendo a oportunidade de nos apresentar às pessoas, mas, sendo
vistos de alguma maneira, sejamos vistos como exemplo dos fiéis; como pessoas
que vivem o evangelho da verdade e não apenas pessoas que falam dele.
Os inconversos hoje não veem Jesus o Salvador
do mundo como Ele realmente é, por causa da imagem que lhes é passada através
das atitudes de muitos que estão “indo” sem, contudo, levar o poder de Deus. O
evangelho está sendo banalizado. Quando se fala em evangelho, as pessoas já faz
uma ligação com o “evangelho” da prosperidade. Recentemente passou aqui uma
caravana com bandeirinhas, com um carro de som e uns homens de terno e gravata,
correndo nas calçadas, fazendo uma espécie de exorcismo, com microfones e
abençoando as pessoas nos interiores das casas, gritando. Estão apelando. Pregar
o evangelho a toda criatura é muito mais viver o evangelho em nossas vidas, dando exemplo com
nossas atitudes, nosso viver diário. Nossas ações, devem ser evangelizadoras
por onde formos. Esse é o sentido hoje de ir por todo o mundo levando o
evangelho. Dizer que não temos que esperar as pessoas nos templos é muito
radicalismo.
Temos que tomar muito cuidado de, pelo
fato de ficarmos tão apegados ao “ide”, esquecermos-nos das outras funções
importantes que a igreja tem.
Desde a primeira igreja, descrita em
Atos dos apóstolos 2:42,43 que diz o seguinte: “E perseveravam na doutrina dos apóstolos, e na comunhão, e no partir
do pão, e nas orações. E em toda alma havia temor e muitas maravilhas e sinais
se faziam pelos apóstolos”. Assim deve ser a igreja. Perseverante, ter doutrina, viver uma vida de
oração, ter comunhão uns com os outros e com o Senhor, lembrando sempre da
bênção maior que um ser humano pode receber que é a bênção da salvação, com a
qual fomos abençoados, Ef. 1:3.
No versículo 46,47 de Atos 2 diz: “E perseverando unânimes todos os dias no
templo, e partindo o pão de casa em casa, comiam juntos com alegria e singeleza
de coração, Louvando a Deus, e caindo na graça de todo o povo. E todos os dias
acrescentava o Senhor à igreja aqueles que se haviam de salvar”. Vemos aqui
agora, pessoas vindas e sendo acrescentadas à igreja, pelo Senhor, que é o dono
da Seara. Porque essas pessoas vinham? Porque viam as vidas cheias da graça de
Deus, viam a união, a comunhão, o louvor vendo o testemunho das almas que
haviam sido salvas, a alegria e singeleza dos corações deles. Viver em
singeleza é viver com simplicidade e naturalidade e sinceridade.
Discordo quando alguém diz que as igrejas neotestamentárias
não pregam o evangelho. Quase todas as igrejas tem cultos ao ar
livre a muitos e muitos anos, todos os meses; às vezes duas vezes ao mês. Aqui em Porto Alegre, eu, que estou só, procuro pregar
levando folhetos às pessoas e colocando também nas caixas de correspondências,
na grande maioria, visto que somos cercados de blocos de apartamentos, de onde
as pessoas só saem às pressas e retornam sem querer ser interrompidas por
ninguém. Às vezes entrego um folheto a transeunte nas ruas e tento falar, mas a
pessoa pega e sai quase correndo, já pela desconfiança. Então, eu oro a Deus
para direcionar os folhetos às pessoas e faço esse trabalho desta forma. Mas isto
também é pregar o evangelho. Prego para o cabeleireiro, pregamos para a dentista,
para os vizinhos mais próximos que aceitam falar conosco, mais por educação do
que por sentir necessidade da Palavra, enfim. Temos que admitir que vivemos
este tempo difícil. Sem contar que são poucos os que querem realmente entrar
pela porta estreita. Se pregarmos “Evangelho” da prosperidade aí sim, muita
gente pode até dar mais atenção, mas desta porta larga, eu quero que as pessoas
saiam.
Cuidemos para não desprezar os outros
ministérios que o Senhor dá aos seus servos, pelo fato de estarmos apegados
somente ao “Ide por todo mundo”. Deus tem outros propósitos para seus obreiros.
Ef. 4:11,12 diz: “E Ele mesmo deu, uns
para apóstolos, e outros para profetas e outros para evangelistas e outros para
pastores e doutores, querendo o aperfeiçoamento dos santos para a obra do
ministério do corpo de Cristo”. Devemos trabalhar no sentido de
aperfeiçoarmos aos crentes, firmando-os no evangelho para que vivam o
evangelho. E no versículo 13,14 diz: “Para
que cheguemos a unidade da fé, e ao conhecimento do Filho de Deus, a homem
perfeito a medida da estatura completa de Cristo. Para que não sejamos mais
como meninos inconstantes, levados em roda por todo o vento de doutrina, pelo
engano dos homens que com astúcia enganam fraudulosamente”.
Pregar o evangelho é importante e é
mandamento, mas não podemos desprezar os outros ministérios que Deus nos deu. A
meu ver, hoje eles tem infinitamente mais valia do que sair jogando pérola aos
porcos, dando o que é santo aos cães. Vamos pregar até ao fim, testemunhando
sempre da grandiosa obra da cruz, realizada por Cristo para a salvação do mundo
todo, mas não nos culpar pelo fato de as pessoas não quererem o evangelho da
graça.
Quando Paulo e Timóteo chegaram a
Corinto, Eles pregavam no templo todos os sábados, mas os judeus blasfemando e
resistindo o evangelho, eles sacudiram as vestes e Paulo disse-lhes: “o vosso sangue seja sobre a vossa cabeça, eu
estou limpo e desde agora parto para os gentios”. At. 18:6.
Que o Senhor nos ajude a viver uma vida
que por si só, pregue o evangelho da graça de Deus. O evangelho é para os já
crentes também, não apenas para os que ainda não conhecem a Cristo. O apóstolo
Paulo fez isto o tempo todo de seu ministério. Ele fazia discípulos dos já
crentes, até que Cristo fosse formado neles. Ele diz isto em Gl. 4:19. “Meus filhinhos, por quem de novo sinto as
dores de parto até que Cristo seja formado em vós”. Quando ele estava se despedindo dos
anciãos de Éfeso ele diz: “Mas de nada
faço questão nem tenho a minha vida por preciosa, contando que cumpram com
alegria a minha carreira, e o ministério que recebi do Senhor Jesus, para dar
testemunho do evangelho da graça de Deus”. No versículo 27 ele diz: “Porque nunca deixei de vos anunciar todo o
conselho de Deus”. E segue falando nos versículos seguintes das
dificuldades que eles enfrentariam depois da partida dele, com “lobos cruéis”
que atacariam o rebanho. Dar testemunho do evangelho da graça é o nosso
principal ministério hoje, segundo a minha interpretação, e, esse testemunho
deve ser dado tanto a incrédulos como a crentes.
Através do fortalecimento dos irmãos,
vamos ver Deus acrescentando almas em nosso meio, na medida em que estas almas
queiram. Não podemos esperar muitos como foi no início da igreja, no início dos
ministérios dos apóstolos porque são poucos os que entram pela porta estreita.
Temos que estar cientes de que o amor se esfriará de quase todos, de que são
poucos os que sentem a carência da glória de Deus, dos que quer realmente se
preocupar com a vida espiritual ao invés de vida financeira. Vamos cumprir com o ministério que temos de
fortalecer aos que estão fracos os de joelhos trôpegos e vacilantes, aos
desanimados, vamos ser suportes dos que estão caindo, testemunhando sempre da
graça e misericórdia do Senhor.
Grande abraço!
4 comentários:
Amado irmão, sou um assíduo leitor dos seus estudos, e refletir em seus ensinos é motivo de alegria para mim. Continue escrevendo, pois, sem perceber seus textos demonstra a sua experiência diária com Deus, e nos ajuda a caminhar nesta jornada celestial, de modo confiante.
Obrigado irmão Ivon. Que o Senhor seja glorificado!
Irmão Zigomar... fico muito feliz em saber que eu não penso nada absurdo para os dias de hoje, pois este estudo que o senhor elaborou é exatamente o que eu tenho meditado e compartilhado aqui no trabalho local... é muito bom ler e meditarmos nestas palavras, ainda mais de alguém que está indo pregar esse evangelho, mas que, como o senhor disse, este evangelho é pregado de diferentes formas, principalmente pelo testemunho de Cristo em nossas vidas. Parabéns pela maneira que expressou e a coerência textual, a qual facilita muito para qualquer leitor entender este assunto. Que o Senhor continue abençoando ao amado irmão e sua família, e que possamos continuar lendo mais literaturas preciosas, que é o caso dessa série " Deus não faz o que nós podemos fazer". Abraços,
Meu querido irmão Cleberson, fico muitíssimo feliz por saber que pessoas como você e muitos outros que conseguem entender a mensagem, o recado que quero passar. Porque às vezes, penso que não fui compreendido naquilo que escrevi.
Isso me deixa animado a continuar escrevendo.
Grande abraço a você e Ana Paula.
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