O
tríplice aspecto da missão
Izaias
Resplandes de Sousa
Introdução
A
missão do crente, em relação ao seu tríplice aspecto, registrado
pelos evangelistas Marcos, Mateus e Lucas, compreende o ato de pregar
o evangelho em si, o fazer discípulos e o testemunhar a respeito de
Cristo, sempre seguindo as orientações do Espírito Santo, o qual,
verdadeiramente, é aquele que faz essa obra de edificação da
Igreja. O crente é apenas um instrumento físico dele, ou seja, suas
mãos, seus pés, sua boca e demais órgãos materiais. Através do
crente, Deus fala com o mundo e com as pessoas, de um modo geral e,
com os seus filhos, de um modo particular. A Bíblia diz que Deus tem
falado aos homens, muitas vezes e de muitas maneiras. E nesse falar,
com certeza, nunca deixou de usar os instrumentos humanos de que
dispunha.
Havendo
Deus antigamente falado muitas vezes, e de muitas maneiras, aos pais,
pelos profetas, a nós falou-nos nestes últimos dias pelo Filho.
Hebreus
1:1.
1.
Pregar o Evangelho
Ide
por todo o mundo, pregai o evangelho a toda criatura. Marcos
16:15.
O
Evangelho é a boa nova a respeito da salvação e que desde o começo
do mundo foi pregado aos homens. O próprio Deus fez o primeiro
anúncio, o proto-evangelho, para os primeiros pais, quando do
julgamento da serpente por haver enganado Eva. É assim a Palavra:
Então
o Senhor Deus disse à serpente: Porquanto fizeste isto, maldita
serás mais que toda a fera, e mais que todos os animais do campo;
sobre o teu ventre andarás, e pó comerás todos os dias da tua
vida. E porei inimizade entre ti e a mulher, e entre a tua semente e
a sua semente; esta te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o
calcanhar. Gênesis
3:14,15.
O
descendente da mulher era Jesus, aquele que viria ao mundo em forma
humana para “salvar o seu povo dos seus pecados” (Mateus 1:21). É
possível que Adão e Eva tenham crido na Palavra de Deus, pois já
tinham várias evidências concretas de que tudo o que Deus dizia,
realmente acontecia. E, se tiverem crido na salvação de Deus, mesmo
sem saber que Jesus seria o Salvador, eles foram justificados de seus
pecados por conta de sua fé. E, bem assim, todos aqueles que creram
e viveram na esperança da salvação de Deus, mesmo sem saber que o
Salvador seria o Deus Filho Unigênito Jesus Cristo.
Tendo
sido, pois, justificados pela fé, temos paz com Deus, por nosso
Senhor Jesus Cristo. Romanos
5:1.
A
Palavra diz que Deus justifica a “todos nós”, o passado, do
presente e do futuro, por meio de Jesus.
Que
diremos, pois, a estas coisas? Se Deus é por nós, quem será contra
nós? Aquele que nem mesmo a seu próprio Filho poupou, antes o
entregou por todos nós, como nos não dará também com ele todas as
coisas? Quem intentará acusação contra os escolhidos de Deus? É
Deus quem os justifica. Romanos
8:31-33.
Jesus
é o único Salvador. Abaixo do céu, não existe nenhum outro nome
pelo qual possamos ser salvos e chegar à presença do Pai (At 5:12,
Jo 3:16, 14:6).
É
de dizer que Jesus foi e sempre será o único Salvador do ser
humano. Isso foi decidido pela Santíssima Trindade antes da fundação
do mundo. O tempo de salvação é para o homem, mas não para Deus.
Jesus
Cristo é o mesmo, ontem, e hoje, e eternamente. Hebreus
13:8.
Porque
há um só Deus, e um só Mediador entre Deus e os homens, Jesus
Cristo homem. 1
Timóteo 2:5.
Adão
pregou e ensinou à sua geração a ter fé e esperança na salvação
de Deus. Provavelmente, uns creram e outros não, como soe acontecer,
mas a pregação não deixou de ser pregado.
Noé
está entre aqueles que deram continuidade à pregação do
evangelho, o qual, ressaltamos, é a boa nova de salvação para todo
aquele que crê, mesmo sem ter visto o Salvador Jesus, como aqueles
que existiram antes de sua revelação ao mundo e aqueles que
existiram depois de sua vinda e retorno ao Pai.
Disse-lhe
Jesus: Porque me viste, Tomé, creste; bem-aventurados os que não
viram e creram. João
20:29.
Noé
pregou o evangelho durante o tempo em que construía a arca da
salvação do dilúvio. É assim a Palavra:
E
não perdoou ao mundo antigo, mas guardou a Noé, a oitava pessoa, o
pregoeiro da justiça, ao trazer o dilúvio sobre o mundo dos ímpios,
2
Pedro 2:5.
Infelizmente,
apenas sete pessoas, além dele, creram o suficiente para entrar na
arca e ser salvo. Os demais ignoraram a pregação da justiça que
Deus faria ao mundo, por conta de sua pecaminosidade.
Depois
de Noé, Deus chamou Abraão para formar uma nova nação e proclamou
que ele seria “uma bênção” para todos. É assim a Palavra:
Tu
serás uma bênção. E abençoarei os que te abençoarem, e
amaldiçoarei os que te amaldiçoarem; e em ti serão benditas todas
as famílias da terra. Gênesis
12:2,3.
Por
mim mesmo jurei, diz o Senhor: em tua descendência serão benditas
todas as nações da terra; porquanto obedeceste à minha voz.
Gênesis
22:16-18.
De
acordo com a leitura de Paulo, essa Palavra foi o anúncio do
evangelho a Abraão. Assim diz ele:
Ora,
tendo a Escritura previsto que Deus havia de justificar pela fé os
gentios, anunciou primeiro o evangelho a Abraão, dizendo: Todas as
nações serão benditas em ti. Gálatas
3:8.
E
assim foi, ao longo dos séculos, pregador após pregador, profeta,
após profeta. O juízo era anunciado e as pessoas criam ou não na
pregação. Muitos creram e, por isso, foram salvos por Jesus, mesmo
sem havê-lo conhecido. E então, a pregação chegou aos primeiros
dias desta Era, quando o Evangelho foi pregado pelo Senhor Jesus.E
João, ouvindo no cárcere falar dos feitos de Cristo, enviou dois
dos seus discípulos, a dizer-lhe: És tu aquele que havia de vir, ou
esperamos outro? E Jesus, respondendo, disse-lhes: Ide, e anunciai a
João as coisas que ouvis e vedes: Os cegos vêem, e os coxos andam;
os leprosos são limpos, e os surdos ouvem; os mortos são
ressuscitados, e aos pobres é anunciado o evangelho. Mateus
11:2-5.
O
Evangelho é a boa notícia que sempre foi dada ao mundo a respeito
da salvação.
Porque
não me envergonho do evangelho de Cristo, pois é o poder de Deus
para salvação de todo aquele que crê; primeiro do judeu, e também
do grego. Romanos
1:16.
Durante
todo o seu ministério físico, Jesus anunciou o evangelho. E, ao
partir para o Pai, determinou aos seus discípulos que dessem
continuidade à sua proclamação.
2.
Fazer discípulos
Ide,
fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai,
e do Filho, e do Espírito Santo. Mateus
28:19.
A
mensagem de Mateus é a mesma de Marcos. Mas o entendimento de Mateus
parece ser diferente do de Marcos. Como não podemos pensar em
contradição no texto sagrado, o que temos de entender é que cada
evangelista focalizou em um dos aspectos da missão. Assim como Jesus
buscou seguidores para os seus ensinos, ele os preparou para que
fossem multiplicadores do projeto missionário. Jesus não apenas
pregou o evangelho da salvação. Ele fez discípulos. E esse é o
segundo aspecto da missão. Não basta pregar o evangelho; é
preciso fazer discípulos.
As
pessoas até poderão ser salvas apenas ouvindo a pregação do
evangelho. Mas ser discípulo é mais do que ser salvo. Alguém pode
ser salvo e não se tornar discípulo. No entanto, o Evangelho
precisa de discípulos que o preguem, que o disseminem e o espalhem
por toda a Terra.
Porque
todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo.Como, pois,
invocarão aquele em quem não creram? e como crerão naquele de quem
não ouviram? e como ouvirão, se não há quem pregue? E como
pregarão, se não forem enviados? como está escrito: Quão
formosos os pés dos que anunciam o evangelho de paz; dos que trazem
alegres novas de boas coisas. Mas nem todos têm obedecido ao
evangelho; pois Isaías diz: Senhor, quem creu na nossa pregação?
De sorte que a fé é pelo ouvir, e o ouvir pela palavra de Deus.
Romanos
10:13-17.
3.
Ser testemunha
E
ser-me-eis testemunhas, tanto em Jerusalém como em toda Judeia e
Samaria, e até aos confins da terra. Atos
1:8.
A
testemunha é a pessoa que fala a respeito do que sabe, do que viu e
ouviu diretamente, do que experimentou. É imprescindível que a
testemunha fale a verdade, principalmente, porque quando ela falar,
os seus ouvintes a julgarão. E, se perceberem que está mentindo ou
falseando a verdade, não somente cairá em descrédito, como também
poderá desacreditar outras testemunhas. Todo crente que conheceu a
Verdade e foi por ela liberto, pode e deve falar sobre como se deu
essa libertação pessoal. Jesus é a Verdade.
Disse
Jesus: Eu sou o caminho, e a verdade e a vida; ninguém vem ao Pai,
senão por mim. João
14:6.
E
conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará. João
8:32.
Nós,
os que vivemos neste século, não vimos Jesus face a face. Não
somos testemunhas oculares de seus feitos iniciais. No entanto, os
feitos de Jesus continuarem desde aquela época até os dias atuais.
Jesus continuou salvando pessoas que estavam condenadas à morte, ao
sofrimento e à perdição eterna.
Os
discípulos de Jesus difundiram o amor de seu Mestre enquanto
viveram. Espalharam a boa nova e milhares de pessoas foram salvas.
Mas, se os primeiros discípulos não tivessem feito outros
discípulos e se não tivessem ensinado aos mesmos a importância de
dizerem o que tinha acontecido com cada um, o evangelho teria se
extinguido da face da Terra e hoje todos estariam irremediavelmente
perdidos.
É
de destacar que, ao falarmos sobre a nossa libertação por Cristo,
estaremos testemunhando sobre como a sua palavra se cumpriu em
nossa vida. E isso é extremamente necessário para a sobrevivência
do plano de salvação. O nosso testemunho é uma pregação concreta
e real sobre a salvação e é tão ou até mais importante do que o
falar de Jesus através da Bíblia, que é Palavra inspirada que fala
a seu respeito.
Examinais
as Escrituras, porque vós cuidais ter nelas a vida eterna, e são
elas que de mim testificam. João
5:39.
É
certo que um testemunho não exclui o outro. O teórico não exclui o
real e vice-versa. Eles se complementam. Dessa forma, quando eu prego
sobre um texto bíblico, devo destacar sobre como esse texto se
concretizou em minha vida.
É
comum de se ver, ouvir e ler extensas pregações embasadas nos
ensinamentos de Jesus. Mas o pregador nem sempre fala de sua própria
experiência. Ele não deixa claro como Jesus Cristo o libertou e o
transformou. Não devemos ter vergonha de dizer quem éramos e em
quem nos tornamos. É isso que fará com que as pessoas creem que
Jesus pode, realmente, transformá-las em novas criaturas, nascidas
da água e do Espírito.
A
Palavra de Deus é a água que nos lava a alma da sujeira do pecado,
pela indução do Espírito, que nos levará a trilhar o Caminho da
Vida e a fugir do caminho da morte.
Por
outro lado, é de destacar o aspecto geográfico do ato de
testemunhar. Jesus disse que deveríamos ser testemunhas “tanto
em Jerusalém como em toda Judeia e Samaria, e até aos confins da
terra” (Atos 1:8).
Há um entendimento hermenêutico de que Jerusalém é o mais próximo
de nós, Judeia é o nosso entorno imediato, Samaria é o entorno
mais remoto e os confins da Terra, as regiões mais distantes de nós.
Eu poderia dizer que Jerusalém é minha família, a Judeia são meus
parentes, a Samaria o meu entorno imediato e os confins, as regiões
mais distantes de mim. Jerusalém poderia ser minha família e minha
região (Poxoréu), a Judeia poderia ser os municípios de Mato
Grosso, a Samaria poderia ser os Estados vizinhos de Mato Grosso e os
confins poderia ser tudo o que está além dos limites de nossos
confrontantes, como o Amazonas, Minas Gerais, Tocantins, São Paulo e
etc.
É
interessante compreender a Geografia. É de ver que se Poxoréu é
Jerusalém para mim e o Amazonas é os confins da Terra, o contrário
também é verdadeiro. Para quem mora lá no Amazonas, o Amazonas é
sua Jerusalém e nós somos os confins da Terra.
Jesus
não disse que cada um de nós deveria testemunhar em todos os
lugares da Terra. Ele disse que seus discípulos deveriam fazer isso.
E o que é interessante nesse caso é que, se cada um de nós
testemunhar em sua Jerusalém, o testemunho chegará aos confins da
Terra. Esse é o nosso trabalho missionário: testemunhar em nossa
Jerusalém. Cada um deve testemunhar em seu local. Esse é o
mandamento individual que nem sempre percebemos e que tem feito
muitos ignorarem os que estão no seu entorno para irem para longe de
seu lugar. Jesus não saiu de seu mundo. Ele não foi aos confins da
Terra. Ele trabalhou com pessoas que estavam em seu mundo e que eram
dos confins. Paulo era romano. Então, que fosse aos romanos. Paulo
se encontrou com Lucas, que era grego. Então, que Lucas fosse aos
gregos. O gadareno queria sair de Gadara e ir com Cristo para a
Judeia, mas Jesus foi incisivo em dizer-lhe que fosse para os seus.
E
aquele homem, de quem haviam saído os demônios, rogou-lhe que o
deixasse estar com ele; mas Jesus o despediu, dizendo: Torna para tua
casa, e conta quão grandes coisas te fez Deus. E ele foi apregoando
por toda a cidade quão grandes coisas Jesus lhe tinha feito. Lucas
8:38, 39.
Conclusão
Essa
é a mensagem de Jesus para nós, os seus discípulos, enquanto
missionários, que todos somos: Ide, pregai o evangelho a toda a
criatura, fazei discípulo de todas as nações, ensinando-os a
guardar as coisas que vos tenho mandado, enquanto testemunham de tudo
o que viram e ouviram, mas, principalmente, do que cada um tem
experimentado.
Muitos
têm buscado fugir de sua responsabilidade para com os seus e se
oferecido para ir além. Isso é deturpar a Palavra. A ordem de Jesus
para cada um de nós, individualmente, é que cumpramos a missão
junto aos nossos. Os confins da Terra serão alcançados pelo efeito
dominó, vindo e indo de todas as bandas e não por missionários que
visitam as terras estrangeiras de vez em quando e que, quando muito
pregam o evangelho, mas que não fazem discípulos e cujo testemunho
mais forte é o de que deixou a sua família, o seu povo e o seu país
para estar ali, como se isso fosse uma grande demonstração de amor,
quando, muito pelo contrário, tal testemunho somente prova o ato de
desamor do missionário por seus familiares, sua gente e seu país.
A
ordem de Jesus é cumprir a missão partindo dos seus e somente
avançar quando tiver sido cumprida. Devemos seguir no passo a passo,
para que todos sejam atingidos. E não apenas pregando, mas ensinando
teórica e praticamente, fazendo discípulos e testemunhando de nossa
transformação, principalmente com o nosso viver exemplificativo.
Que
Deus nos ajude a compreender qual é a nossa verdadeira missão como
crente em Jesus Cristo, nosso Senhor.