sábado, 14 de dezembro de 2019

O tríplice aspecto da missão


O tríplice aspecto da missão


Izaias Resplandes de Sousa

Introdução
A missão do crente, em relação ao seu tríplice aspecto, registrado pelos evangelistas Marcos, Mateus e Lucas, compreende o ato de pregar o evangelho em si, o fazer discípulos e o testemunhar a respeito de Cristo, sempre seguindo as orientações do Espírito Santo, o qual, verdadeiramente, é aquele que faz essa obra de edificação da Igreja. O crente é apenas um instrumento físico dele, ou seja, suas mãos, seus pés, sua boca e demais órgãos materiais. Através do crente, Deus fala com o mundo e com as pessoas, de um modo geral e, com os seus filhos, de um modo particular. A Bíblia diz que Deus tem falado aos homens, muitas vezes e de muitas maneiras. E nesse falar, com certeza, nunca deixou de usar os instrumentos humanos de que dispunha.
Havendo Deus antigamente falado muitas vezes, e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, a nós falou-nos nestes últimos dias pelo Filho. Hebreus 1:1.

1. Pregar o Evangelho
Ide por todo o mundo, pregai o evangelho a toda criatura. Marcos 16:15.
O Evangelho é a boa nova a respeito da salvação e que desde o começo do mundo foi pregado aos homens. O próprio Deus fez o primeiro anúncio, o proto-evangelho, para os primeiros pais, quando do julgamento da serpente por haver enganado Eva. É assim a Palavra:
Então o Senhor Deus disse à serpente: Porquanto fizeste isto, maldita serás mais que toda a fera, e mais que todos os animais do campo; sobre o teu ventre andarás, e pó comerás todos os dias da tua vida. E porei inimizade entre ti e a mulher, e entre a tua semente e a sua semente; esta te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar. Gênesis 3:14,15.
O descendente da mulher era Jesus, aquele que viria ao mundo em forma humana para “salvar o seu povo dos seus pecados” (Mateus 1:21). É possível que Adão e Eva tenham crido na Palavra de Deus, pois já tinham várias evidências concretas de que tudo o que Deus dizia, realmente acontecia. E, se tiverem crido na salvação de Deus, mesmo sem saber que Jesus seria o Salvador, eles foram justificados de seus pecados por conta de sua fé. E, bem assim, todos aqueles que creram e viveram na esperança da salvação de Deus, mesmo sem saber que o Salvador seria o Deus Filho Unigênito Jesus Cristo.
Tendo sido, pois, justificados pela fé, temos paz com Deus, por nosso Senhor Jesus Cristo. Romanos 5:1.
A Palavra diz que Deus justifica a “todos nós”, o passado, do presente e do futuro, por meio de Jesus. 
Que diremos, pois, a estas coisas? Se Deus é por nós, quem será contra nós? Aquele que nem mesmo a seu próprio Filho poupou, antes o entregou por todos nós, como nos não dará também com ele todas as coisas? Quem intentará acusação contra os escolhidos de Deus? É Deus quem os justifica. Romanos 8:31-33.
Jesus é o único Salvador. Abaixo do céu, não existe nenhum outro nome pelo qual possamos ser salvos e chegar à presença do Pai (At 5:12, Jo 3:16, 14:6).
É de dizer que Jesus foi e sempre será o único Salvador do ser humano. Isso foi decidido pela Santíssima Trindade antes da fundação do mundo. O tempo de salvação é para o homem, mas não para Deus.
Jesus Cristo é o mesmo, ontem, e hoje, e eternamente. Hebreus 13:8.
Porque há um só Deus, e um só Mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo homem. 1 Timóteo 2:5.
Adão pregou e ensinou à sua geração a ter fé e esperança na salvação de Deus. Provavelmente, uns creram e outros não, como soe acontecer, mas a pregação não deixou de ser pregado.
Noé está entre aqueles que deram continuidade à pregação do evangelho, o qual, ressaltamos, é a boa nova de salvação para todo aquele que crê, mesmo sem ter visto o Salvador Jesus, como aqueles que existiram antes de sua revelação ao mundo e aqueles que existiram depois de sua vinda e retorno ao Pai.
Disse-lhe Jesus: Porque me viste, Tomé, creste; bem-aventurados os que não viram e creram. João 20:29.
Noé pregou o evangelho durante o tempo em que construía a arca da salvação do dilúvio. É assim a Palavra:
E não perdoou ao mundo antigo, mas guardou a Noé, a oitava pessoa, o pregoeiro da justiça, ao trazer o dilúvio sobre o mundo dos ímpios, 2 Pedro 2:5.
Infelizmente, apenas sete pessoas, além dele, creram o suficiente para entrar na arca e ser salvo. Os demais ignoraram a pregação da justiça que Deus faria ao mundo, por conta de sua pecaminosidade.
Depois de Noé, Deus chamou Abraão para formar uma nova nação e proclamou que ele seria “uma bênção” para todos. É assim a Palavra:
Tu serás uma bênção. E abençoarei os que te abençoarem, e amaldiçoarei os que te amaldiçoarem; e em ti serão benditas todas as famílias da terra. Gênesis 12:2,3.
Por mim mesmo jurei, diz o Senhor: em tua descendência serão benditas todas as nações da terra; porquanto obedeceste à minha voz. Gênesis 22:16-18.
De acordo com a leitura de Paulo, essa Palavra foi o anúncio do evangelho a Abraão. Assim diz ele:
Ora, tendo a Escritura previsto que Deus havia de justificar pela fé os gentios, anunciou primeiro o evangelho a Abraão, dizendo: Todas as nações serão benditas em ti. Gálatas 3:8.
E assim foi, ao longo dos séculos, pregador após pregador, profeta, após profeta. O juízo era anunciado e as pessoas criam ou não na pregação. Muitos creram e, por isso, foram salvos por Jesus, mesmo sem havê-lo conhecido. E então, a pregação chegou aos primeiros dias desta Era, quando o Evangelho foi pregado pelo Senhor Jesus.E João, ouvindo no cárcere falar dos feitos de Cristo, enviou dois dos seus discípulos, a dizer-lhe: És tu aquele que havia de vir, ou esperamos outro? E Jesus, respondendo, disse-lhes: Ide, e anunciai a João as coisas que ouvis e vedes: Os cegos vêem, e os coxos andam; os leprosos são limpos, e os surdos ouvem; os mortos são ressuscitados, e aos pobres é anunciado o evangelho. Mateus 11:2-5.
O Evangelho é a boa notícia que sempre foi dada ao mundo a respeito da salvação.
Porque não me envergonho do evangelho de Cristo, pois é o poder de Deus para salvação de todo aquele que crê; primeiro do judeu, e também do grego. Romanos 1:16.
Durante todo o seu ministério físico, Jesus anunciou o evangelho. E, ao partir para o Pai, determinou aos seus discípulos que dessem continuidade à sua proclamação.

2. Fazer discípulos
Ide, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Mateus 28:19.
A mensagem de Mateus é a mesma de Marcos. Mas o entendimento de Mateus parece ser diferente do de Marcos. Como não podemos pensar em contradição no texto sagrado, o que temos de entender é que cada evangelista focalizou em um dos aspectos da missão. Assim como Jesus buscou seguidores para os seus ensinos, ele os preparou para que fossem multiplicadores do projeto missionário. Jesus não apenas pregou o evangelho da salvação. Ele fez discípulos. E esse é o segundo  aspecto da missão. Não basta pregar o evangelho; é preciso fazer discípulos.
As pessoas até poderão ser salvas apenas ouvindo a pregação do evangelho. Mas ser discípulo é mais do que ser salvo. Alguém pode ser salvo e não se tornar discípulo. No entanto, o Evangelho precisa de discípulos que o preguem, que o disseminem e o espalhem por toda a Terra.
Porque todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo.Como, pois, invocarão aquele em quem não creram? e como crerão naquele de quem não ouviram? e como ouvirão, se não há quem pregue? E como pregarão, se não forem enviados?  como está escrito: Quão formosos os pés dos que anunciam o evangelho de paz; dos que trazem alegres novas de boas coisas. Mas nem todos têm obedecido ao evangelho; pois Isaías diz: Senhor, quem creu na nossa pregação? De sorte que a fé é pelo ouvir, e o ouvir pela palavra de Deus. Romanos 10:13-17.

3. Ser testemunha
E ser-me-eis testemunhas, tanto em Jerusalém como em toda Judeia e Samaria, e até aos confins da terra. Atos 1:8.
A testemunha é a pessoa que fala a respeito do que sabe, do que viu e ouviu diretamente, do que experimentou. É imprescindível que a testemunha fale a verdade, principalmente, porque quando ela falar, os seus ouvintes a julgarão. E, se perceberem que está mentindo ou falseando a verdade, não somente cairá em descrédito, como também poderá desacreditar outras testemunhas. Todo crente que conheceu a Verdade e foi por ela liberto, pode e deve falar sobre como se deu essa libertação pessoal. Jesus é a Verdade.
Disse Jesus: Eu sou o caminho, e a verdade e a vida; ninguém vem ao Pai, senão por mim. João 14:6.
E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará. João 8:32.
Nós, os que vivemos neste século, não vimos Jesus face a face. Não somos testemunhas oculares de seus feitos iniciais. No entanto, os feitos de Jesus continuarem desde aquela época até os dias atuais. Jesus continuou salvando pessoas que estavam condenadas à morte, ao sofrimento e à perdição eterna.
Os discípulos de Jesus difundiram o amor de seu Mestre enquanto viveram. Espalharam a boa nova e milhares de pessoas foram salvas. Mas, se os primeiros discípulos não tivessem feito outros discípulos e se não tivessem ensinado aos mesmos a importância de dizerem o que tinha acontecido com cada um, o evangelho teria se extinguido da face da Terra e hoje todos estariam irremediavelmente perdidos.
É de destacar que, ao falarmos sobre a nossa libertação por Cristo, estaremos testemunhando sobre como a sua  palavra se cumpriu em nossa vida. E isso é extremamente necessário para a sobrevivência do plano de salvação. O nosso testemunho é uma pregação concreta e real sobre a salvação e é tão ou até mais importante do que o falar de Jesus através da Bíblia, que é Palavra inspirada que fala a seu respeito.
Examinais as Escrituras, porque vós cuidais ter nelas a vida eterna, e são elas que de mim testificam. João 5:39.
É certo que um testemunho não exclui o outro. O teórico não exclui o real e vice-versa. Eles se complementam. Dessa forma, quando eu prego sobre um texto bíblico, devo destacar sobre como esse texto se concretizou em minha vida.
É comum de se ver, ouvir e ler extensas pregações embasadas nos ensinamentos de Jesus. Mas o pregador nem sempre fala de sua própria experiência. Ele não deixa claro como Jesus Cristo o libertou e o transformou. Não devemos ter vergonha de dizer quem éramos e em quem nos tornamos. É isso que fará com que as pessoas creem que Jesus pode, realmente, transformá-las em novas criaturas, nascidas da água e do Espírito.
A Palavra de Deus é a água que nos lava a alma da sujeira do pecado, pela indução do Espírito, que nos levará a trilhar o Caminho da Vida e a fugir do caminho da morte.
Por outro lado, é de destacar o aspecto geográfico do ato de testemunhar. Jesus disse que deveríamos ser testemunhas “tanto em Jerusalém como em toda Judeia e Samaria, e até aos confins da terra” (Atos 1:8). Há um entendimento hermenêutico de que Jerusalém é o mais próximo de nós, Judeia é o nosso entorno imediato, Samaria é o entorno mais remoto e os confins da Terra, as regiões mais distantes de nós. Eu poderia dizer que Jerusalém é minha família, a Judeia são meus parentes, a Samaria o meu entorno imediato e os confins, as regiões mais distantes de mim. Jerusalém poderia ser minha família e minha região (Poxoréu), a Judeia poderia ser os municípios de Mato Grosso, a Samaria poderia ser os Estados vizinhos de Mato Grosso e os confins poderia ser tudo o que está além dos limites de nossos confrontantes, como o Amazonas, Minas Gerais, Tocantins, São Paulo e etc.
É interessante compreender a Geografia. É de ver que se Poxoréu é Jerusalém para mim e o Amazonas é os confins da Terra, o contrário também é verdadeiro. Para quem mora lá no Amazonas, o Amazonas é sua Jerusalém e nós somos os confins da Terra.
Jesus não disse que cada um de nós deveria testemunhar em todos os lugares da Terra. Ele disse que seus discípulos deveriam fazer isso. E o que é interessante nesse caso é que, se cada um de nós testemunhar em sua Jerusalém, o testemunho chegará aos confins da Terra. Esse é o nosso trabalho missionário: testemunhar em nossa Jerusalém. Cada um deve testemunhar em seu local. Esse é o mandamento individual que nem sempre percebemos e que tem feito muitos ignorarem os que estão no seu entorno para irem para longe de seu lugar. Jesus não saiu de seu mundo. Ele não foi aos confins da Terra. Ele trabalhou com pessoas que estavam em seu mundo e que eram dos confins. Paulo era romano. Então, que fosse aos romanos. Paulo se encontrou com Lucas, que era grego. Então, que Lucas fosse aos gregos. O gadareno queria sair de Gadara e ir com Cristo para a Judeia, mas Jesus foi incisivo em dizer-lhe que fosse para os seus.
E aquele homem, de quem haviam saído os demônios, rogou-lhe que o deixasse estar com ele; mas Jesus o despediu, dizendo: Torna para tua casa, e conta quão grandes coisas te fez Deus. E ele foi apregoando por toda a cidade quão grandes coisas Jesus lhe tinha feito. Lucas 8:38, 39.

Conclusão
Essa é a mensagem de Jesus para nós, os seus discípulos, enquanto missionários, que todos somos: Ide, pregai o evangelho a toda a criatura, fazei discípulo de todas as nações, ensinando-os a guardar as coisas que vos tenho mandado, enquanto testemunham de tudo o que viram e ouviram, mas, principalmente, do que cada um tem experimentado.
Muitos têm buscado fugir de sua responsabilidade para com os seus e se oferecido para ir além. Isso é deturpar a Palavra. A ordem de Jesus para cada um de nós, individualmente, é que cumpramos a missão junto aos nossos. Os confins da Terra serão alcançados pelo efeito dominó, vindo e indo de todas as bandas e não por missionários que visitam as terras estrangeiras de vez em quando e que, quando muito pregam o evangelho, mas que não fazem discípulos e cujo testemunho mais forte é o de que deixou a sua família, o seu povo e o seu país para estar ali, como se isso fosse uma grande demonstração de amor, quando, muito pelo contrário, tal testemunho somente prova o ato de desamor do missionário por seus familiares, sua gente e seu país.
A ordem de Jesus é cumprir a missão partindo dos seus e somente avançar quando tiver sido cumprida. Devemos seguir no passo a passo, para que todos sejam atingidos. E não apenas pregando, mas ensinando teórica e praticamente, fazendo discípulos e testemunhando de nossa transformação, principalmente com o nosso viver exemplificativo.
Que Deus nos ajude a compreender qual é a nossa verdadeira missão como crente em Jesus Cristo, nosso Senhor.


Um comentário:

Ivon Pereira da Silva disse...

Meditar no seus artigos alonga nosso ver e nos aproxima do discernimento necessário da compreensão da verdade Bíblica.