RECEBENDO JESUS
Izaias Resplandes de Sousa
A todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, aos que creem no seu nome; os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus., João 1:12-13.
O texto apresenta uma das maiores complexidades de entendimento por parte das diversas denominações cristãs, ainda que, em nosso entendimento, isso não é tão complexo quanto possa parecer. Trata-se do processo de nascimento dos filhos adotivos de Deus.
Pelo texto, isso ocorre quando alguém recebe o Deus Filho Unigênito, Jesus Cristo. Esse recebimento carimba o passaporte, tanto para a transformação, quanto para o ingresso no reino dos Céus. E, no próprio versículo já é apresentada uma equivalência do que seja esse recebimento.
Receber Jesus é um ato de fé praticado por aqueles que creem no seu nome. Então, tudo começa com o crer em Jesus.
Quem é o Jesus em quem eu devo crer e receber para que Ele, por sua graça e dádiva me torne um filho de Deus?
Isso pode parecer bastante óbvio, mas não é tanto assim. A Bíblia, em João 9, relata um caso em que Jesus curou um cego de nascença e que repercutiu no meio eclesiástico da época. O homem, depois de ser interrogado duas vezes pelas autoridades farisaicas, que interrogaram também os seus pais, acabou sendo expulso da sinagoga por conta de suas respostas, haja vista que eles tinham decidido que expulsariam da sinagoga qualquer um que confessasse ser Jesus o Cristo. E, por conta disso, o ex-cego teve uma nova oportunidade de se encontrar com Jesus. E assim foi a conversa deles: “Crês tu no Filho de Deus? Ele respondeu, e disse: Quem é ele, Senhor, para que nele creia? E Jesus lhe disse: Tu já o tens visto, e é aquele que fala contigo. Ele disse: Creio, Senhor. E o adorou”. João 9:35-38.
Tiago também traz ao debate uma pergunta semelhante a essa: Crês, tu, na existência de um só Deus? Fazes bem! Até mesmo os demônios creem e tremem! (Tiago 2:19).
Jesus é o Deus Filho Unigênito e forma uma unidade com o Pai e o Espírito Santo, a Santíssima Trindade. Nós cremos nisso?
Jesus o Verbo Criador. Todas as coisas foram feitas por Ele e sem Ele nada do que foi feito se fez. Nós cremos nisso?
Jesus é o Filho que a Divindade Santíssima deu ao mundo, como Cordeiro para ser sacrificado, para que todo o que nele crê, não pereça, mas tenha a vida eterna. Ele é o Senhor de todas as coisas; e também “é sobre todos, Deus bendito eternamente, amém!” (Romanos 9:5). Nós cremos nisso?
O processo de adoção começa pelo conhecimento do adotante e pelo reconhecimento de quem Ele é. Ele veio, inicialmente, “para o que era seu”, “as ovelhas perdidas da casa de Israel” (Jo 1:11; Mt 15:24). Ele era o Senhor e o dono dessas ovelhas. Mas elas não o reconheceram e, muito menos, o receberam como Rei e Senhor. “Tendo conhecido a Deus, não o glorificaram como Deus, nem lhe deram graças, antes em seus discursos se desvaneceram, e o seu coração insensato se obscureceu” (Romanos 1:21).
A pregação da Palavra tem o objetivo de proporcionar o conhecimento que leva ao reconhecimento de quem é Jesus, possibilitando o desenvolvimento da fé nele para nos salvar das consequências de nossos pecados. “A fé vem pelo ouvir” (Romanos 10:17). Nós temos fé em Jesus suficiente para crer que Ele nos possa salvar?
Então, o ponto inicial do processo de transformação de um homem natural em um filho de Deus se desencadeia a partir de nossa fé de que Jesus seja mesmo o Filho de Deus, ou, em outras palavras, o Deus Filho Unigênito.
Mas não basta apenas crer.
Se sabemos quem é Jesus e temos fé nele para nos salvar, só nos resta recebê-lo. Como? Exatamente da forma que aqueles para os quais ele veio deveriam recebê-lo, ou seja, devemos recebê-lo como nosso Senhor e Salvador.
Quando Jesus nasceu, o anjo anunciou a boa nova aos pastores que guardavam seus rebanhos nas vigílias da noite. E “o anjo lhes disse: Não temais, porque eis aqui vos trago novas de grande alegria, que será para todo o povo: Pois, na cidade de Davi, vos nasceu hoje o Salvador, que é Cristo, o Senhor. (Lucas 2:10,11). Não basta saber e conhecer quem é Jesus. É preciso recebê-lo como Senhor e Salvador.
Se eu creio que Jesus é o Deus Filho Unigênito, o Senhor e Salvador e se o recebo como tal, Ele me concede, por graça, o poder de ser feito filho de Deus.
Já perguntamos quem é Jesus, o Filho de Deus, para que nele possamos crer. E já temos a resposta. O ex-cego de nascença que Jesus abriu os olhos para ver nos mostra o que deve vir em seguida. Ele disse: “Eu creio. E o adorou” (João 9:38).
O ato de receber Jesus como Deus, Senhor e Salvador não se confunde com uma mera confissão, com um levantar de mãos, mas com uma mudança de atitude em relação a ele. O ex-cego entendeu tudo o que tinha de fazer. E fez!
Paulo diz aos romanos que o “evangelho de Cristo, é o poder de Deus para salvação de todo aquele que crê” (Romanos 1:16). E vemos que esse crer é um ato que tanto pode decorrer do conhecimento natural já inscrito no DNA do ser humano pelo próprio Deus, como também pode exsurgir do ouvir a pregação de sua Palavra. Mas, infelizmente, muitos, mesmo com todo esse conhecimento de “Deus, não o glorificaram como Deus, nem lhe deram graças, antes em seus discursos se desvaneceram, e o seu coração insensato se obscureceu” (Romanos 1:21).
Aqui temos um contraste de duas atitudes: a do ex-cego que ao reconhecer Jesus como o Deus Unigênito, o adora; e a de outros, que ignora o que lhe é dado conhecer. O ex-cego muda de atitude, os outros continuam na mesma, fazendo discursos para se justificarem do que não pode ser justificado.
O maior enfoque que as pessoas dão para o ato de receber a Jesus é a confissão, nos moldes trazido pelo apóstolo Paulo: “Se com a tua boca confessares ao Senhor Jesus, e em teu coração creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo” (Romanos 10:9). Mas tanto essa confissão, quanto o crer que Deus ressuscitou Jesus, além de não serem apresentados como a única forma de se receber a Jesus, somente tem valor se forem seguidos de uma mudança de atitude. Não adianta nada confessar uma coisa, mas, na prática, continuar fazendo tudo do jeito que sempre fez. A Bíblia diz que se a gente é uma nova criatura, “as coisas velhas já passaram, eis que tudo se fez novo” (2 Co 5:17).
Tiago fala claramente a respeito de como podemos demonstrar a nossa fé em Jesus, por meio do exercício da misericórdia. Ele diz que “o juízo será sem misericórdia sobre aquele que não fez misericórdia; e a misericórdia triunfa do juízo. Meus irmãos, que aproveita se alguém disser que tem fé, e não tiver as obras? Porventura a fé pode salvá-lo? E, se o irmão ou a irmã estiverem nus, e tiverem falta de mantimento quotidiano, E algum de vós lhes disser: Ide em paz, aquentai-vos, e fartai-vos; e não lhes derdes as coisas necessárias para o corpo, que proveito virá daí? Assim também a fé, se não tiver as obras, é morta em si mesma. Mas dirá alguém: Tu tens a fé, e eu tenho as obras; mostra-me a tua fé sem as tuas obras, e eu te mostrarei a minha fé pelas minhas obras” (Tiago 2:13-18).
Nós vivemos um tempo de muita hipocrisia, de muita falação, falas sobre a ação, mas com pouca ou nenhuma ação, de fato. Isso é muito grave!
Nós vemos um apegamento às coisas secundárias, aos detalhes de somenos importância quando comparados com a essência das ações; nós vemos uma priorização para o juízo e a justiça, que certamente poderão ser exercidos por Deus, mas nós devemos evitar, porque o que Deus quer de nós é misericórdia e não juízo. Além disso, o juízo é inferior quando comparado com a misericórdia. Por isso diz Tiago que “a misericórdia triunfa do juízo” (Tg 2:13).
Devemos pregar a misericórdia de Deus com prioridade absoluta. Não é por acaso que Jesus disse: “se vós soubésseis o que significa: Misericórdia quero, e não sacrifício, não condenaríeis os inocentes” (Mateus 12:7).
Não é por acaso que Jesus disse que não conhecerá no dia do juízo, aqueles que não praticaram a misericórdia e que eles ficarão de fora de seu reino.
Assim diz a Palavra: “E quando o Filho do homem vier em sua glória, e todos os santos anjos com ele, então se assentará no trono da sua glória; E todas as nações serão reunidas diante dele, e apartará uns dos outros, como o pastor aparta dos bodes as ovelhas; E porá as ovelhas à sua direita, mas os bodes à esquerda. Então dirá o Rei aos que estiverem à sua direita: Vinde, benditos de meu Pai, possuí por herança o reino que vos está preparado desde a fundação do mundo; Porque tive fome, e destes-me de comer; tive sede, e destes-me de beber; era estrangeiro, e hospedastes-me; Estava nu, e vestistes-me; adoeci, e visitastes-me; estive na prisão, e foste me ver. Então os justos lhe responderão, dizendo: Senhor, quando te vimos com fome, e te demos de comer? ou com sede, e te demos de beber? E quando te vimos estrangeiro, e te hospedamos? ou nu, e te vestimos? E quando te vimos enfermo, ou na prisão, e fomos ver-te? E, respondendo o Rei, lhes dirá: Em verdade vos digo que quando o fizestes a um destes meus pequeninos irmãos, a mim o fizestes. Então dirá também aos que estiverem à sua esquerda: Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno, preparado para o diabo e seus anjos; Porque tive fome, e não me destes de comer; tive sede, e não me destes de beber; Sendo estrangeiro, não me recolhestes; estando nu, não me vestistes; e enfermo, e na prisão, não me visitastes. Então eles também lhe responderão, dizendo: Senhor, quando te vimos com fome, ou com sede, ou estrangeiro, ou nu, ou enfermo, ou na prisão, e não te servimos? Então lhes responderá, dizendo: Em verdade vos digo que, quando a um destes pequeninos o não fizestes, não o fizestes a mim. E irão estes para o tormento eterno, mas os justos para a vida eterna”. (Mateus 25:31-46).
Eu creio que muitas pessoas estão deixando de entrar no Reino de Deus por conta das formalidades e rituais estabelecidos pelas igrejas, onde os detalhes são vistos como mais importantes do que a essência. Jesus disse aos que se apegam aos detalhes, que deviam cumpri-los, já que julgavam-nos importantes, mas sem deixar de fazer as coisas essenciais. Ele disse: “Ai de vós, fariseus, que dizimais a hortelã, e a arruda, e toda a hortaliça, e desprezais o juízo e o amor de Deus. Importava fazer estas coisas, e não deixar as outras”. (Lucas 11:42).
Ao concluir, entendo que receber a Jesus como Senhor e Salvador, tornar-se seu discípulo, significa seguir os seus passos e agir como ele agia. Exercer agora uma missão de misericórdia, de salvação, de socorro e de boas obras e deixar o juízo para que Ele o faça e da forma que Ele entender. Somos totalmente estranhos ao Senhor quando damos prioridade e ênfase ao juízo e à justiça de Deus. Nós não somos chamados e não fomos salvos para isso. Conforme o apóstolo Paulo, aos efésios, nós fomos salvos para as boas obras, às quais Deus de antemão preparou para que andássemos por elas (Ef 2:10).
As pessoas tem muitos motivos para buscarem a Jesus. Não vamos julgá-las e nem correr com elas do nosso meio. Deixemos que o Espírito Santo faça a obra de edificação da Igreja. Sejamos apenas instrumentos de sua misericórdia.
Que Deus nos abençoe!
Um comentário:
Excelente mensagem. Eu tenho pensado muito sobre este dom de misericórdia. A essência do Evangelho.
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