segunda-feira, 22 de outubro de 2018

Os homens de poder

Os homens de poder

Izaias Resplandes de Sousa

Há muitas formas de se exercer o poder. Ricos e pobres podem exercê-lo. No entanto, a riqueza normalmente controla o exercício do poder. E por isso, os homens querem ser ricos, cada vez mais. A riqueza é o sonho de consumo de quase todo mundo. No afã de consegui-la, as pessoas costumam ultrapassar todos os limites possíveis. Verbos como matar, roubar, fraudar, mentir, enganar, distorcer, deturpar e outros tantos nessa linha são frequentemente conjugados por aqueles que têm fome de riqueza. Amizades são desfeitas e famílias desintegradas. Dizem de certas pessoas, que são capazes de matar a própria mãe para subir na vida. É de ver que a meta de alcançar a riqueza, pouca ou muita, faz com que o homem descumpra o contrato que garante a paz social e, assim, retorne ao estado de barbárie e selvageria e à sua eterna luta contra todos os demais. Nessa situação, o homem perde o seu bem mais precioso: a sua humanidade.
A Bíblia diz: Que aproveitaria ao homem ganhar todo o mundo e perder a sua alma? Marcos 8:36.
A alma é o bem maior de uma pessoa; é a sua vida, é o que pode existir ou o pode morrer. O salmista diz:
1)   Que a alma vive: Viva a minha alma, e louvar-te-á; ajudem-me os teus juízos. Salmos 119:175;
2)   Que a alma morre: Que homem há, que viva, e não veja a morte? Livrará ele a sua alma do poder da sepultura? Salmos 89:48.
O homem com sede de riqueza perde a sua alma antes da sepultura. O rico é quase sempre uma pessoa mesquinha, amarga, infeliz, medrosa.
O rico ajuda os outros com pequenas esmolas, cuidando para não acontecer de dar tudo e ficar sem nada; e ficar pobre. O que ele dá é aquilo que não lhe fará falta. O rico tem medo de ficar pobre. Ele detesta a pobreza. No entanto, a maioria dos pobres busca a amizade do rico, acreditando que estes podem se interessar por eles. Os ricos, como disse o deputado Justo Veríssimo, personagem criado por Chico Anísio, querem mesmo é que os pobres se explodam e que morram todos.
Jesus mostrou como agem os ricos e comentou sobre eles. Ele disse a um rico:
Se queres ser perfeito, vai, vende tudo o que tens e dá-o aos pobres, e terás um tesouro no céu; e vem, e segue-me. E o jovem, ouvindo esta palavra, retirou-se triste, porque possuía muitas propriedades. Disse então Jesus aos seus discípulos: Em verdade vos digo que é difícil entrar um rico no reino dos céus. E, outra vez vos digo que é mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha do que entrar um rico no reino de Deus. Mateus 19:21-24.
Não é que o rico não se salva. Nem todos os ricos estão inaptos ao reino dos céus. Jesus pode transformar o coração de todos, até mesmo dos ricos. A dificuldade deles está no fato de que eles confiam mais em suas próprias riquezas para se salvarem do que em qualquer outra coisa, o que não ocorre com os pobres, porque já que eles não têm nada em que possam confiar, por que não confiarem em Deus?
Jesus também fez um comentário sobre as ofertas que os ricos faziam, comparando-as com as ofertas dos pobres. É assim o relato:
E, olhando ele, viu os ricos lançarem as suas ofertas na arca do tesouro; e viu também uma pobre viúva lançar ali duas pequenas moedas; e disse: em verdade vos digo que lançou mais do que todos, esta pobre viúva; porque todos aqueles deitaram para as ofertas de Deus do que lhes sobeja; mas esta, da sua pobreza, deitou todo o sustento que tinha. Lucas 21:1-4.
É de ver que o dinheiro do pobre é tão pouco, que qualquer coisa que ele tirar vai lhe fazer falta. Mas, mesmo assim, o pobre sempre se sensibiliza com as necessidades dos demais. Ele sabe o que é sofrer, porque sofre todo dia. Então, mesmo sabendo que vai obter poucos resultados com suas ofertas, mesmo assim ele faz questão de ajudar. Já o rico, dá alguma coisa para aparecer e não porque realmente deseja ajudar a diminuir o sofrimento das pessoas. É claro que não vamos rejeitar as ofertas dos ricos, pois afinal, como disse certa mulher: Os cachorrinhos comem das migalhas que caem da mesa dos seus senhores. Mateus 15:27.
É de destacar que o mais importante nessa reflexão sobre o poder não é o fato de se ser rico ou se ser pobre, mas o que cada um faz com a sua riqueza em favor dos demais. Deus não deu mais a uns para que se locupletem de “deleites e prazeres”, mas muitos pensam que foi para isso.
De onde vêm as guerras e pelejas entre vós? Porventura não vêm disto, a saber, dos vossos deleites, que nos vossos membros guerreiam? Cobiçais, e nada tendes; matais, e sois invejosos, e nada podeis alcançar; combateis e guerreais, e nada tendes, porque não pedis. Pedis, e não recebeis, porque pedis mal, para o gastardes em vossos deleites. Tiago 4:1-3.
É de destacar a necessidade de que alguém promova a justiça social, o equilíbrio na distribuição de renda e a igualdade entre os homens. Esse é o papel dos governantes e de todos que têm recebido o poder para gerenciar. É de ver que o poder pertence a Deus. Aos homens cabe o gerenciamento conforme os propósitos divinos.
Deus falou uma vez; duas vezes ouvi isto: que o poder pertence a Deus. Salmos 62:11.
Cada um administre aos outros o dom como o recebeu, como bons despenseiros da multiforme graça de Deus. 1 Pedro 4:10.
O apóstolo Paulo elogia a atitude dos crentes pobres da Macedônia, porque haviam entendido o papel das riquezas, poucas ou muitas.
Também, irmãos, vos fazemos conhecer a graça de Deus dada às igrejas da Macedônia; como em muita prova de tribulação houve abundância do seu gozo, e como a sua profunda pobreza abundou em riquezas da sua generosidade. Porque, segundo o seu poder (o que eu mesmo testifico) e ainda acima do seu poder, deram voluntariamente. Pedindo-nos com muitos rogos que aceitássemos a graça e a comunicação deste serviço, que se fazia para com os santos. E não somente fizeram como nós esperávamos, mas a si mesmos se deram primeiramente ao Senhor, e depois a nós, pela vontade de Deus. 2 Coríntios 8:1-5.
O ato de compartilhar o que tem com os outros, ainda que se tenha pouco, tem a virtude de produzir o gozo, a alegria, o prazer. É de ver que, enquanto aquele primeiro rico que nos referimos ficou triste porque era possuidor de muitas propriedades e não se sentia à vontade para dá-las aos pobres, os pobres da Macedônia ficaram alegres e felizes de poderem compartilhar um pouco dos bens de sua pobreza com outros, igualmente pobres, que viviam em Jerusalém.
E Paulo explica o porquê de tal interesse:
Porque pareceu bem à macedônia e à Acaia fazerem uma coleta para os pobres dentre os santos que estão em Jerusalém. Isto lhes pareceu bem, como devedores que são para com eles. Porque, se os gentios foram participantes dos seus bens espirituais, devem também ministrar-lhes os temporais. Romanos 15:26,27.
É dando que se recebe. Assim diz a Palavra:
Dai, e dar-se-vos-á; boa medida, recalcada, sacudida, transbordante, generosamente vos darão; porque com a medida com que tiverdes medido vos medirão também." Lucas 6:38
O homem que tem uma natureza tipicamente rica normalmente não se preocupa em ajudar porque ele acredita que nunca precisará de ajuda. Mas, todos sabem que ninguém é autossuficiente e, mais cedo ou mais tarde chegará o dia em que estaremos pedindo ajuda a alguém.
O homem poderoso às vezes até ajuda, mas não porque deseja ajudar, senão que para se livrar do aborrecimento daquele que bate em sua porta. A Bíblia cita um exemplo:
Disse-lhes também: Qual de vós terá um amigo, e, se for procurá-lo à meia-noite, e lhe disser: Amigo, empresta-me três pães, pois que um amigo meu chegou a minha casa, vindo de caminho, e não tenho que apresentar-lhe; se ele, respondendo de dentro, disser: Não me importunes; já está a porta fechada, e os meus filhos estão comigo na cama; não posso levantar-me para tos dar; digo-vos que, ainda que não se levante a dar-lhos, por ser seu amigo, levantar-se-á, todavia, por causa da sua importunação, e lhe dará tudo o que houver mister. Lucas 11:5-8.
Também conta a história de um juiz:
Dizendo: Havia numa cidade um certo juiz, que nem a Deus temia, nem respeitava o homem. Havia também, naquela mesma cidade, uma certa viúva, que ia ter com ele, dizendo: faze-me justiça contra o meu adversário. E por algum tempo não quis atendê-la; mas depois disse consigo: ainda que não temo a Deus, nem respeito os homens, todavia, como esta viúva me molesta, hei de fazer-lhe justiça, para que enfim não volte, e me importune muito. E disse o Senhor: Ouvi o que diz o injusto juiz. Lucas 18:2-6.
O que tem algum poder, normalmente faz alguma coisa pelo que não tem apenas para se livrar de um aborrecimento. Ele não têm prazer em ajudar. Os poderosos não se incomodam com as causas dos aflitos, dos que sofrem, dos miseráveis, dos desassistidos. Isso não quer dizer que eles irão todos para o inferno. Não estou julgando os ricos e nem a ninguém, mas apenas analisando essa categoria à luz da Bíblia. Não estamos aqui para condenar ninguém, principalmente porque Deus não faz acepção de pessoas e Ele não quer que nenhum pereça. Portanto, não é hora de jogar ninguém no Lago de Fogo. Isso vai acontecer, mas não seremos nós que faremos isso.
É de ver que os ricos também podem ser salvos. Vejamos o caso de Zaqueu.
E, tendo Jesus entrado em Jericó, ia passando. E eis que havia ali um homem chamado Zaqueu; e era este um chefe dos publicanos, e era rico. E procurava ver quem era Jesus, e não podia, por causa da multidão, pois era de pequena estatura. E, correndo adiante, subiu a uma figueira brava para o ver; porque havia de passar por ali. E quando Jesus chegou àquele lugar, olhando para cima, viu-o e disse-lhe: Zaqueu, desce depressa, porque hoje me convém pousar em tua casa. E, apressando-se, desceu, e recebeu-o alegremente. E, vendo todos isto, murmuravam, dizendo que entrara para ser hóspede de um homem pecador. E, levantando-se Zaqueu, disse ao Senhor: Senhor, eis que eu dou aos pobres metade dos meus bens; e, se nalguma coisa tenho defraudado alguém, o restituo quadruplicado. E disse-lhe Jesus: Hoje veio a salvação a esta casa, pois também este é filho de Abraão. Porque o Filho do homem veio buscar e salvar o que se havia perdido. Lucas 19:1-10.
Zaqueu foi um rico que se converteu e passou a ter grande prazer em ajudar aos pobres e a corrigir os seus erros. Isso não é coisa comum de se ver. A regra é que os ricos não se interessem por Deus, porque se acham deuses, senhores e poderosos. E isso é um caso de preocupação, principalmente quando vemos os pobres se comportando da mesma maneira.
Os ricos querem continuar ricos e os pobres também querem ficar ricos. Mas a verdade é que não existe a possibilidade de todos ficarem ricos, porque os recursos são limitados e não são suficientes para todos. Mas é evidente que não é de justiça que uns poucos tenham quase tudo, enquanto que os muitos restantes não fiquem com quase nada.
Jesus orientou aos ricos para fazerem a distribuição de suas riquezas. É nosso dever lutar pela diminuição das desigualdades sociais, pela minimização das diferenças de classes. Infelizmente, não é isso que vemos hoje em dia.
A regra em uma sociedade capitalista é fazer todo o possível para ganhar mais e perder menos. Pobres são orientados a deixar de comer, de vestir, de se divertir e coisas do gênero, para poupar, para colocar os seus minguados recursos nas mãos dos banqueiros, em troca de dividendos irrisórios. No entanto, esses, quando emprestam, cobram juros exorbitantes.
Não digo que não devemos fazer administração financeira, mas devemos ter cautela sobre como fazemos isso.
É de ver que poucos pobres ficaram ricos. Alguns até se remediam, mas a maioria pobre, sempre continua pobre, mesmo trabalhando para os ricos e poderosos. Jesus disse que sempre teríamos os pobres conosco. João 12:8.
A orientação bíblica é de que aprendamos a viver contentes, mesmo vivendo em uma situação de pobreza. O pobre é feliz, o rico não.
O pobre sai de casa com tranquilidade e vai se divertir. O rico se tranca em casa e fica vendo televisão, com medo de ser roubado. O pobre passeia pelas ruas, praças. O rico anda de carro, com medo de ser assaltado. A vida do rico é uma tribulação constante, enquanto que a do pobre é uma calmaria. No entanto, apesar desse quadro, os ricos querem continuar ricos e os pobres querem ser ricos a todo custo.
A Bíblia alerta:
Não te fatigues para enriqueceres; e não apliques nisso a tua sabedoria. Porventura fixarás os teus olhos naquilo que não é nada? Porque certamente criará asas e voará ao céu como a águia. Provérbios 23:4, 5.
E disse-lhes: Acautelai-vos e guardai-vos da avareza; porque a vida de qualquer não consiste na abundância do que possui. Lucas 12:15.
Ninguém pode servir a dois senhores; porque ou há de odiar um e amar o outro, ou se dedicará a um e desprezará o outro. Não podeis servir a Deus e a Mamom. Mateus 6:24.
Não confieis na opressão, nem vos ensoberbeçais na rapina; se as vossas riquezas aumentam, não ponhais nelas o coração. Deus falou uma vez; duas vezes ouvi isto: que o poder pertence a Deus. Salmos 62:10,11.
Ao que distribui mais se lhe acrescenta, e ao que retém mais do que é justo, é para a sua perda. A alma generosa prosperará e aquele que atende também será atendido. Provérbios 11:24,25.
O poder e a riqueza pertencem a Deus e deve ser usado para diminuir as desigualdades sociais e os sofrimentos de todos. É responsabilidade de quem tem qualquer forma de poder compartilhar esse poder com os que não têm para que cada um seja o mais universalmente igual ao outro.
Minha é a prata, e meu é o ouro, disse o Senhor dos Exércitos. Ageu 2:8.
É evidente que todo aquele que acha que tem algum poder não haverá de concordar com essa exposição, mas não é nosso objetivo contender. Apenas esclarecer. Cada um, no exercício de sua liberdade e no uso dos espaços que criar também poderá usar a tribuna para defender suas posições contrárias. Todavia, sempre com respeito e sem prover a desordem e a confusão.
Porque Deus não é Deus de confusão, senão de paz, como em todas as igrejas dos santos. 1 Coríntios 14:33.
Que o Senhor nos abençoe e nos ajude a compreender os nossos caminhos. Amém!

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