O dia de descanso
Izaias Resplandes de Sousa
Todo aquele que trabalha
necessita de um período de descanso. A legislação trabalhista brasileira
estabelece regras para o descanso interjornada e o descanso intrajornada.
O intervalo intrajornada é
destinado, principalmente, à alimentação do trabalhador. E hoje, ainda que
atual legislação fala que esse intervalo poderá ser reduzido para até 30
minutos por Acordo ou Convenção Coletiva de Trabalho... Nas jornadas superiores
a seis horas (que é a maior parte dos casos), a norma geral define a
obrigatoriedade de um período mínimo de 1 hora pra o descanso intrajornada.
Já o intervalo
interjornada é destinado, principalmente, ao repouso do trabalhador. E, na
legislação brasileira, esse período é de no mínimo 11 horas.
O que se verifica é que a
partir de quatro horas de trabalho, já se exige intervalos de descanso para que
o trabalhador possa recuperar as suas energias, que vão de 15 minutos até 2
horas.
A Bíblia também trata
desse assunto, destacando-se que o dia de descanso foi criado por Deus.
E havendo Deus acabado no dia sétimo a obra que
fizera, descansou no sétimo dia de toda a sua obra, que tinha feito. E abençoou Deus o dia sétimo, e o santificou; porque
nele descansou de toda a sua obra que Deus criara e fizera. Gênesis 2:2,3.
No
caso do descanso de Deus, não significa que Deus ficou cansado, porque Ele não
é humano para que se canse. O que Deus faz é aplicar o princípio do exemplo.
Quando você quer ensinar alguém a fazer alguma coisa, comece por fazer você
mesmo. Mostre como se deve fazer. Seja um exemplo. Não em palavras, mas de
fato.
Jesus
disse aos seus discípulos em determinado momento: Porque eu vos dei o
exemplo, para que, como eu vos fiz, façais vós também. João 13:15.
O apóstolo Paulo escreveu
a respeito do exemplo, dizendo:
Sede meus imitadores, como também eu de
Cristo. 1Coríntios 11:1.
Sede também meus imitadores, irmãos, e
tende cuidado, segundo o exemplo que tendes em nós, pelos que assim
andam. Filipenses 3:17.
Sede, pois, imitadores de Deus, como filhos
amados; Efésios 5:1.
Admoesto-vos, portanto, a que sejais meus
imitadores. 1 Coríntios 4:16.
É lamentável a distorção
que muitos têm feito sobre os ensinamentos a respeito do dia do descanso. Ao
longo da história judaica, esse dia foi chamado de sábado.
Lembra-te do
dia do sábado, para o santificar. Êxodo 20:8.
Seis dias se
trabalhará, porém o sétimo dia é o sábado do descanso, santo ao Senhor;
qualquer que no dia do sábado fizer algum trabalho, certamente morrerá. Êxodo 31:15.
Seis dias o
colhereis, mas o sétimo dia é o sábado; nele não haverá [a colheita do maná]. Êxodo 16:26.
Guardarão,
pois, o sábado os filhos de Israel, celebrando-o nas suas gerações por aliança
perpétua. Êxodo 31:16.
Mas o
ensinamento de Deus sobre o dia de descanso era como que dirigido a “crianças”.
O que se vê no Velho Testamento é um “fará isso” ou um “não fará isso”. A
técnica utilizada é a do ensinamento para crianças, para pessoas que ainda não
têm a maturidade para discernir entre o que é conveniente ou não.
Crianças não
têm limites. É preciso que se estabeleçam os limites para elas. E não entendem
direito o porquê das coisas. Por causa disso se usa muito o tom ameaçador do
ordenamento. “Se você fizer isso, será castigado, morrerá ou coisa parecida”.
Também farás
túnicas aos filhos de Arão, e far-lhes-ás cintos; também lhes farás tiaras,
para glória e ornamento. Êxodo 28:40.
E porei
separação entre o meu povo e o teu povo; amanhã se fará este
sinal. Êxodo 8:23.
E farás um
altar para queimar o incenso; de madeira de acácia o
farás. Êxodo 30:1.
Seis dias
trabalharás, e farás toda a tua obra. Êxodo 20:9.
Também farás
túnica de linho fino; também farás uma mitra de linho fino; mas o cinto farás
de obra de bordador. Êxodo 28:39.
Ou ainda, “se
você não fizer isso será castigado, ou morrerá”. Esse é o tom das conversas, na
maioria das vezes.
Não te farás
deuses de fundição. Êxodo 34:17.
Não farás
aliança alguma com eles, ou com os seus deuses. Êxodo 23:32.
Não farás para
ti imagem de escultura, nem alguma semelhança do que há em cima nos céus, nem
em baixo na terra, nem nas águas debaixo da terra. Êxodo 20:4.
O segundo
ponto de destaque na teoria do dia de descanso está relacionado com o
trabalho... “Seis dias trabalharás”, em “seis dias farás toda a sua obra”. O
dia de descanso é o sétimo dia de uma sucessão de seis dias trabalhados.
O sábado de
descanso não é um dia exclusivo do calendário semanal. Não é propriamente o dia
de sábado do calendário, ainda que possa ser. No caso do Brasil, por exemplo, a
maioria das pessoas começa a trabalhar na segunda-feira e trabalha até sábado.
Nesse caso, o dia de descanso seria o domingo, que sucede os seis dias
trabalhados.
Em empresas
onde se trabalha todos os dias, há empregados que folgam na segunda, outros na
terça, na quarta... Ou seja, o que se preserva é o descanso após seis dias de
atividades laborais.
O judaísmo fez
a divinização do sábado. E muita gente, convenientemente, segue esse ensino ao
pé da letra. Jesus fez questão de mostrar que o mais importante não era
propriamente o sábado, mas o homem trabalhador cansado, que precisava de um dia
para descansar.
Disse Jesus aos seus discípulos: O sábado foi feito por causa do
homem, e não o homem por causa do sábado. Marcos 2:27.
É preciso ter compaixão
daquele que sofre diante do labor. É preciso ter consideração com o
trabalhador. O trabalho é digno, mas tem limites. Seja qual for a sua natureza.
Certa vez Jesus fez isso
de forma literal. Chamou seus discípulos e disse-lhes: Vinde vós, aqui à parte, a um lugar deserto, e repousai um
pouco. Porque havia muitos que iam e vinham, e não tinham tempo para
comer. Marcos 6:31.
Essa é a essência do dia
de descanso, seja sábado, domingo ou qualquer outro dia da semana. Devemos
seguir a regra dos seis por um. Seis dias trabalhados por um de descanso.
O próprio Senhor Jesus
trabalhou no sábado e deixou ensino sobre isso.
E aconteceu que, passando ele num sábado pelas searas, os seus
discípulos, caminhando, começaram a colher espigas. Marcos 2:23.
E perguntou-lhes: É lícito no sábado fazer bem, ou fazer mal? Salvar a
vida, ou matar? E eles calaram-se. Marcos 3:4.
E ele lhes disse: Qual dentre vós será o homem que tendo uma
ovelha, se num sábado ela cair numa cova, não lançará mão dela, e a levantará? Mateus 12:11.
Há muita gente que defende
o descanso especificamente no dia de sábado. Vamos respeitar o entendimento
dessas pessoas, mas não é esse o fundamento que vemos nos ensinamentos
sagrados. Há pessoas que não trabalharam nenhum dia e já estão querendo
descansar.
O ócio não é o ensino
bíblico. O trabalho, sim. E o descanso não foi criado para o preguiçoso, para o
ocioso, mas para o trabalhador.
Um pouco a dormir, um pouco a cochilar; outro
pouco deitado de mãos cruzadas, para dormir... Assim te
sobrevirá a tua pobreza como um vagabundo, e a tua necessidade como um homem
armado. Provérbios
24:33,34.
Vai ter com a formiga, ó preguiçoso; olha para os
seus caminhos, e sê sábio. Pois ela, não tendo chefe, nem guarda, nem
dominador, prepara no verão o seu pão; na
sega ajunta o seu mantimento. Ó
preguiçoso, até quando ficarás deitado? Quando te levantarás do teu sono?
Um pouco a dormir, um pouco a tosquenejar; um
pouco a repousar de braços cruzados; assim
sobrevirá a tua pobreza como o meliante, e a tua necessidade como um homem
armado. Provérbios
6:6-11.
Porque, quando ainda estávamos convosco, vos mandamos isto, que, se
alguém não quiser trabalhar, não coma também. 2 Tessalonicenses 3:10.
Quanto à quantidade de
horas trabalhadas por dia, a Bíblia não é tão explícita quanto a isso, mas
temos ensino que pode ser aplicado ao caso.
Pedro ensina: Honrai a todos. Amai a fraternidade. Temei
a Deus. Honrai ao rei. 1
Pedro 2:17.
Entendemos
esse “honrai ao rei” como um dever de obedecer as suas normas, desde que não
sejam contrárias aos ensinos da Palavra de Deus.
Admoesta-os a
que se sujeitem aos principados e potestades, que lhes obedeçam, e estejam
preparados para toda a boa obra; Tito 3:1.
Sujeitai-vos,
pois, a toda a ordenação humana por amor do Senhor; quer ao rei, como superior;
quer aos governadores, como por ele enviados para castigo dos
malfeitores, e para louvor dos que fazem o bem. Porque
assim é a vontade de Deus, que, fazendo bem, tapeis a boca à ignorância dos
homens insensatos.1 Pedro 2:13-15.
Toda a alma esteja sujeita às potestades
superiores; porque não há potestade que não venha de Deus; e as potestades que
há foram ordenadas por Deus. Por isso quem resiste à
potestade resiste à ordenação de Deus; e os que resistem trarão sobre si mesmos
a condenação. Romanos 13:1, 2.
O entendimento que temos é
que nós, como cristãos, devemos sempre obedecer às leis do país, sempre que não
forem contraditórias com os ensinamentos da Palavra de Deus. Nesse sentido,
entendemos que, no caso brasileiro, a jornada de trabalho devida é a jornada
legal.
A Constituição Federal
estabelece que a jornada máxima é de oito horas diárias e quarenta e quatro
semanais. O que passar disso é trabalho extraordinário e deve ser remunerado
com acréscimo de no mínimo 50 por cento.
A jornada extraordinária
pode exceder, atualmente, até quatro horas, levando a jornada diária para 12
horas. Trabalhando até esse limite, ainda sobrariam 12 horas para o descanso interjornada.
Ao concluir essa
dissertação queremos dizer que se formos patrões, devemos ser justos com nossos
empregados e obedecer as normas legais. E se formos empregados, devemos
trabalhar com todo o nosso empenho, ganhando a confiança e o respeito de nossos
patrões e com isso haveremos de ser abençoados por nosso Senhor.
Assim disse Jesus: Não
resistais ao mau; mas, se qualquer te bater na face direita, oferece-lhe também
a outra; se qualquer te obrigar a caminhar uma milha, vai com ele duas. Mateus 5:39-41.
Que Deus nos abençoe!
Um comentário:
No Rio dos Crentes em Poxoréo é que não tem dia de descanso
Agora na Época de Acampamento de família temos um bom lugar não para descansar, mas compartilharmos da amizade e alegria com os irmãos.
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