quarta-feira, 12 de agosto de 2020

O hábito de perdoar pecados

 

O hábito de perdoar pecados

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Izaias Resplandes de Sousa


Sei que uma das coisas mais difíceis para nós, nesse mundo, é o perdão. Nós temos muitas facilidades para acusar, para julgar e para condenar, mas temos muita dificuldade para perdoar. 

Eu creio que o maior desejo de Deus é que nós aprendamos a perdoar, a ter misericórdia, a justificar, a ajudar as pessoas a crescerem e se desenvolverem.

Ah, se vocês entendessem o que significa: "misericórdia quero e não sacrifício", disse Jesus. "Vocês não condenariam os inocentes".

Jesus perdoou aqueles que o crucificaram. Ele não os condenou. Ele disse ao Pai que eles não sabiam o que faziam. Cabe a nós seguirmos o exemplo de Jesus.

É de lembrar que em certa ocasião ele lançou esse princípio de ser um exemplo para nós em todas as áreas, dizendo: “eu vos dei o exemplo, assim como fiz a vocês, façais também uns aos outros.

Meus queridos, nós somos discípulos de Jesus. E os discípulos fazem o que faz o seu Mestre.

Examinando a jornada humana pela vida, verifiquei que nós costumamos praticar pecados individuais, coletivos ou sociais, espirituais e ambientais ou naturais, ou seja, pecados contra nós mesmos, pecados contra outras pessoas, pecados contra Deus e pecados contra a criação. A prática desses pecados pode ser consciente ou inconsciente, sabendo ou não que estamos pecando e, desejando ou não cometer o pecado.

Os pecados conscientes e desejados são mais graves. Os pecados inconscientes e não desejados, normalmente decorrem dos hábitos que desenvolvemos ao longo da vida e que se processam de forma automática.

E é de ver que, em nossa vida, nós desenvolvemos hábitos para todas as coisas. Por exemplo, nós temos o hábito de nos sentar sempre no mesmo lugar à mesa e também na igreja; temos um hábito particular de escovar os dentes do mesmo jeito todos os dias, entre tantos outros. 

Um hábito é algo que nós fazemos mecanicamente, sem pensar, sem refletir, sem analisar se está certo ou errado. Quanto mais idosos e experientes nós ficamos, mais hábitos nós desenvolvemos e mais coisas nós fazemos de forma habitual.

O problema dos hábitos é que o nosso cérebro não discerne entre os hábitos bons e os hábitos maus. E a gente faz, mecanicamente, tanto coisas boas, como coisas más.

Eu, por exemplo, tenho feito muitas coisas más, mecanicamente, como se fosse normal fazê-las. Mas, para dizer bem a verdade, eu nem pensava se o que estava fazendo era certo ou errado, eu simplesmente as fazia.

Também disse muitas coisas dessa maneira, sem reflexão. E algum tempo depois que fiz ou depois que falei, fazendo uma avaliação reflexiva, eu percebi que o que tinha feito era errado e o que tinha dito era algo que não deveria ter dito, ou que pelo menos não deveria ter sido dito da forma como eu dissera. Só que aí, Inês já era morta, o leite já fora derramado e o erro já estava consumado. Esse é o problema de fazer as coisas de improviso.

Pensando nisso, há muito tempo eu venho tentando desenvolver o hábito de escrever as minhas mensagens, objetivando falar apenas aquilo que eu escrevi previamente, que eu analisei e revisei muitas vezes, para ver se não falaria o que não deveria falar. Nessas horas, normalmente eu consulto minha esposa sobre o que eu escrevi, lendo o texto para ela. Às vezes eu faço, diretamente, as alterações que ela sugere. Em outras vezes, analiso as ideias com mais profundidade e às vezes altero, às vezes não. O meu problema nesse procedimento é que eu ainda não aperfeiçoei esse hábito. E então, eu acabo escrevendo uma página e acrescentando mais duas durante a oralidade.

E aí eu quebro as regras do tempo e falo o que não deveria ter falado, porque a oralidade facilita o uso automático dos hábitos, que, conforme já dissemos, podem ser bons ou ruins.

Assim, eu continuo cometendo erros nessa área, erros que não têm como serem corrigidos, porque já foram consumados em seus efeitos. A palavra dita não tem como ser desdita. A ação feita não tem como ser desfeita.

No entanto, os resultados podem ser amenizados, caso os interlocutores consigam relevar e perdoar. Isso é o ideal que aconteça. Não é bom que os erros sejam armazenados em nossas lembranças para o dia de amanhã.

Não se ponha o sol sobre a vossa ira.

A forma de se resolver um problema decorrente de erros de comunicação vai divergir de um caso para outro.

Muitos preferem seguir a famosa Lei de Talião, a do olho por olho, dente por dente. No tempo de Velho Testamento essa lei era muito praticada.

Já nos tempos do Novo Testamento, Jesus não recomendou essa prática. Ao invés da lei da vingança, Jesus recomendou a lei do amor e do perdão.

Se alguém te bater numa face, ofereça a outra...

Para ilustrar essa ideia, eu costumo contar a história de dois amigos que viajavam fazendo negócios por terras distantes.

E que um dia chegaram às margens de um rio, onde não havia uma ponte para atravessar. Então, enquanto os animais eram transportados pelos empregados para o outro lado através do vau, os dois amigos procuraram uma parte estreita onde o rio tinha várias pedras grandes no meio.

E, saltando de pedra, em pedra, procuraram chegar do outro lado sem se molhar. Mas aí, aconteceu que um dos amigos escorregou em uma das pedras e caiu na correnteza.

Ele teria morrido afogado, não fosse o seu amigo saltar também na correnteza e retirá-lo para fora do rio, em segurança.

Agradecido, aquele amigo que foi salvo chamou um dos empregados que sabia escrever em pedras e pediu que escrevesse numa pedra grande que havia ali margem do rio, a seguinte mensagem:

"Viajante, aqui neste lugar, meu amigo Fulano, com o risco da própria vida, me salvou da morte nas águas desse rio". E eles foram embora para outras regiões, fazendo seus negócios. E, na volta da viagem, acamparam novamente às margens do mesmo rio.

E ali, começaram a conversar sobre assuntos os mais variados, até que, em um determinado momento, começaram uma discussão besta.

E no calor da mesma, aquele amigo que havia salvado o outro da correnteza, deu um forte soco no amigo que salvara por um motivo muito fútil. E este, ao cair no chão, bateu com a cabeça numa pedra e quase morreu.

Ao melhorar, o homem se levantou do chão, chamou novamente o escrivão para que viesse gravar uma nova mensagem para ele.

E ele levou o escrivão até a mesma pedra em que estava gravada a primeira mensagem e pediu ao empregado que limpasse a areia aos pés daquela pedra e escrevesse nela a seguinte mensagem:

"Viajante, aqui neste lugar, meu amigo Fulano, de modo covarde estúpido, por um motivo fútil, me agrediu fisicamente, quase tirando a minha vida". O empregado então discutiu com seu senhor e lhe perguntou:

"Meu senhor, a mensagem na pedra ainda vai estar escrita aí por mais de 100 anos e as pessoas sempre vão pensar o bem de seu amigo, mas a mensagem na areia será apagada daqui a pouco pelo vento ou por uma onda que sair desse rio.

E ninguém mais vai se lembrar da agressão que ele fez ao senhor”. E aquele senhor lhe respondeu:

"Será que você não entendeu que é exatamente isso que eu quero, que assim como a água ou o vento rapidamente possam apagar essa mensagem escrita na areia, o meu desejo é que essa agressão também seja apagada da minha mente e do meu coração rapidamente. E que dela eu não me lembre nunca mais. No entanto, o bem que meu amigo me fez eu não quero que seja esquecido, em nenhum momento de minha existência".

É assim que nós devemos agir com relação às pessoas. Nós devemos aprender a escrever nas pedras, as coisas positivas, para que sejam sempre lembradas. E a escrever na areia, as coisas negativas, para que sejam rapidamente apagadas de nossa memória e esquecidas. Não devemos guardar em nosso coração as coisas ruins que os outros nos façam.

Devemos perdoar as pessoas que fazem coisas ruins para nós, mesmo que elas não nos peçam perdão, pois elas poderão estar fazendo esse mal sem terem noção e consciência do que estão fazendo, mecanicamente, por conta de um mau hábito desenvolvido.

Creio que a principal lição que temos que aprender sobre pecados, seja a de perdoar. E, perdoar sempre. Não importa a gravidade do pecado; não importa se a pessoa nos pediu ou não, o perdão; não importa se o pecado foi cometido contra nós ou não.

Devemos perdoar, devemos dar outra oportunidade. E outra, e outra, e outra. O número “setenta vezes sete” indicado por Jesus como a quantidade de vezes em que devemos perdoar um irmão não deve ser usado de forma isolada para tratar dos pecados individuais.

O que se aplica a uma situação individual, também pode ser aplicado a uma situação generalizada, principalmente se for para trazer benefícios. Assim, devemos aplicá-lo sempre que for para beneficiar.

Já escrevi certa vez que “perdão e amor são capazes de curar mesmo a pior dor”. É de lembrar que Jesus nos deu o poder de perdoar os pecados de nossos semelhantes.

Ele disse que aqueles a quem perdoarmos os pecados, terão os pecados perdoados. A aplicação não se refere especificamente aos pecados praticados contra nós. Jesus nos deu o poder para perdoar os pecados das pessoas.

E mais. O poder é nosso. Nós temos o poder de perdoar os pecados em nosso próprio nome. Jesus quer que nós desenvolvamos o hábito de perdoar pecados e que assumamos a responsabilidade sobre esse perdão.

Ele quer que sejamos adultos nessa área. E ele endossa o nosso perdão de pecados quando diz que se perdoarmos os pecados, estes serão perdoados. 

É muito importante que nós entendamos isso e que nos apropriemos desta ferramenta restauradora da comunhão, libertadora do sofrimento e pacificadora de corações de um modo geral.

Cada um de nós tem o poder de perdoar pecados. Devemos crer nisso. Eu recomendo que começamos o dia, abençoando as pessoas que encontrarmos, fazendo essa oração por elas, dizendo-lhes, após a saudação:

Eu perdoo todos os seus pecados. Se, entre todos os pecados houver algum que, por qualquer razão nós não poderíamos perdoar, por ser pecado para morte, isso não importa, porquê os demais pecados serão perdoados normalmente e serão colocados em sua conta.

E apenas esse pecado para morte será decidido, futuramente, pelo supremo juiz, Jesus Cristo, o Nosso Senhor.

Que ninguém tenha medo de usar a ferramenta de perdoar os pecados dos outros.

Não se trata, aqui, de estabelecer penitências para as pessoas cumprirem para serem perdoadas, mas, simplesmente de perdoar, sem condições; perdoar por querer perdoar; perdoar porque está cheio de amor e vontade de perdoar; perdoar porque não quer acusar e não quer condenar. mas quer apenas salvar.

É de lembrar que é para salvar que nós estamos no mundo. Não estamos no mundo para condenar, não estamos no mundo para julgar; não estamos no mundo para acusar.

Nós estamos no mundo para salvar pessoas, nós estamos no mundo cumprindo a missão de Jesus de buscar e salvar o perdido. E a missão de Jesus no mundo sempre foi a de perdoar e não de condenar.

É certo que um dia ele agirá como Juíz, mas não é neste momento. Esse é o tempo do perdão. E nós devemos aprender com as atuações de nosso Mestre nessa área e imitá-lo.

Mulher, onde estão os teus acusadores? Não te condenaram? Eu também não te condeno. Vá e não peques mais. Assim disse Jesus a a uma mulher que havia praticado adultério e que os homens queriam apedrejar.

Naquele dia, o princípio estabelecido por Jesus para o apedrejamento foi: aquele que não pecou, que atire a primeira pedra.

Ou seja, como todos nós temos cometido pecado e não fomos mortos, apesar da lei dizer que “a alma que pecar, essa morrerá”, nenhum de nós está autorizado por Jesus a atirar a primeira pedra.

Do mesmo modo que fomos perdoados, nós estamos imbuídos do dever e devidamente autorizados para perdoar.

E, perdoar sempre, não importa o tamanho e a gravidade do pecado que a pessoa tenha cometido. Nossa missão é perdoar, semear o perdão, proclamar o evangelho do perdão e promover a salvação das pessoas, jamais a condenação.

Quem condena não sabe qual de que espírito é. Está confundido entre o espirito acusatório e condenatório de Satanás por qualquer coisa e o espírito absolvitório de Jesus também por todo e qualquer pecado.

Todos os dias nós nos enchemos de sentimentos egoóstas, individualistas, ruins e não edificantes. Nós ficamos pensando em nós e não nos outros.

Nós temos vergonha de pedir perdão, nós temos vergonha de dizer para as pessoas: “eu te perdoo dos seus pecados”. E nós preferimos jogar toda essa responsabilidade em cima de Deus.

No entanto, meus queridos, Deus quer que nós assumamos essa responsabilidade, porque nós somos seus filhos. E os filhos, devem continuar as obras dos pais.

Essa é a mensagem.

Eu quero concluir rogando a Deus que possa nos ajudar no desenvolvimento do hábito de perdoar, que possa nos ajudar na modificação dos nossos hábitos ruins e que possa nos ajudar a salvar cada dia mais pessoas perdidas neste mundo. Amém.

Um comentário:

umnt disse...

Que bom que eramos, pecamos, caso assim não fora, diríamos para nós mesmos, sou perfeito. não tenho falhaaaaas