Minha vida espiritual
Izaias Resplandes de Sousa
Meu nome é Izaias Resplandes de Sousa. Sou filho de Marcelino Argemiro de Sousa (que já está na glória de Deus) e de Maria Resplandes de Sousa, que está com 80 anos de idade e mora em Primavera do Leste, MT. Sou esposo de Maria de Lourdes Resplandes, com quem me casei em 19 de janeiro de 1985. Ela e eu somos pais de Fernando, Mariza e Ricardo Resplandes e avós de Davi, Arthur e Paulo Ricardo. Tive 13 irmãos, dos quais dois já são falecidos.
Meus pais se separaram em março de 1964, quando eu ainda tinha 6 anos incompletos. E meus três irmãos e eu ficamos com meu pai, o qual, do ponto de vista espiritual, nos criou segundo suas crenças católicas mais básicas. Não éramos pessoas de uma fé fervorosa. Participávamos das atividades da Igreja nos tempos de festas, de um modo geral e decorávamos as afirmações do Catecismo na Escola. Nossa vida com Deus era bastante superficial.
Da separação de meus pais até os meus 18 anos de idade, eu vi minha mãe apenas umas quatro vezes, mais ou menos, quando ela nos procurou. Somente aos 18 anos é que eu fui ao encontro dela. Então, passei o mês de julho de 1976 com ela, em Rondonópolis, MT, na Fazenda do Ajato, onde ela, irmão Erasmo (seu marido) e os meus irmãos Vildacy e Enivaldo viviam. Nessa época, minha mãe me presenteou com uma Bíblia. Posso dizer que esse foi o primeiro contato espiritual que tive depois do catecismo. Ali onde moravam, eles participavam de reuniões quase todos os dias com os irmãos da Igreja Assembleia de Deus. E eu ia junto. Inclusive, aprendi a cantar muitos hinos com eles e cantava também. Foi um mês em que tive intensos contatos com a Palavra de Deus e com a vida cristã evangélica. Acabaram-se as férias e eu voltei para Goiânia, GO.
Em 1977, trazendo comigo o meu irmão Antônio Resplandes de Sousa, voltei a Rondonópolis, MT, com a intenção de passar mais um tempo com mamãe. Mas fomos pegos de surpresa. Quando chegamos à Igreja Evangélica Neotestamentária de Rondonópolis, fomos informados pela irmã Mildred Paulo, que nossa mãe se mudara para o “Rio das Mortes”. Ela nos deu breves explicações de onde ficava o tal lugar, que ela, mesma, não sabia direito onde ficava. Só sabia que era para as bandas de Poxoréu, MT. Disse que, em Poxoréu, tinha um motorista de caminhão por nome João Poxoréu e que este sabia onde ficava o lugar para onde minha mãe se mudara, pois, normalmente, as pessoas que iam para lá, viajavam com ele.
Ficamos em uma situação difícil. Não tínhamos dinheiro para voltar para Goiânia, GO. Tampouco tínhamos dinheiro para ir até o “Rio das Mortes”. Mas, ao que tudo indicava, o “Rio das Mortes” estava mais perto do que Goiânia. E, então, nós decidimos partir em busca do tal lugar.
E partimos para Poxoréu, a pé. Três dias depois, nós estávamos com nossa mãe, na localidade denominada Corgão, que hoje é a sede do município de Santo Antônio do Leste, MT.
Entre Rondonópolis e Corgão, nós andamos a pé, de carona em cima da carga de caminhões e também a cavalo. Andamos no sol quente de rachar cuca e também em noite totalmente fria e escura, em que não enxergávamos um palmo à frente do nariz. Passamos fome e sede. Dormimos no mato. Fomos atacados por formigas saúvas. Tomamos chuva. Bebemos daquela água vermelha e barrenta, empossada no meio das estradas. Uma senhora quis atirar em nós, por conta de um mal entendido. Ficamos com os pés inchados pela caminhada. Recebemos ajuda de pessoas caridosas que nos alimentaram e nos deram abrigo. Foram raros os momentos de desentendimentos entre meu irmão Antonio e eu. Fui amparado várias vezes por ele. A jornada foi penosa, mas encontramos nossa mãe. E permanecemos seis meses com ela, sem que nosso pai soubesse onde nós estávamos, porque não dissemos para ele que iríamos atrás de nossa mãe.
Naquela época, nosso saudoso irmão Manoel Francisco Paulo, Presbítero da Igreja Evangélica Neotestamentária de Rondonópolis estava no Corgão, em visita aos meus familiares. A maioria deles havia recebido a Jesus como Senhor e Salvador, desde que minha mãe e irmão Erasmo, seu marido, se mudaram para lá, fazendo a ponte entre a Igreja de Rondonópolis e a nossa família no Corgão. E assim, nasceu a Igreja Evangélica Neotestamentária do Corgão. Os irmãos se reuniam na casa de meus tio José Sabino e Dionízia Resplandes de Carvalho.
Durante todo o tempo em que estive com eles, nós saíamos da casa de minha mãe e andávamos a pé, uns dez quilômetros, mais ou menos, para chegarmos até a casa de reuniões. Durante os seis meses que estivemos com nossa mãe, nós fizemos esse percurso juntamente com ela e irmão Erasmo.
Já numa das primeiras reuniões que assistimos no Corgão, ainda com irmão Manoel Paulo por lá, meu irmão Antônio fez sua decisão, recebendo a Jesus como seu Senhor e Salvador, de acordo com as orientações dadas pelos irmãos. Eu entendia que já tinha recebido a Jesus como Senhor e Salvador, em meu coração, e, portanto, relutava em fazer uma declaração solene sobre a mesma.
Na medida em que o tempo foi passando, eu fui compreendendo melhor o que eles queriam dizer sobre aceitar a Jesus. E assim, em Julho de 1977, eu também declarei a minha aceitação a Jesus como Salvador, na Igreja Evangélica Neotestamentária do Corgão, atual município de Santo Antônio do Leste, MT.
Me recordo que naquela ocasião em que tomei a decisão, eu ficava bastante incomodado com as dificuldades que os irmãos dali tinham para compreender e expor a Palavra de Deus. A maioria tinha dificuldade até para a simples leitura do texto. E eu pensei que, me tornando um deles, eu também poderia ajudar nessa parte.
Hoje eu sei que o Espírito Santo intercede por nós e nos auxilia em nossas fraquezas. Sei que, apesar das dificuldades de leitura que os irmãos tinham naquela época, a exposição da Palavra de Deus que eles faziam era boa. Era uma exposição simples, mas eles eram pessoas simples e a Palavra de Deus é para ser exatamente assim, simples. Nós é que costumamos complicar a exposição, introduzindo nela as nossas “profundas explicações”, as quais nem sempre são necessárias, porque também, nem sempre, todas as pessoas a quem nos dirigimos estão preparadas para ouvi-la nesse “nível de aprofundamento”.
Paulo diz em 1 Co 9:20-22 o seguinte: “E fiz-me como judeu para os judeus, para ganhar os judeus; para os que estão debaixo da lei, como se estivesse debaixo da lei, para ganhar os que estão debaixo da lei. Para os que estão sem lei, como se estivesse sem lei (não estando sem lei para com Deus, mas debaixo da lei de Cristo), para ganhar os que estão sem lei. Fiz-me como fraco para os fracos, para ganhar os fracos. Fiz-me tudo para todos, para por todos os meios chegar a salvar alguns.
A pregação deve ser adequada ao nível dos receptores. Os irmãos do Corgão eram simples, falavam para pessoas simples e com pouco conhecimento, como era o meu caso. Portanto, a mensagem estava de acordo com o que ensina a Palavra de Deus.
Por outro lado, é de ver que a maior parte das pregações que levam as pessoas a se converterem a Deus, são as pregações mais simples do Evangelho. Como a gente pode achar que pessoas que mal sabem por que e de que precisam ser salvas, possam ser capazes de compreender as nossas “profundas mensagens espirituais”?
Em agosto de 1977, Antônio e eu voltamos para Goiânia, GO. Naquele tempo, a nossa fé em Deus ainda era muito superficial. E ainda não conseguíamos transportar os montes que atrapalhavam a nossa caminhada. Não conseguimos nos desvencilhar de nosso velho homem.
Em 1979, eu comecei a frequentar a Igreja Assembleia de Deus, em Volta Redonda, no RJ, onde eu estava trabalhando.
Em novembro de 1979, voltei para Poxoréu, MT, onde permaneci um tempo com minha mãe, nos reunindo com os irmãos da Casa de Oração.
Naqueles dias, acompanhei o irmão Reinaldo Zefeld, da Casa de Oração, nas suas incursões evangelizadoras pela zona rural de Poxoréu.
Em janeiro de 1980, fui batizado pelo irmão Manoel Francisco Paulo, na barragem da Usina Hidrelétrica José Fragelli, em Poxoréu, MT.
Em 1981, mudei para Poxoréu, ingressando no DERMAT – Departamento de Estradas de Rodagem de Mato Grosso. Nessa época, conheci o irmão Isaias da Silva Almeida e sua esposa Rosangela, quando estive em Cuiabá para fazer um exame de proficiência, para ver se continuava no cargo que ocupava no DERMAT. Estava com meu irmão Argemiro Resplandes e nos hospedamos na casa deles, no bairro CPA. No dia seguinte, Isaias nos deixou no local onde íamos fazer a prova. Ele também faria uma prova para poder continuar no INDEA, onde trabalhava.
Ainda no ano de 1981, o irmão Manoel Paulo nos desafiou para começarmos os trabalhos da Igreja Evangélica Neotestamentária em Poxoréu. Nós aceitamos. E começamos a nos reunir na Mangueira, em uma casinha de chão batido, com paredes de palha, de mais ou menos 20 metros quadrados, que ficava na Chácara de Irmão Erasmo.
De 1981 a 1983, realizamos um bom movimento de evangelização na região circunvizinha da Mangueira. Chegamos a formar um bom grupo de jovens e adolescentes. Todos bastante animados. Nos cultos que fazíamos à noite, nas casas dos vizinhos, nós saíamos em fila indiana. Ainda não tínhamos energia elétrica na região. Nós levávamos um lampião a gás. O irmão Zigomar é um dos frutos dessa época.
Em fevereiro de 1983, ajudamos a organizar o I Retiro de Famílias, em Poxoréu. Atuei como Secretário, enviando as cartas com os convites para os irmãos.
Em maio de 1983, elegemos a Mesa Administrativa da Igreja. Fui escolhido para Presidi-la. Infelizmente, pouco tempo depois, entrei em conflito com as doutrinas da Igreja e me afastei do meio dos irmãos.
Onze anos depois, em maio de 1994, após um entendimento em casa, decidimos voltar a nos reunir com os irmãos, na Igreja Neotestamentária de Poxoréu, caso eles nos recebessem. Oficialmente, fomos recebidos de volta, no mês de agosto de 1994.
Desde então, temos exercido nosso ministério na Neo de Poxoréu. Aqui, já tivemos mais de trinta membros, mas, com a decadência econômica da cidade, os irmãos foram se mudando para outras localidades. Hoje, nominalmente, somos menos de dez membros e alguns, com uma frequência muito baixa. Mesmo assim, mantemos o local, onde fazemos as reuniões básicas da igreja. Além disso, também cuidamos da administração do Acampamento Rio dos Crentes, onde fazemos Retiros, desde 1983.
Isso é o que achamos importante dizer aos irmãos.
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