A verdade
“Conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará” (João 8:32).
“Fale a verdade”, sempre me dizia o meu pai. Eu cresci com isso. A questão é que, na medida em que fui crescendo, também fui aprendendo que a verdade, pelo menos na dimensão possível dos mortais, nunca é absoluta, mas sempre relativa. Lendo a Bíblia e crendo no que ela diz, podemos ver que isso não se aplica à divindade. Deus é onisciente (Salmos 139) e é o Senhor de todos os saberes e verdades que nós não sabemos explicar. Quanto a nós, os homens, sempre seremos senhores de meias verdades, embora creiamos que um dia, quando estivermos para sempre na presença dele, que é a verdade (João 14:6) e formos perfeitos como Ele, também haveremos de saber tudo, embora esse saber tudo também seja decorrente de nossa interpretação da palavra que diz: “Amados, agora somos filhos de Deus, e ainda não é manifestado o que havemos de ser. Mas sabemos que, quando ele se manifestar, seremos semelhantes a ele; porque assim como é o veremos” (1 João 3:2).
Quando fazemos nossas leituras históricas sobre a humanidade, fica bem mais fácil de compreender a relatividade de nosso conhecimento e o quanto nós defendemos o engano, cometemos injustiças e erros em nossos julgamentos, et cetera e tal. Apenas para citar um exemplo… Durante centenas de anos, a humanidade acreditava e ensinava que a Terra era o centro do universo e que tudo girava em torno dela, nos termos da teoria do geocentrismo, de Aristóteles (325 a.C.) e Cláudio Ptolomeu (150, A.D.). E então, o secular o espiritual ensinavam essa verdade. Depois, Nicolau Copérnico (em 1543), com o seu heliocentrismo, descobriu que não era assim e que a Terra e outros planetas conhecidos em nosso sistema girava em torno de um círculo perfeito em torno do sol e que este é que seria o centro do universo. Aí, o secular e o espiritual passaram a ensinar essa verdade, a qual hoje sabemos que também era uma meia verdade, pois é certo que a Terra e alguns planetas giram em torno do sol, mas o sol não está no centro de um círculo perfeito e ele também não é o centro do Universo, mas apenas o centro orbital de alguns astros da Via Lactea. A trajetória é elíptica e não circular. E por aí vai.
É de recordar que não está muito distante o tempo em que os pregadores pediam autorização às suas cúpulas decisivas para utilizar o dvd, a TV e o data show em suas pregações e ensinos; também é bem próximo o tempo em que uma mulher seria disciplinada da igreja se cortasse o cabelo, maquiasse, pintasse as unhas ou usasse calça comprida. Já cometemos muitas injustiças com irmãos em Cristo, entendendo que os mesmos estavam dando lugar ao diabo, por fazerem coisas que em nossa visão de verdade, os cristãos não poderiam fazer. Mas, fizemos e hoje não temos como voltar atrás. Em nome de nossas crenças julgamos e condenamos, impondo pesados fardos para os irmãos carregarem sob pena de serem considerados infiéis. Mas, a palavra que nós interpretamos na contramão do entendimento que levavam a essas ações, dizia: “eu quero a misericórdia, e não o sacrifício; e o conhecimento de Deus, mais do que os holocaustos” (Oséias 6:6). E Jesus chamou a atenção exatamente para essa declaração que não compreendíamos em nossos julgamentos dos demais. Ele disse: “Se vós soubésseis o que significa: Misericórdia quero, e não sacrifício, não condenaríeis os inocentes” (Mateus 12:7).
Tudo é uma questão de compreensão, de conhecimento e de saber. “Se vós soubésseis”, disse Jesus através de Mateus. E no texto registrado por João, ele disse: “e conhecereis a verdade”. No entanto, somos apressados em nossos julgamentos e tomamos decisões sem saber direito, sem conhecer tudo o que está envolvido e dessa forma erramos e não conseguimos nos libertar de nossa ignorância e vã sabedoria.
A Palavra da Verdade está ao nosso alcance. Mas a sua apropriação exige disciplina, esforço, predisposição para aprender e estudo, muito estudo. Não apenas leitura, mas estudo, esquadrinhamento, análise, observação e comparação entre as teorias escritas e o universo físico a que elas se referem. A Palavra diz: “Procura apresentar-te a Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade” (2 Timóteo 2:15). Mas não nos preocupamos com isso. Achamos que estudar é perda de tempo e que o Espírito intercederá por nós em nossas dificuldades, colocando a palavra em nossas bocas. Achamos que, como é Deus que nos salvará, não precisamos fazer nada, pois ele fará tudo. Lemos a Bíblia todo dia, mas passamos por cima de cada “Se”, condicionante, que a Palavra estabelece: “Se ouvires…”, “Se conheceres…”, “Se buscares…”, “Se fordes fiéis até o fim…” e et cetera.
A palavra diz para não julgarmos: “Não julguem, para que vocês não sejam julgados. Pois da mesma forma que julgarem, vocês serão julgados; e a medida que usarem, também será usada para medir vocês” (Mateus 7:1-2). Mas nós julgamos a todos, só não julgamos a nós mesmos. E dizemos que estamos exercitando a verdade.
A palavra diz lá no início da Bíblia, no Gênesis: E fez Deus a expansão, e fez separação entre as águas que estavam debaixo da expansão e as águas que estavam sobre a expansão; e assim foi. E chamou Deus à expansão Céus” (Gênesis 1:7,8). E nós sabemos o que são os Céus. E quem não sabe ainda, basta olhar para cima e verá uma parte dos céus, que é o firmamento, onde estão os planetas. Mas, quando interpretamos “a nossa pátria está nos céus”, já não aceitamos os Céus que Deus criou e que desde sempre abriga uma infinidade de planetas e astros de toda espécie. Aí precisa ser um céu diferente, principalmente porque algumas correntes religiosas pregam que passarão a eternidade na Terra. Interpretamos as palavras de Jesus dizendo “vou preparar-vos lugar” como um ato de criação de obra nova, quando a palavra diz que o Verbo “estava no princípio com Deus e todas as coisas foram feitas por intermédio dele” (João 1:2,3) e que “havendo Deus acabado no dia sétimo a obra que fizera, descansou no sétimo dia de toda a sua obra, que tinha feito” (Gênesis 2:2). Descansou de toda a sua obra, de toda! Tudo o que era para ser feito, já foi feito. Preparar um lugar, não significaria fazer um lugar novo, porque o lugar já poderia estar feito, mas, no caso em tela poderia significar “vou concluir a minha missão do resgate de vocês e quando concluir eu voltarei para buscá-los para vos levar, para que onde eu estiver, estejais vós também”.
Deus é onipresente. Ele está em todo lugar. O salmista diz: “Para onde me irei do teu espírito, ou para onde fugirei da tua face? Se subir ao céu, lá tu estás; se fizer no inferno a minha cama, eis que tu ali estás também” (Salmos 139:7,8). A Terra está nos céus, Marte está nos céus. Todas as galáxias estão nos céus. Por que motivo Jesus precisaria criar um outro céu para nós. É certo que se fala na transformação dos atuais céus e terra em novos céus e nova Terra. Mas e daí! Que importa em que parte dos céus vamos morar? O que importa não é o fato de que estaremos com Jesus lá, como também hoje estamos com ele aqui? Não foi ele mesmo quem disse: “eis que estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos” (Mateus 28:20) ou que o Espírito Consolador estaria “para sempre” conosco? (João 14:16). Mas, o que ocorre é que, não compreendendo as coisas, nós elaboramos um discurso que esteja de acordo com aquilo que achamos entender. E o impomos aos demais como norma. Ora, meus queridos, não deveríamos permanecer livres, se de fato Cristo nos libertou, em vez de nos escravizarmos novamente diante de meias verdades? Não deveríamos nos aplicar ao estudo profundo da palavra e aí, sim, pedir ao Espírito que nos ajude a entender e compreender para expormos aos demais, antes de fazê-lo apenas com base em nossos achismos?
Achismos! Sim! Se queremos uma verdade, eis uma verdade: nós achamos demais e estudamos de menos! Mas, diante dessa reflexão, eu digo o que devemos fazer. Que tal aplicarmos em nossa vida a orientação de Paulo: “Quanto ao mais, irmãos, tudo o que é verdadeiro, tudo o que é honesto, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, se há alguma virtude, e se há algum louvor, nisso pensai. O que também aprendestes, e recebestes, e ouvistes, e vistes em mim, isso fazei; e o Deus de paz será convosco” (Filipenses 4:8,9).
Devemos fazer o bem, viver em paz, buscar a compreensão, praticar e ensinar pelo exemplo. Poderíamos dizer assim, em nossa pregação: “segundo a compreensão que eu tenho da palavra, eu faço assim; que os irmãos também possam fazer segundo a compreensão que Deus lhes der”. Quanto ao juízo, façamos isso sempre em relação a nós mesmos. Quanto aos demais, que cada um julgue a si próprio, porque cada um dará conta de si mesmo a Deus. E para encerrar, é de saber que ao final o senhor julgará a todos nós do jeito que ele quiser e nos condenará ou perdoará, se assim desejar, porque como ele mesmo diz, será que ele não pode fazer o quiser com o que é dele? Mas, enquanto esse dia não chegar, façamos o bem a todos e ajudemos a quem pudermos para se salvarem daquilo que entenderem que precisam ser salvos, seja de coisas desse mundo, seja de coisas eternas. Amém!
Um comentário:
Muito bom! Concordo plenamente.
Postar um comentário