domingo, 6 de janeiro de 2008

Limites

Izaias Resplandes
“Segui a paz com todos e a santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor” (Hb 12:14). Todos os homens precisam de limites para que possam viver em paz uns com os outros. Thomas Hobbes (foto), filósofo inglês, no Leviathan, datado de 1651, defendia que a primeira lei natural do homem é a autopreservação, o que o induz a impor-se sobre os demais, o que faria da vida, uma guerra de todos contra todos, na qual o homem seria o lobo do homem. Nesse sentido, para que pudesse exercer os seus direitos, o homem abriria mão de parte deles em favor da autoridade constituída, para que esta lhe garantisse a possibilidade de usufruir plenamente dos demais direitos.
A princípio, a idéia de um homem “lobo-mau” pode nos parecer estranha. Mas se aprofundarmos no estudo das Escrituras a respeito do homem, com certeza teremos uma outra posição. Vejamos.
Em Gn 8:21, ao fim do dilúvio, quando a vida na terra fora destruída, Deus Pai afirma que os desígnios do homem são maus. “E o SENHOR aspirou o suave cheiro e disse consigo mesmo: Não tornarei a amaldiçoar a terra por causa do homem, porque é mau o desígnio íntimo do homem desde a sua mocidade; nem tornarei a ferir todo vivente, como fiz”.
Em Mt 7:11, ao fazer seu famoso sermão, Jesus também afirma que os homens são maus. Podem até fazer boas coisas, mas são maus! “Ora, se vós, que sois maus, sabeis dar boas dádivas aos vossos filhos, quanto mais vosso Pai, que está nos céus, dará boas coisas aos que lhe pedirem?”
Por último, podemos citar o apóstolo Paulo em Rm 3:10-17, onde ele faz uma descrição minuciosa do homem, da cabeça aos pés, por dentro e por fora. Diz ele: “Não há justo, nem um sequer, não há quem entenda, não há quem busque a Deus; todos se extraviaram, à uma se fizeram inúteis; não há quem faça o bem, não há nem um sequer. A garganta deles é sepulcro aberto; com a língua, urdem engano, veneno de víbora está nos seus lábios, a boca, eles a têm cheia de maldição e de amargura; são os seus pés velozes para derramar sangue, nos seus caminhos, há destruição e miséria; desconheceram o caminho da paz”.
Esse é o homem natural transformado pelo pecado, o qual inibiu e abafou a natureza divina do homem, enfatizando a sua natureza animal, muito parecida com a do lobo. Destarte, somente a paz pode canalizar a possibilidade de uma convivência harmônica entre os homens. E todos são sabedores do quanto tem sido difícil obtê-la. Quantas guerras! Quantas mortes! Quantos crimes! A maldade humana não conhece LIMITES. Mas, com certeza, precisa deles por demais. Se não houver limites, jamais haverá paz.
É costume ouvir que o direito de um termina onde começa o do outro. Mas quem garante isso? O Estado? Sabemos quão impotente essa instituição tem sido para resolver os conflitos humanos. Mas, sem dúvida alguma é um dos responsáveis por essa questão. A autoridade humana foi constituída por Deus, também para esse fim, conforme se pode depreender de Rm 13:3-4. “Porque os magistrados não são para temor, quando se faz o bem, e sim quando se faz o mal. Queres tu não temer a autoridade? Faze o bem e terás louvor dela, visto que a autoridade é ministro de Deus para teu bem. Entretanto, se fizeres o mal, teme; porque não é sem motivo que ela traz a espada; pois é ministro de Deus, vingador, para castigar o que pratica o mal”.
A verdade é que o plano de pacificação do homem foi engendrado pela própria Trindade, antes da fundação do mundo. Em Ef 1:3-4, Paulo faz a declaração a respeito dessa intenção de Deus em prol do homem, com o fim de torná-lo irrepreensível, reconhecedor e respeitador dos direitos do seu próximo. “Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo que... nos escolheu nele antes da fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis perante ele”.
Jesus veio ao mundo para executar esse plano de paz, principalmente porque também havia uma animosidade entre o homem e Deus. Ambos eram inimigos. Isaías registra no capítulo 53:5 de seu livro a profecia a respeito da morte de Jesus para que os homens pudessem ter paz. Diz ele: “Mas ele foi traspassado pelas nossas transgressões e moído pelas nossas iniqüidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados”. Posteriormente, o evangelista João registra no capítulo 14:27 de seu evangelho, as palavras de Jesus a respeito do assunto. Segundo ele, o Mestre disse aos seus discípulos: “Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou; não vo-la dou como a dá o mundo. Não se turbe o vosso coração, nem se atemorize”.
Vê-se, assim, o litígio estabelecido e o plano para restabelecer a paz entre Deus e os homens e, evidentemente, entre os homens entre si também. E para que tudo chegue a um bom termo, basta uma só palavrinha: LIMITES! Sem limites não há paz! Um dia, quando já estiver no Reino de Deus, não haverá mais a necessidade de se falar sobre esse assunto, uma vez que então o homem terá atingido a perfeição e viverá naturalmente dentro dos limites que lhe foram estabelecidos por Jesus, o Senhor, a quem Deus Pai entregará o domínio total de todo o Universo. Em Fp 2: 9-11, Paulo nos diz de Jesus, que “Deus o exaltou sobremaneira e lhe deu o nome que está acima de todo nome, para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho, nos céus, na terra e debaixo da terra, e toda língua confesse que Jesus Cristo é Senhor, para glória de Deus Pai”.
No céu haverá perfeição, mas até que cheguemos lá, devemos conhecer e andar segundo os limites estabelecidos diretamente por Deus, através de sua Palavra e, indiretamente, através de suas autoridades constituídas.
Nesse sentido, devemos obedecer aos princípios bíblicos e andar de acordo com eles. Jesus falou sobre isso e, certa vez, ao término de seu ensino, fez a conclusão pedagógica segundo a qual, devemos buscar aprender as coisas para pô-las em prática. Não há nenhum sentido em aprender por aprender. A verdade é que Deus sequer nos revela a sabedoria se o nosso propósito for o de simplesmente criar confusão. A sabedoria da vida e da paz é revelada para aquele que deseja tais conquistas. Então Jesus disse: “Ora, se sabeis estas coisas, bem-aventurados sois se as praticardes” (Jo 13:17).
Sempre proclamamos o grande princípio da licitude. Todavia, também sempre tivemos a responsabilidade de destacar os seus corolários da conveniência, do domínio e da edificação. “Todas as coisas me são lícitas, mas nem todas convêm. Todas as coisas me são lícitas, mas eu não me deixarei dominar por nenhuma delas” (1 Co 6:12). “Todas as coisas são lícitas, mas nem todas convêm; todas são lícitas, mas nem todas edificam” (1 Co 10:23).
Os corolários são as conseqüências que seguem os princípios. Eu posso fazer tudo, desde que eu atenda a conveniência cristã, exerça o domínio sobre a referida prática e com ela esteja contribuindo para a minha edificação, bem como a de meu próximo e a de toda a igreja. É de saber que estamos no mundo para dar continuidade à missão iniciada pelo nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. Destarte, temos limites para as nossas ações, principalmente porque não somos cabeça, mas membros. Que não esqueçamos disso. Jesus é a cabeça que comanda, dirige e estabelece as conveniências e não nós. Os nossos limites de liberdade vão apenas até os limites da grande missão.
Que Deus nos abençoe e nos ajude a compreender e a andar pelos limites que Ele mesmo estabeleceu para nós desde a fundação do mundo.

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