A vontade de Deus
(Nm 22)
Izaias
Resplandes de Sousa
E
veio Deus a Balaão, e disse: Quem são estes homens que estão
contigo?
E
Balaão disse a Deus: Balaque, filho de Zipor, rei dos moabitas, os
enviou, dizendo:
Eis
que o povo que saiu do Egito cobre a face da terra; vem agora,
amaldiçoa-o; porventura poderei pelejar contra ele e expulsá-lo.
Então
disse Deus a Balaão: Não irás com eles, nem amaldiçoarás a este
povo, porquanto é bendito.. Números 22:9-12
Observo que, entre nós,
sempre ouvimos falar em fazer e respeitar a vontade de Deus. Nós
dizemos que queremos que Deus faça a sua vontade em nossas vidas.
Mas qual é a vontade de Deus? Como é que nós podemos saber qual é
a vontade de Deus?
Certa vez eu perguntei para
uma irmã como é que ela tinha certeza de que estaria fazendo a
vontade de Deus em suas missões de vida. E ela me respondeu que
orava pedindo para Deus abrir as portas e se não houvesse nenhum
empecilho para a realização daquela missão, ela então entenderia
que Deus estava aprovando a aquele plano.
Os irmãos também pnsam
assim? Não precisam me dizer, fiquem cada um com sua resposta, por
enquanto.
Então eu pergunto mais: se
estiver certo esse pensamento, de que, se eu orar e pedir a Deus para
abençoar e abrir as portas para que eu possa realizar aquilo que
estou pretendendo e se não houver nenhum impedimento para que isso
aconteça, então eu posso fazer o que estou pretendendo, com a
certeza de que estou fazendo a vontade de Deus para minha vida?
Meus queridos... A Bíblia é
a revelação da vontade de Deus para as nossas vidas. Nós devemos
orar e pedir a Deus para prover os recursos e abrir as portas para
que nós possamos realizar as missões estabelecidas por Ele, de
acordo com o que está orientado em Sua Palavra. É de ver que, se
não tivermos uma situação concreta específica, desenhada com
todos os detalhes na Bíblia, isso não quer dizer que Deus silencia
sobre tal assunto. A Bíblia está cheia de princípios. Devemos
conhecê-los e aplicá-los em nossas ações. E um desses princípios
é o seguinte: A resposta de Deus à nossa oração não pode
contradizer a Sua Palavra bíblica.
Deus não muda de
ideia só porque nós oramos. Há
vários argumentos que sustenta esse princípio. Citaremos apenas
três: 1) Deus é eterno: uma mudança no
ser de
Deus teria que ter um
antes e um depois dela.
Isso
é da temporalidade e Deus não é temporal; 2) Deus é perfeito: uma
mudança ou se dá para melhor, ou para pior. Deus não pode melhorar
e nem piorar, porque
Ele é o que é,
perfeito; 3) Deus é onisciente: uma mudança pressupõe uma nova
informação que não se conhecia. Deus sabe de
tudo. Portanto, Deus é
imutável. Ele
não muda; o que mudam são as circunstâncias. Vejamos.
Em
1
Samuel 15:29, Deus diz que “não é homem, para que se arrependa”;
e, em Malaquias 3:6 ele diz: “Porque eu, o Senhor, não mudo”.
A Bíblia estabelece como as
coisas devem ser feitas. Mas, nós costumamos passar por cima dessas
orientações e levar ponderações de natureza contraditória a
elas, para a oração, pedindo as bênçãos de Deus para que nossas
intenções deem certas. E aí, como Deus não se pronuncia de forma
contrária, explicitamente e diretamente, nós entendemos que o nosso
pedido foi aprovado. Afinal, diz o ditado que “quem cala,
consente”.
Essa é um inverdade dupla:
primeiro, porque Deus não se cala diante de nossas orações. Nós
sabemos que Deus responde as orações. Nós cantamos isso e não é
da boca para fora, mas do fundo da alma; segundo, porque Deus jamais
poderá aprovar uma decisão nossa que esteja orientada de forma
contrária na Sua Palavra. O problema nunca foi o silêncio de Deus,
mas sim, a nossa incapacidade perceptiva. A compreensão das
Escrituras não é para qualquer um, mas apenas para aqueles a quem o
Espírito deseja que compreenda. A revelação vai muito além da
letra, mas jamais em sua contramão. Cf. Mt 13:11.
A Bíblia nos diz em Hebreus
1:1, que Deus pode falar conosco de muitas maneiras, até mesmo
através de um jumento, como foi no caso de Balaão, registrado em
Números 22. Balaque mandou chamar Balaão para que amaldiçoasse aos
hebreus que vinham do Egito para a Terra Prometida, mas Deus lhe
disse que não fizesse isso, porque aquele povo era um povo abençoado
(v. 12).
Pronto! Não tem nem mais e
nem menos. Acabou o assunto. Não tem mais um dia, ou mais outro para
ver se Deus muda de ideia. A vontade de Deus já fora revelada. Mas
Balaão, como muitos de nós fazemos, não se satisfez e foi
consultar novamente ao Senhor. Então, o que o Senhor disse para
Balaão, foi: se você quer ir, então vá. Deus não estava mudando
de ideia. O que ocorreu aqui foi uma mudança de circunstância.
Quando Balaão não sabia a posição de Deus e foi consultá-lo,
Deus lhe revelou qual era a sua vontade. Essa foi a primeira
circunstância. A nova circunstância ocorre quando Balaão, já
sabendo a vontade de Deus, retorna ao Senhor, deixando claro que está
querendo ir atender ao chamado de Balaque e que não concorda com a
vontade de Deus. Então, nessa nova circunstância, Deus respeita a
vontade do livre arbítrio de Balaão e deixa que ele vá e sofra as
consequências de sua dcisão. No presente caso, como sua ideia era
fazer algo que não agradava ao Senhor, este se irou contra ele,
colocando-se em seu caminho, como adversário, em defesa de seu
povo, o povo hebreu, que Ele conduzia desde o Egito (v. 22 e 32).
Balaão iria fazer algo que
desagradava ao Senhor, mas não teve sentidos para perceber isso. E
saiu para fazer as coisas erradas e contrárias à Palavra de Deus
(v. 34). Isso é o mesmo que ocorre conosco, quando pedimos a bênção
de Deus para fazermos as coisas de modo diferente de suas instruções
reveladas através da Palavra.
O primeiro lugar para que nós
conheçamos a vontade de Deus não é na oração,
mas na sua resposta já revelada antes mesmo que nós
lhe peçamos e que está registrada nas páginas da Bíblia. Mateus
6:7-8 nos diz:
E
quando orardes, não useis de vãs repetições, como fazem os
pagãos; pois imaginam que devido ao seu muito falar serão
ouvidos. Portanto,
não vos assemelheis a eles; porque Deus, o vosso Pai, sabe tudo de
que tendes necessidade, antes mesmo que lho peçais.
Devemos
orar e pedir a Deus sabedoria para compreendermos a sua Palavra
(Tiago 1:5). Mas, se queremos realmente entender a Palavra de Deus,
temos que estudá-la. Ainda que seja o Espírito Santo que nos dará
a compreensão da Palavra, ela não vai entrar em nossa cabeça de
forma mágica, sem nenhum esforço de nossa parte. Ir direto à
oração e pedir a resposta de Deus, sem ter antes demonstrado
interesse em conhecer sua Palavra, é fazer pouco caso da revelação
de Deus. Deus poderia nos dizer: “Vá ter com a formiga, ó
preguiçoso!” (Pv 6:6). Eu já te disse o que penso sobre isso.
Leia o que eu disse. Mas, ao invés disso, ele não fala nada mais. E
aí nós pensamos que Ele está concordando conosco, o que pode ser a
mais absoluta inverdade.
Mas, como dito em Hebreus,
Deus fala de muitas maneiras. Além de nos falar pela Bíblia, ele
também nos fala até pelos Jumentos Pregadores, por exemplo. Pode
até ser que, neste momento, eu seja um desses jumentos que Deus
esteja usando.
No entanto, da mesma maneira
com que desleixamos o estudo pessol da Palavra, nós também
ignoramos a revelação que Deus nos dá através de nossos
pregadores. E mantemos a nossa decisão de fazer as coisas da maneira
que nós desejamos, mesmo que não esteja de acordo com a vontade de
Deus expressa na Bíblia. E o que é pior, fazemos isso sob a
alegação de que estamos fazendo a vontade dele, quando na verdade,
estamos fazendo a nossa.
II
- A vontade de Deus
“Rogo-vos, pois,
irmãos, pelas misericórdias de Deus, que apresenteis o vosso corpo
por sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto
racional. E não vos conformeis com este século, mas transformai-vos
pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a
boa, agradável e perfeita vontade de Deus”. (Rm
12:1-2)
O mundo oferece muitos
prazeres para nós, mas há um prazer muito maior nos aguardando
quando nós nos dispomos a fazer a vontade de Deus, de verdade, e não
apenas de boca e de gogó. Devemos colocar o nosso corpo a serviço
de Deus, cultuando a Deus com as nossas ações e não com os nossos
blablablás. Deus não é Deus de teorias, mas de ações concretas.
E, se nós queremos ser servos de Deus, igualmente, devemos ser
agentes da concretude, da prática e não apenas do falatório.
A verdadeira vontade de Deus
não é parceira e nem aliada dos prazeres deste mundo, das coisas
que nos apetecem. Se nós nos conformarmos com o rol de prazeres
terrenos, jamais poderemos desfrutar do verdadeiro prazer que se tem
ao fazer a boa, agradável e perfeita vontade de Deus.
É princípio bíblico que: A
realização da obra de Deus tem que me custar alguma coisa,
ainda que a obra seja dele e
não minha.
Quando Abraão quis comprar o
campo de Macpela para enterrar sua esposa Sara, os donos da terra
queriam dar para ele aquela propriedade como cemitério, mas ele não
aceitou. Ele insistiu em pagar o preço da mesma. Cf Gn 23.
Quando Davi também quis
comprar a eira de ORNÃ, para ali oferecer sacrifício a Deus, Ornã
quis dar-lhe não só a vinha, mas também os animais e tudo o mais
que fosse necessário para o sacrifício, Davi não aceitou, porque
não poderia oferecer um sacrifício a Deus se isso não lhe custasse
nada. Cf 1 Cr 21:18-25.
Perguntemo-nos,
individualmente: O que estou oferecendo para fazer a obra de Deus
além de meu corpo e minha boca?
Certa vez, quando o
missionário Cornélio Gomes esteve em Poxoréu, minha família o
convidou para se hospedar em nossa casa. Mas ele recusou o conforto
de nossa casa e preferiu se hospedar no local de reuniões. Meus
familiares argumentaram com ele que lá não tinha o conforto, mas
ele disse que não estava atrás de conforto. E assim, ele foi para
lá. E minha família, então, levava a comida para ele, lá. E ele
sempre discutia que tinha comida demais. E quando levavam guloseimas
como doces, bolos e outras coisas, ele sempre questionava que não
estava atrás daquilo. Ele dizia: "irmãos, meu Deus não é meu
estômago!". Cf Fp 3:18-19.
A obra de Deus não consiste
em buscar a nossa satisfação e prazer pessoal. A Bíblia nos diz
que quando sairmos em missão não devemos levar alforge, nem mala
cheia de roupas, nem esse monte de coisas que nós achamos
indispensáveis. Aonde formos nós devemos compartilhar a vida que
Deus oferece às pessoas com quem contactarmos. Cf Lc 10:3-9.
Jesus, em Lucas 10:3-9, nos
diz: Ide! Eis que eu vos envio como cordeiros para o meio de
lobos. Não leveis bolsa, nem alforje, nem sandálias; e a ninguém
saudeis pelo caminho. Ao entrardes numa casa, dizei antes de tudo:
Paz seja nesta casa! Se houver ali um filho da paz, repousará sobre
ele a vossa paz; se não houver, ela voltará sobre vós. Permanecei
na mesma casa, comendo e bebendo do que eles tiverem; porque digno é
o trabalhador do seu salário. Não andeis a mudar de casa em casa.
Quando entrardes numa cidade e ali vos receberem, comei do que vos
for oferecido. Curai os enfermos que nela houver e anunciai-lhes: A
vós outros está próximo o reino de Deus.
O ato de fazer a vontade de
Deus deve ter um custo para nós, mas não pode ser algo penoso,
difícil, oneroso, pesado... Jesus disse que o seu fardo é leve, que
o seu jugo é suave. Então, porque parece tão difícil, tão caro e
tão pesado fazer a vontade de Deus com relação à sua obra na
terra? A resposta é simples. A nossa ideia de vontade de Deus é
diferente da vontade de Deus revelada nas páginas da Bíblia.
O plano de Deus para
realização de sua obra é muito simples e barato. Todos nós somos
enviados para fazer a missão de evangelização do mundo. Todos nós
somos enviados para sermos testemunhas aos nossos vizinhos de
Jerusalém. E quando todos esses vizinhos de Jerusalém foram
alcançados, então somos enviados aos vizinhos da Judeia e depois
aos vizinhos da Samaria e depois aos vizinhos dos confins da terra.
Meus queridos… Parece que é
muita coisa. Parece que o fardo é pesado demais. Mas, se seguirmos
as orientações da Palavra de Deus, não é. Dificilmente, cada um
de nós chegará aos confins da terra. Provavelmente, não sairemos
de Jerusalém. A igreja, sim, através algum de seus membros, que
representa o seu todo universal, alcançará os confins da terra.
Isso, se cada um de nós for fazendo aquilo que Deus manda em sua
palavra. Se cada um de nós fazer a obra, em relação ao seu
vizinho.
Mas, então, alguém argumenta
contra essa orientação: Não! Eu quero participar da obra, mas não
aqui onde eu moro. Eu quero evangelizar a África. Muito bem, lhe
dirá Deus. Parabéns pelo seu propósito de se mudar para a África.
Você é livre para ir para onde quiser. Não estou te mandando para
a África; estou te mandando ao seu vizinho, em sua Jerusalém. Mas,
a África será a sua Jerusalém quando você se mudar para lá.
Meus queridos… Jerusalém é
o lugar onde nós moramos. Lá na África só será os confins da
terra enquanto eu morar em Poxoréu, que é a minha Jerusalém hoje.
Quando eu for para lá, lá será a minha Jerusalém e Poxoréu será
os confins da terra.
Mas Deus não te manda uma vez
por mês ir à África. Isso seria muito dispendioso, muito caro e
muito pesado para os mantenedores da obra. Se você quer evangelizar
a África, mude para lá.
É provável que Deus não vai
enviar pessoas para te visitar enquanto você estiver na África, mas
esse é o preço que você vai pagará porque escolheu fazer da
África, a sua Jerusalém. Deus não é o culpado da sua escolha.
Você é. Deus deseja que você faça a obra dele no lugar onde você
se encontra, porque isso é fácil e barato. Além disso, no seu
lugar todo mundo te conhece. Você pregará não apenas com a sua
boca, mas principalmente com as suas ações, com seu modo de vida,
com seu procedimento. Cf. 1 Pe 3:1
Às vezes, nós queremos ir
para longe fazer a obra, principalmente porque lá ninguém nos
conhece e nós poderemos nos identificar melhor com eles e viver como
eles. Mas queremos voltar logo para nossa casa, para podermos
desfrutar dos confortos e das comodidades que temos aqui e que não
podemos desfrutar lá, para não dar o mau exemplo. Isso nunca foi a
vontade ou obra de Deus.
Quanto à nossa aspiração
por prazer, a Bíblia nos orienta para não nos conformarmos com este
século, com este mundo. Os prazeres daqui são passageiros e não
têm nada a ver com Deus. Aspiremos os prazeres do Reino de Deus,
onde tudo é eterno e maravilhoso. Se estamos buscando alcançar
prazeres nesta vida, não estamos fazendo nada de errado, mas não
estamos fazendo a vontade de Deus.
A vontade de Deus não se
conforma com este século e com esse mundo. A vontade de Deus é que
todos tenham, pelo menos, o que comer e o que vestir. E que estejamos
satisfeitos se conseguirmos isso. Cf 1 Tm 6:3-8.
É de lembrar que o Filho do
Homem, Jesus, não tinha sequer onde reclinar a cabeça. E por que
alguns obreiros, que às vezes já têm muito mais do que isso, ainda
querem muitas coisas mais para fazerem a obra? Cf Mt 8:20.
Jesus andava a pé, porque
assim ele se encontrava com as pessoas. Quando eu vou de carro fazer
a obra, eu não tenho a oportunidade de conversar com as pessoas que
estão pelo caminho. Como não é meu interesse falar com essas
pessoas que estão perto de mim, mas sim, com pessoas que estão
longe de mim, eu não páro. Eu apenas vou passando por elas. Não
digo que está errado fazer assim. O que digo é que esse tipo de
fazer a obra não está de acordo com o exemplo e as orientações de
Jesus. Não foi assim que ele mandou fazer a obra.
A obra de Deus deve ser feita
com o menor custo possível. O fardo deve ser leve, tanto para o
pregador, quando para os pregandos. Vejamos o exemplo de Marta, em Lc
10:41-42.
Marta queria preparar um
banquete para o Senhor Jesus, mas o Senhor deixou claro para ela, que
não estava lá por causa de comida, mas para falar sobre o reino de
Deus. E que ela, ao invés de estar gastando seu tempo com aquelas
coisas desnecessárias para ele, deveria fazer como fazia sua irmã,
sentar-se aos seus pés e ouvi-lo, porque para encher a barriga,
pouca coisa seria necessária.
A vontade de Deus na
enfermidade e na morte
(2 Rs 20:1-2)
Nós temos o costume de ouvir
as pessoas dizendo que seja feita a vontade de Deus com relação à
saúde ou à manutenção da doença de uma pessoa ou ainda, da vida
ou morte dessa pessoa.
É princípio bíblico que nem
sempre as coisas acontecem conforme a vontade de Deus. Às vezes,
nós intervimos pedindo a cura de uma pessoa, quando a cura dela não
seria a vontade de Deus.
Alguém pode questionar isso.
Como a cura de uma pessoa não seria a vontade de Deus,
principalmente, se temos vários mandamentos dele para curarmos os
enfermos quando estivermos fazendo a obra?
É de ver, meus queridos, que
a vontade de Deus é que nos aconteça o melhor. Deus sempre quer o
melhor para nós e nunca o pior. Vejamos o caso de Ezequias, que
ficou doente e foi avisado pelo profeta que ele iria morrer. Cf 2 Rs
20:1 e seguintes.
Ao invés de aceitar a vontade
de Deus para ele, Ezequias interviu com um pedido a Deus para que se
lembrasse de como ele tinha vivido e chorou profundamente. Seu pedido
foi contra a vontade de Deus, expressa através do profeta Isaías.
Deus sabia o que iria acontecer na sequência dos anos, se Ezequias
permanecesse vivo, e quantos males aconteceria por conta desse fato.
Ezequias não sabia, porque ele não podia conhecer o futuro, assim
como nós também não podemos saber o que acontecerá se nós
pedirmos a cura quando a nossa doença for para morte.
Mas as circunstâncias
mudaram. Na primeira ocorrência, temos Deus manifestando o juízo de
sua vontade antes que Ezequias soubesse que iria morrer, levando em
consideração o que seria melhor para ele e todo o seu povo. Deus
não mudou, mas as circunstâncias, sim. Na segunda ocorrência,
quando sabe que vai morrer, Ezequias ora a Deus, fazendo-lhe um
pedido e chorando muitíssimo. Então, nessa situação, vemos Deus
exercendo sua misericórdia e atendendo ao pedido de Ezequias,
suspendendo a sua morte por quinze anos (v. 6). Agora, já não era
mais a vontade de Deus se realizando, mas a vontade de Ezequias. Deus
sabia que o melhor seria Ezequias morrer, mas ele clamava por viver
mais e Deus lhe ouviu e fez a sua vontade. E o que acontceu durante o
seu acréscimo de vida?
Três anos depois da primeira
ocorrência, Ezequias teve um filho chamado Manassés,
o
qual, durante 55 anos de
reinado, em sucessão ao
seu pai, fez coisas
horrorosas em Judá.
Cf 2 Cr 33:1-10.
O
rei Manassés levou
o povo de Judá e os moradores de Jerusalém a cometerem pecados
ainda piores do que aqueles cometidos pelas nações que o Senhor
Deus havia expulsado da terra conforme o seu povo ia avançando. Até
os próprios filhos ele
sacrificou
para
uma
divindade
pagã. E Deus falou com
ele e com o povo que o seguia, mas ninguém lhe ouviu. E todos
receberam o furor
da ira de Deus. Milhares
de pessoas pagaram o preço por seguirem ao rei Manassés em suas
loucuras. É
verdade que no fim da vida, ele se arrependeu e conseguiu
dormir em paz. Mas quantos males ele causou! Seria justo a troca de 1
por 1000, só para citar uma proporção, porque Ezequias não fez o
mal somente para ele, mas para milhares de pessoas. Aqui temos o
famoso efeito dominó. No entanto, nada disso poderia ter acontecido.
Manassés poderia nem ter existido, se Ezequias estivesse 100%
submetido à vontade de Deus.
Meus queridos… Quantas
pessoas a gente já viu pedindo a morte, porque não aguentam mais o
sofrimento? Em algumas partes do mundo, as pessoas praticam a
eutanásia, que é a morte de uma pessoa para que essa não sofra
mais. Também é muito comum a gente sacrificar animais que estão
doentes, para tirá-los do sofrimento. Viver é bom, mas, certamente,
não em grande sofrimento.
É possível que, atendendo ao
nosso pedido, Deus possa manter uma pessoa viva, mas nem Deus e
tampouco nós, poderemos controlar os atos dessa pessoa e impedi-la
de fazer o mal e causar danos a outras pessoas, ou a ela mesma, bem
como impedi-la de ter sofrimentos ainda mais atrozes.
Eu creio que nós devemos
realmente pedir pela cura, pela libertação e por tudo que nós
entendemos que devemos pedir, mas sempre devemos condicionar os
nossos pedidos à vontade de Deus. E devemos aceitar o resultado,
certos de que a vontade de Deus pode não ser a cura, porque a cura
não seria o melhor para a pessoa e para os demais com quem ela se
relaciona.
Eu tive um sobrinho que morreu
de acidente. Esse menino fez muitas coisas erradas, mas então ele
teve um surto de arrependimento, procurou a igreja e disse que queria
fazer a sua reconciliação. O dia que ele procurou a igreja era um
dia de sábado, de reunião de oração e não foi feito um convite
para que ele expressasse a sua decisão. No entanto, ao terminar a
reunião, ele procurou os dirigentes da igreja e disse que queria se
reconciliar com Jesus, que queria fazer sua decisão. Os irmãos
falaram-lhe que ele poderia fazer sua decisão na próxima reunião,
mas ele disse que não! Que ele queria fazer a decisão naquele dia.
E assim foi feito. Na segunda-feira, dois dias depois, ele sofreu um
acidente e veio a falecer. No domingo, um dia antes, ele saiu com a
família e comemoraram a sua conversão, sua aceitação a Jesus e
foi tudo muito alegre e feliz. Maravilhosa graça de Deus!
Eu já disse não uma, mas,
mais de uma vez, que esse meu sobrinho morreu na hora certa porque
ele era uma pessoa instável. Ele não tinha muita firmeza em suas
decisões e convicções. Mas, naquele dia, ele estava plenamente
convicto de que precisava estar em paz com Deus. E se ele não
morresse na segunda-feira, quem garantiria que ele iria se firmar e
que um mês depois ainda estivesse firme em suas convicções? Em
outras ocasiões ele também já se aproximara de Deus, mas depois se
afastou novamente, esfriou e se distanciou. Se ele não morresse
naquele dia, será que teria sido salvo?
Nós costumamos falar em tempo
de Deus.
Meus queridos… Deus não é
temporal como nós. Deus é eterno e o tempo não existe para ele. O
tempo é sempre para nós, que somos seres temporais, que temos
começo e fim.
Uma pessoa não morre no tempo
de Deus, mas morre em seu próprio tempo. Deus não mata as pessoas
por qualquer coisa. Deus não tem prazer na morte de ninguém. Cf Ez
18:32.
Deus quer que todas as pessoas
vivam e vivam com abundância de anos. como disse Jesus. Cf Jo 10:10.
Deus quer que o homem viva
muitos anos na terra e depois viva para sempre no céu. Cf Ef 6:2-3.
O desejo de Deus é para a
vida e não para a morte. A morte é uma consequência da falta de
vida. Tem muitas pessoas que já morreram e ainda continuam andando
entre nós. São como os zumbis, mortos-vivos. São pessoas que não
trazem mais nenhum benefício, nem para eles mesmos e nem para os
outros. São verdadeiros parasitas da vida. Para o bem de todos,
seria melhor que essas pessoas deixassem de existir. Na maioria dos
casos, essas próprias pessoas pedem a morte a Deus. Pedem que Ele
tire delas o sofrimento. E então, o que Deus faz, recolhendo os
espíritos dessas pessoas é apenas atender aos pedidos de alguém em
estado moribundo.
É costume ouvir orações
pedindo para que Deus abençoe o que se está comprando ou querendo
comprar, ou ainda uma viagem que se está pretendendo fazer a algum
lugar. E, às vezes, o pedido vem com a seguinte justificativa: "o
coração do homem faz planos, mas a resposta certa dos lábios, vem
do Senhor". Cf Tg 4:13-14; Pv 16:1
Deus sempre abençoa, meus
queridos. Não porque nós sejamos bons ou merecedores. Não! Ele
abençoa a todos, indistintamente, independente de serem bons ou
ruins. Deus abençoa, porque é de sua essência abençoar e porque a
sua misericórdia dura para sempre. Cf Mt 5:45; Sl 106:1.
Meus queridos… Nós estamos
vivendo o tempo da benção de Deus. Chegará o dia em que haverá o
tempo da maldição, do juízo e da condenação. Mas no momento nós
estamos vivendo o tempo da Graça, o tempo da bênção, o tempo do
perdão. E nós queremos ser abençoados por Deus em nosso plano de
viagem. E pedimos a bênção dele. E queremos que ele nos abençoe.
Não tem nada de errado com esse pedido, mas isso não tem nada a ver
com a vontade de Deus para a nossa vida. A tal viagem ou qualquer que
seja o pedido, pode não ser a vontade dele.
Os irmãos já perceberam que
nós temos na Bíblia, o princípio da reciprocidade. O próprio
Jesus disse: não julgueis, para não serdes julgados e, com a
medida que medirdes, sereis medidos. Cf Mt 7:1-2.
Na oração ele também
ensina nos ensina a pedir o perdão de Deus, da maneira que nós
perdoarmos às demais pessoas. Cf Mt 6:12.
Na parábola do credor
incompassivo Jesus ensinou a um homem, dizendo: se eu te fiz um bem
tão grande, não deveria você
também ter feito o
mesmo, em relação ao
seu conservo?
Cf Mt
18:32-33.
Em
Lc 6:31 Jesus nos orienta: E
como vós quereis que os homens vos façam, da mesma maneira lhes
fazei vós, também
Na
verdade, nós queremos
a benção de Deus, mas e nós, temos
abençoado aos outros? Deus nos abençoa, não
porque nós mereçamos,
mas
nós, às vezes, pedimos a
bênção, como se Deus
tivesse obrigação e nos abençoar. E ele disse que não tem
obrigação de fazer nada. Na
parábola dos trablhadores na vinha,
Jesus diz
que ele tem o direito de fazer o que quiser como que é seu. Cf
Mt 20:15.
A Palavra diz que todas as
almas são de Deus, tanto a alma do pai como a alma do filho. O que
Deus quer de nós, meus queridos, é misericórdia. Jesus ensinou e
disse: Ah, se vocês soubessem o que significa “misericórdia quero
e não sacrifício”, vocês não condenariam os inocentes. Cf Mt
12:7.
A vontade de Deus é que nós
façamos o bem aos demais e não que pensemos apenas em nossos
próprios umbigos e interesses próprios. A vontade de Deus é que
nós entendamos que viemos aqui para servir. Parece que ate hoje
ainda não entendemos o significado da palavra servo.
Jesus disse que o filho do
homem veio para servir e dar a sua vida em resgate de muitos. Cf Mt
20:28.
E ele também se fez como
exemplo para nós e nos orienta: “como eu fiz a vós,
que façais vós aos outros”. Cf Jo
13:15.
Queremos saber qual é a
vontade de Deus? A vontade de Deus é aquela que está expressa, com
toda a literalidade, em sua palavra escrita.
Jesus disse para umas pessoas
de seu tempo: Vós examinais as escrituras, porque entendem que nelas
vocês poderão encontrar a vida eterna. Isso é verdade, porque eu
sou a vida eterna e as escrituras falam de mim. Mas vocês não
querem vir a mim para terem a vida eterna. Cf 5:39-40.
O que nós queremos realmente,
meus queridos? Nós examinamos a Bíblia apenas para conhecer a
vontade de Deus, ou porque realmente fazer Sua vontade? Queremos
mesmo que seja feita a vontade de Deus, ou nós queremos apenas
fazer a nossa vontade própria vontade e satisfazer aos desejos do
nosso coração, da nossa família e das pessoas mais próximas de
nós? Cf Jo 8:44.
Nós gostamos de fazer festas.
É muito bom fazer festas, almoços, banquetes e coisas desse tipo.
No entanto, quando convidamos as pessoas para as nossas festas,
normalmente nós convidamos aquelas com possibilidades retributivas.
Essa não é a vontade de Deus. A vontade de Deus é que nós
convidemos as pessoas excluídas, as pessoas que não podem fazer
festas porque não têm recursos para isso. Mas nós fazemos as
nossas festas do jeito que nós queremos e convidamos quem nós
queremos e não as pessoas que Deus gostaria que nós convidássemos.
E então oramos pedindo a Deus que abençoe a nossa festa. Olha, meus
queridos, será que depois de tudo o que Jesus disse sobre os
hipócritas, Deus ainda vai abençoar a nossa hipocrisia?
Nós pedimos a Deus para
abençoar a nossa comida, a abundância de comida que nós temos na
mesa e agradecemos a Deus por isso. Mas não estamos nem aí para as
pessoas que não têm nada para comer. Que bom seria se, pelo menos
uma vez em toda nossa vida, nós fizéssemos uma festa para os pobres
e excluídos da sociedade e oferecêssemos para eles o melhor que nós
poderíamos oferecer. A Palavra diz que até um copo de água fria
que a gente der para alguém na condição de discípulo, não
passará em vão aos olhos de Deus. Quantas vezes nós já fizemos a
vontade de Deus nessa área? Cf Mt 10:42.
Partindo para o encerramento,
eu creio que devemos continuar fazendo nossas orações e pedindo as
bençãos de Deus para nossa vida, para os nossos planos, para tudo o
que se relaciona conosco e com nossas atividades, mas, sempre devemos
concluir nossas orações com um pedido sincero, como Jesus fez em
sua oração, “se possível passe de mim esse cálice, mas acima de
tudo, que seja feita a vossa vontade”. Cf Lc 22:42; Mt 6:10.
Antes de levarmos nossos
pedidos de oração a Deus, demonstremos respeito pela Palavra dele e
consultê-mo-la sobre o que ele já disse a respeito daquela
situação.
Em Tg 5:15, Deus nos manda, na
condição de seus discípulos e enviados, que curemos os enfermos.
Ele nos manda orar pelos enfermos e diz que a oração da fé salvará
o doente. E que o Senhor o levantará. Eu sei que o entendimento que
todos fazem deste versículo é o da cura, mas é de ver que o texto
fala da salvação da pessoa. O levantamento que nós acreditamos ser
o levantamento do leito de enfermidade, para o leito de vida e saúde,
poderia também ser um levantamento para o céu.
Nós sempre falamos que
queremos o melhor para nós e para os nossos semelhantes. O apóstolo
Paulo disse que estar com Cristo é muito melhor e que ele mesmo
estava constrangido em ficar na terra ou partir para estar com o
Senhor. Cf Fp 1:23.
Nós cremos ou não cremos,
que o reino de Deus seja melhor, do que o reino da terra e dos
homens? Ou, o que nós queremos é apenas não perder os privilégios,
de gozar a vida que temos hoje na terra, quando formos morar no céu?
Irmãos, não é difícil
descobrir a vontade de Deus porque ela está revelada nas Escrituras.
O difícil é compreendermos que também é vontade de Deus que nós
façamos exatamente aquilo que está lá e não aquilo que nós
queremos fazer e que ainda queremos que Deus aprove como sendo sua
vontade.
Peço a Deus que possa nos
conceder a graça de absorver esse conhecimento, com a clareza
necessária, para que, efetivamente, possamos ser chamados de servos
do Senhor e que não sejamos vistos por ele apenas como servos de nós
mesmos, como aqueles que pensavam ser dele, porque faziam isso,
faziam aquilo e faziam aquilo outro, mas que, quando chegou o grande
dia, ele disse que nem sequer os conhecia, porque teve fome, ficou
nu, esteve preso e nada disso mereceu a atenção deles.
Que possamos continuar fazendo
o bem a todos, principalmente os da nossa família da fé e aos
nossos domésticos, que é a nossa missão primeira. Mas, que
possamos ir além, se isso nos for possível.
Essa é a vontade de Deus para
todos nós. Amém!
Izaias Resplandes de Sousa é membro da Igreja Neotestamentária de Poxoréu