sábado, 7 de junho de 2008

O falar em línguas

(Entardecer na Br-070, Município de Poxoréu, MT.
A obra de Deus é maravilhosa)
Introdução. Uma das doutrinas mais difundidas e confundidas em nossos dias é a doutrina do falar em línguas diferentes das nossas. Os movimentos responsáveis pela sua difusão costumam destacar que o ato de falar em línguas é um sinal da presença do Espírito Santo na vida de tal pessoa, entendendo ser essa manifestação o momento em que se dá o batismo com o Espírito Santo. Os seguidores dessa linha de compreensão são hoje conhecidos como pentecostais. Na outra vertente estão aqueles que discordam desse posicionamento e que tem um posicionamento mais ortodoxo, acreditando que o batismo com o Espírito Santo se verifica no momento em que a pessoa aceita a Jesus como seu único Salvador e Senhor. Pretendemos, nesta reflexão abordar alguns aspectos referentes a esta doutrina do “falar em línguas” à luz dos textos sagrados, com o objetivo de fortalecer as convicções que temos como crente neotestamentário a respeito dessa temática e de tirar possíveis dúvidas que ainda possam existir em relação ao tema.

1. O início da prática como doutrina cristã. Antes de subir aos céus, Jesus dera orientações expressas aos seus discípulos para que permanecessem em Jerusalém até que recebessem o poder do Espírito Santo que haveria de vir ao mundo em seu lugar, permanecendo com eles até a sua volta do reino dos céus (Lc 24:49). A partir daí, os discípulos deveriam ser suas testemunhas por toda a terra (At 1:8).

Então os discípulos ficaram reunidos em Jerusalém e, no dia de Pentecostes, deu-se uma manifestação extraordinária que conferiu grande poder a todos eles, levando-os “a falar em outras línguas”. Essa foi a primeira manifestação do Espírito Santo (At. 2:1-4). A manifestação especial de chegado do Consolador se deu de duas formas: a) na primeira, os discípulos falavam em outras línguas, de forma milagrosa (At 2:4); b) na segunda, as pessoas que afluíram para ver oq eu estava acontecendo passaram “cada um” a ouvir os discípulos falando “na sua própria língua”, também milagrosamente (At 2:6-12). Ocorreu dois milagres: o de falar numa língua diferente da sua e o de ouvir alguém falando numa língua diferente da materna.

2. A natureza das línguas faladas e ouvidas na manifestação do Espírito Santo. É de observar que as línguas faladas não são especificadas em At 2:4. Ali se diz apenas que falavam em outras línguas. Já em At. 2:6 e segs., temos um esclarecimento de que as línguas ouvidas eram as línguas naturais das pessoas ouvintes, ou seja, eram línguas conhecidas de alguém: partos, medos, elamitas, judeus, cretenses, arábios, romanos, etc.. Jesus dissera que os seus discípulos haveriam de falar em novas línguas (Mc 16:17).

Mesmo depois dessa primeira manifestação, outras pessoas também falaram em línguas quando o Espírito Santo se manifestou em suas vidas (At 19:6).

3. O Espírito Santo se manifesta de muitas formas. Em Hb 1:1, se diz que Deus falou aos homens muitas vezes e de muitas maneiras. Deus é Espírito (Jo 4:24). E a Bíblia relata em diversas passagens algumas das manifestações do Espírito que são evidenciadas como dons dados aos homens (Jr 32:17; 1 Co 12:28, Ef 4:11; Gl 5:22-23). Como se pode ver, o dom de falar em línguas se encontra entre os dons do Espírito Santo dado aos homens, mas, como está dito, nem todas as pessoas tem os mesmos dons, o que nos leva a concluir que o falar em línguas foi dado alguns e não para todos (1 Co 12:30).

4. Todos os dons tem um propósito determinado. Diz a Bíblia que os dons foram dados com vistas ao aperfeiçoamento dos santos para o serviço. Tanto o falar em línguas, como qualquer outro dom é como se fosse uma ferramenta de trabalho que Deus, pelo seu Espírito, nos dá, para que possamos realizar a Sua obra. A sua utilização é, portanto, de natureza prática. Tem que ter um proveito (1 Co 14:6). Se tenho que falar com alguém que não fala a minha língua, então o Espírito me permite aprender novas línguas que serão utilizadas no ministério. No início isso foi feito de forma miraculosa em relação a algumas pessoas, mas não em relação a todas (Cf. Ef 4:12; 1 Co 14:6, 23).

Paulo destaca que falava em muitas línguas (14:18). Paulo era um doutor da lei, um estudioso. Conhecia, com certeza, mais de uma língua, tanto é que falou aos gentios. É provável que um dos fatores que levou Jesus a escolhe-lo foi justamente o fato de lhe ter sido dada esta preparação prévia. Paulo foi um vaso escolhido (At 9:15). E é ele mesmo que diz, exemplificadamente, que os dons devem ser buscados, aprendidos e desenvolvidos (1 Co 14:39). E um detalhe, o dom de falar em línguas não é colocado como o mais importante dos dons.

5. A disciplina relativa ao falar em línguas. Também é importante que entendamos a forma como Deus opera. Ele não é um Deus de confusão (Rm 5:5; 1 Co 14:13). Sua obra não deve ser feita de qualquer maneira, indisciplinada (Jr 48:10). Tanto este, quanto qualquer outro dom, deve ser exercido com zelo e disciplina, por Deus é zeloso (Ex 20:5; Jo 2:17; Rm 12:8; 1 Co 12:31;14:1, 39). Assim, diz a Bíblia que todos devem aprender e desenvolver o dom de falar em línguas, para falar quando for oportuno, mas o mais importante é profetizar (1 Co 14:5). Em cada ocasião que falem apenas dois ou três (1 Co 14:27) e somente quando houver intérprete, alguém que conheça aquela língua e possa traduzi-la para os demais. Se não para beneficiar os ouvintes, a pessoa não deve falar (1 Co 14:28). O ato de falar em línguas não é para a glória do falante, mas para o cumprimento de uma missão. Se toda a platéia fala e entende português, qual é a necessidade de se falar em inglês?

6. A cessação do falar em línguas por meio do Espírito Santo. Diz a Bíblia que muitos dons perderão sua utilidade com o passar do tempo. E entre esses é colocado o dom de falar em línguas por meio de manifestação especial do Espírito Santo (1 Co 13:8). Hoje, qualquer pessoa pode aprender uma língua estranha, bastando estudar.
O Espírito Santo não está a serviço de nossos interesses pessoais, para satisfazer os nossos deleites e prazeres (2 Tm 3:2-4; Tt 3:3; Tg 4:1, 3). Ele está no mundo para fazer a obra redentora de Deus em face do homem pecador. Sua missão principal é convencer o mundo do pecado, da justiça e do juízo divino (Jo 16:8-9). Deus não faz aquilo que Ele já nos deu capacidade para fazer. A sua principal obra em nossas vidas é nos capacitar, destacando-se que os dons nos foram dados como meios de capacitação para a realização de sua obra (Ef 4:12).

7. O batismo com o Espírito Santo. Nós acreditamos no que diz a Palavra. Que o Espírito de Deus se manifesta em nossa vida, quando nós nos decidimos a aceitar a Jesus. É ele que nos convence de que somos pecadores (Jo 16:8-9) e nos leva a reconhecer que Jesus é o Senhor (1 Co 12:3). Diz a Bíblia que nós, ao aceitarmos a Jesus, nós somos selados com o Espírito Santo da promessa (Ef 1:13). Além disso, o próprio Senhor Jesus disse que o novo nascimento é obra do Espírito Santo (Jo 3:3-7).

Conclusão. O falar em línguas na igreja, não deve ser proibido (1 Co 14:39), mas também não deve ser ensinado como uma rotina, porque somente deve ser usada essa prática, quando ela for necessária e nas condições estabelecidas na Bíblia. Foi a primeira forma de manifestação do Espírito Santo quando Ele chegou à Terra, mas não podemos reduzir a manifestação do Consolador a apenas essa forma. Ele não veio aqui para nos ensinar outras línguas, mas para nos capacitar a continuar a obra redentora de Deus, levando a mensagem de salvação ao mundo e ensinando a todos a guardarem a Palavra de Deus. Se o falar em línguas não tem esse propósito, então não é coisa de Deus e deve ser uma prática coibida, mediante a ação julgadora dos irmãos (1 Co 14:29).

Eis a razão porque nós não damos tanta ênfase ao ato de falar em línguas e porque damos mais importância à pregação do evangelho e ao ensino da Palavra do que ao falar em línguas. Conservamos os ensinamentos da igreja neotestamentária, quando o movimento pentecostal, que surgiu em 1906, em Los Angeles, EUA, ainda não era uma realidade tão generalizada. Nesse sentido, pode-se dizer que somos ortodoxos, haja vista que seguimos, rigorosamente os princípios doutrinários estabelecidos pela Igreja do Novo Testamento.
"Uma paisagem em Primavera do Leste, MT"

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