segunda-feira, 11 de abril de 2022

A obra bem feita

 

A obra bem feita

Izaias Resplandes

Servi ao Senhor com alegria; e entrai diante dele com canto. Salmos 100:2.

Quando lemos o Gênesis, nós nos deparamos com o registro da criação de todas as coisas, de forma um pouco generalizada, ainda que tenhamos detalhes sobre como isso se deu, em alguns casos. Qual foi a finalidade dessa criação, tanto da natureza, como dos animais e do ser humano? Às vezes, numa abstração forçada, pensamos que Deus criou tudo por causa do homem. Seria esse o motivo? 

É verdade que a Terra é o lar do homem; e que Deus lhe deu o domínio sobre ela; e deu-lhe ainda toda a erva que dê semente e toda árvore que em que há fruto que dê semente, bem como todos os animais, da terra e do ar, para que lhe servisse de mantimento. Mas, será que por conta disso, a criação terrena e também o resto do universo, foi para atender ao homem?

Antes de continuar, vamos conferir os dados bíblicos sobre a criação do homem.

E disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança; e domine sobre os peixes do mar, e sobre as aves dos céus, e sobre o gado, e sobre toda a terra, e sobre todo o réptil que se move sobre a terra.

E criou Deus o homem à sua imagem; à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou.

E Deus os abençoou, e Deus lhes disse: Frutificai e multiplicai-vos, e enchei a terra, e sujeitai-a; e dominai sobre os peixes do mar e sobre as aves dos céus, e sobre todo o animal que se move sobre a terra.

E disse Deus: Eis que vos tenho dado toda a erva que dê semente, que está sobre a face de toda a terra; e toda a árvore, em que há fruto que dê semente, ser-vos-á para mantimento.

E a todo o animal da terra, e a toda a ave dos céus, e a todo o réptil da terra, em que há alma vivente, toda a erva verde será para mantimento; e assim foi. Gênesis 1:26-30.

Agora voltemos à reflexão.

Se pensarmos que Deus fez tudo para o homem, creio que estaremos fazendo uma inversão nas coisas, colocando Deus para servir ao homem, em vez de colocarmos o homem servindo a Deus.

É de ver que o homem foi criado para servir a Deus e não o contrário. Essa é uma resposta para a finalidade da criação do homem, a qual encontra respaldo por toda a Escritura Sagrada. Vejamos:

Dizendo: Este persuade os homens a servir a Deus contra a lei. Atos 18:13

Então voltareis e vereis a diferença entre o justo e o ímpio; entre o que serve a Deus, e o que não o serve. Malaquias 3:18.

Paulo, servo de Deus, e apóstolo de Jesus Cristo, segundo a fé dos eleitos de Deus, e o conhecimento da verdade, que é segundo a piedade. Tito 1:1

Mas agora, libertados do pecado, e feitos servos de Deus, tendes o vosso fruto para santificação, e por fim a vida eterna. Romanos 6:22.

Retomando o tema, é de perguntar para, exatamente, que serviço Deus criou o homem? Qual era a necessidade de Deus que justificava a criação do homem? 

Alguém pode dizer que Deus não tinha e nunca teve nenhuma necessidade. Mas isso não pode ser verdade. Se pensarmos dessa maneira, então, a interpretação lógica decorrente é a de que a criação do homem foi uma inutilidade, posto não atender a nenhuma necessidade. E isso também valeria para toda a criação. Mas, como não compactuo com a teoria da inutilidade, ao ler os versos sobre a criação do homem, vejo que Deus o criou para ocupar a Terra, governando-a, sujeitando-a e dominando-a. E essa foi a necessidade que vislumbrei para a criação do homem. 

É certo destacar que Deus não criou nada inútil. A mulher, por exemplo, foi criada para ser companheira do homem, porque não era bom que este estivesse só. Toda a criação tem um propósito.

Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo o propósito debaixo do céu. Eclesiastes 3:1

Que fareis, irmãos? Quando vos ajuntais, cada um de vós tem salmo, tem doutrina, tem revelação, tem língua, tem interpretação. Faça-se tudo para edificação. 1 Co 14:26.

Olhando mais atentamente para o início, vemos que a criação, em determinado momento estava um caos. E Deus reorganizou tudo, colocando cada coisa no seu devido lugar. Deus é o Eu sou, um ser organizado, que não gosta de bagunça e de desleixo. O homem, tendo sua imagem e semelhança, também foi dotado dessa capacidade de organização.

Deus não poderia deixar a sua linda criação, tão cheia de vida, alheia à própria sorte. A Terra deveria espelhar a glória de Deus, deveria ser ocupada, sujeitada e dominada para que cumprisse esse propósito. O homem foi criado com essa missão de mordomia, de cuidar da criação de Deus, para Deus.

Para Adão, sem os meios de locomoção, a Terra era ainda bem pequena. No princípio, o Jardim do Éden. Depois, com seus primeiros filhos, as adjacências dele. E, na medida em que se multiplicavam os filhos de Adão, eles foram ocupando, dominando e sujeitando toda a Terra. Hoje, somos quase oito bilhões de pessoas com essa responsabilidade de mordomia divina. E estamos bem distribuídos, de tal forma que, cada um de nós, pode exercer a finalidade de nossa existência no lugar onde estamos, para facilitar que isso seja feito da melhor forma possível, sem se tornar um fardo pesado para ninguém. Jesus disse: “o meu fardo é leve e o meu jugo, suave”.

A mordomia inclui cuidar da terra, dos animais, das plantas e das pessoas. Posteriormente, poderemos dissertar sobre os detalhes de todo esse serviço. Agora, queremos apenas dizer que ele deve ser feito com muita alegria e entusiasmo.

Em nossas ações de mordomia, devemos “servir ao Senhor com alegria” (Salmos 100:2). 

Devemos dar o melhor aproveitamento possível aos recursos disponíveis, evitando o desperdício. Assim nos ensinou o Grande Mestre. “E, quando estavam saciados, disse [Jesus] aos seus discípulos: Recolhei os pedaços que sobejaram, para que nada se perca. João 6:12.

Assistindo ao reality Masterchef, observei que uma das orientações do Chef é que os cozinheiros “valorizem os ingredientes”. E nas aulas de Economia, na Faculdade de Direito, também aprendi que em todas as sociedades, os bens existentes são limitados e insuficientes para atender às necessidades ilimitadas dos homens. Uma das formas de honrar a Deus e glorificá-lo com nossa mordomia, consiste na valorização da criação, usando tudo da forma mais adequada, para que haja uma maior disponibilidade para todos.

Quantas vezes já fiz referência ao péssimo hábito que as pessoas têm de deixar comida no prato e, que, depois vai para o lixo. O serviço comercial dos restaurantes contribuía muito para isso. A invenção do self service, cobrando cada grão que o cliente coloca no prato, atendeu à grande necessidade de controle nessa área, pois parece que o homem somente sente a dor, quando esta lhe atinge os bolsos.

Por outro lado, é possível de se ouvir que o homem tem invertido os papéis, deixando de glorificar a Deus para glorificar a si mesmo. Que, em vez de trabalhar para promover e fazer brilhar o reino de Deus sobre a Terra, o homem faz isso em seu próprio benefício, ou seja, buscando um brilho e resplandecimento próprio. Não digo que isso não aconteça. No entanto, sei que, se cumprirmos a nossa missão de forma brilhante, com certeza, nós também brilharemos junto com ela. Se nosso trabalho não for capaz de nos fazer brilhar junto com ele, certamente é porque não foi bem realizado. Não devemos trabalhar apenas para que possamos brilhar, mas sim para que a nossa boa obra brilhe mais do que nós, que, certamente, também brilharemos junto com ela. O bem-feito brilha, enquanto que o malfeito, ofusca.

Deus deseja pessoas eficientes e brilhantes cumprindo sua missão e, não apenas, servos inúteis que não fazem nada mais do que sua obrigação. A parábola dos talentos nos mostra o quanto ele é exigente com relação às missões que nos convoca para executar. Ele deseja nos recompensar pelas boas obras, mas deseja obras realmente de boa qualidade.

Assim diz a palavra: Assim também vós, quando fizerdes tudo o que vos for mandado, dizei: Somos servos inúteis, porque fizemos somente o que devíamos fazer. Lucas 17:10.

Ao finalizar, quero destacar que nós fomos chamados para fazer as boas obras que Deus, de antemão, preparou. Então, vamos fazê-las com alegria e entusiasmo, sempre da melhor forma possível. Não é errado brilhar junto com a obra que fizermos. Errado é não fazer uma obra brilhante. Que Deus nos abençoe!


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