No ano de 1.985, mudamos de Cuiabá-MT para Porto Alegre-RS. Chegamos no dia mais frio do ano. Logo fomos adaptando ao lugar e ao clima. Como não tínhamos televisão, nossos filhos Israel (5), Luiz Roberto (3 anos e meio) e Isangela (1 ano e meio), tinham muita energia como toda criança bem cuidada. A minha esposa, Rosangela providenciou livros de histórias, de aventura. Quando as noites eram muito frias e não podíamos sair para fazer visitas, ela lia para eles. Com isso, eles começaram a se interessar pelos livros.
Visitando o casal de
missionários Willian e Ruth Decker, o primeiro nos incentivou a pagarmos um
certo valor, pequeno, para que eles
lessem livros.
Foi
feita a aposta, eles liam e nós pagávamos. Comecei a comprar livros finos e
relacionados a aventura. Às vezes entregava o livro para o Israel pela manhã, à
tarde ele já tinha lido. O Luiz Roberto foi mais lento na leitura, custou mais,
mas logo estava devorando livros.
A
minha esposa queria saber se realmente tinham lido, então fazia perguntas. Eles
tinham que contar o enredo da história. Ela queria saber os personagens, o
lugar, etc.
A coisa complicou para
meu lado, porque eu não tinha dinheiro para comprar tantos livros. Cadastramos
os três em uma biblioteca pública. Era um lugar agradável, uma antiga olaria,
que o Governo do Estado tinha transformado em um centro de esporte e lazer,
perto da nossa casa. E para lá iam toda a semana Israel e Luiz Roberto. Levavam
a ficha da irmã, para pegar 6 livros, porque cada um só tinha o direito a dois
livros. A bibliotecária tinha dúvida sobre a leitura deles, porque eles se
tornaram rápidos demais. Certa vez quando eles foram fazer devolução e pegar
mais livros, ela surpresa, perguntou:
- Vocês leram mesmo
todos eles?
Então eles responderam
tranqüilos:
- Quer que a gente
conte para a senhora?
Ela disse:
- Não, não precisa.
Feliz dia! Quando
eles nos disseram que não precisávamos mais pagar pela leitura, porque agora
eles liam por prazer!
Recebemos
outro conselho de Mary Rees, nossa amiga, sugerindo que em nossa casa
deixássemos livros e revistas distribuídos por toda a casa. Seguimos seu
conselho e colocamos até no banheiro.
No ano de 1.992,
mudamos para Coxim-MS. A escola de 1º grau era muito fraca para eles. Foi um
momento difícil para nós, porque tínhamos que colocar em escola particular. Mas
também lá tinha uma pequena biblioteca municipal. Eles foram cadastrados.
Eles passavam horas
ali, lendo ou estudando.
Em Coxim, fui comprar
uns livros que o Luiz Roberto queria, era uma coleção de Homens Célebres. Aí
escutei algo curioso do dono da livraria:
“Um senhor queria
comprar livros para sua esposa ler, porque ela estava grávida. Ele cria que se
ela lesse, seu filho nasceria mais inteligente”. Que bom se assim fora!
Israel me fez uma
proposta: iria ler em um mês toda a Bíblia que ele tinha em troca de uma Bíblia
de estudo do Dr. Scofield. Tive que comprar a tal Bíblia porque ele realizou o
feito.
Certa vez escutei uma
conversa, eles já estavam na adolescência, onde começam aparecer os sonhos. O
desejo deles era “roubar” uma biblioteca. Eles queriam ter muitos livros.
Fiquei com a pulga atrás da orelha.
Em 1.995 mudamos de
Coxim para Campo Grande. Eles foram ensinados a ter princípios, mas fui pessoalmente
à biblioteca entregar os cartões de retirada e entrega de livros. Sondei se não
havia nenhum livro em poder deles.
Eles ainda têm o sonho
de um dia ter sua casa e uma biblioteca que eles mesmos querem organizar. Eles
têm ciúmes dos livros, mas que sempre incentivam os colegas, amigos e crianças a
lerem livros e revistas. Fazem comentários do livro tal sem contar o enredo, é
claro.
Hoje (2.003), Israel e
Luiz Roberto fazem o curso de Direito, a caçula faz Psicologia, todos na
Universidade Federal de Mato Grosso do Sul.
Praticamente toda
semana o Israel diz:
- E daí pai, eu
estou precisando de um livro...
A filha liga:
- Pai, estou
precisando de livros, vou mandar a relação.
Em
nossa casa tem livros e revistas, esparramadas, até no quarto de hóspedes.
Talvez
essa narrativa não seja novidade para você, mas se você tem filhos pequenos,
pode tirar a televisão deles e substituir por livros, pode ter certeza que você
terá filhos diferentes.
Escrito por Isaias da Silva Almeida em 2003
2 comentários:
Muito interessante, vou seguir o exemplo. Que tal, incluir um gibi na compra do mês?
Honório Neto. Barão de Melgaço / MT
Também sigo esse exemplo!
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