domingo, 28 de março de 2021

A Potencialização de Recursos

 

A Potencialização de Recursos



Izaias Resplandes de Sousa


Disse-lhe o seu senhor: Bem está, bom e fiel servo. Sobre o pouco foste fiel, sobre muito te colocarei; entra no gozo do teu senhor. Mateus 25:23

1. Introdução. Temos grande prazer em nos dirigir aos nossos irmãos do Amazonas, principalmente porque temos muito em comum, haja vista que nós também somos Amazônidas.

A atual área de abrangência da Amazônia Legal brasileira corresponde à totalidade dos estados do Acre, Amapá, Amazonas, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima, Tocantins e parte do estado do Maranhão (a oeste do meridiano de 44º de longitude oeste), perfazendo uma superfície de aproximadamente 5 217 423 quilômetros quadrados.

Eu nasci em Torixoréu, às margens do rio Araguaia e minha esposa é da cidade de Nova América, uma cidade do vizinho estado de Goiás. Há dezenas de anos vivemos em Poxoréu, MT, na altura do paralelo 16º de latitude sul. E também fazemos parte da Amazônia Legal. Nós também somos Amazônidas, ou seja, somos nativos da Amazônia.

Existem dois tipos de florestas aqui: a Floresta Amazônica e a Floresta Estacional. Elas ocupam cerca de 50% do território mato-grossense.

Dentre os rios amazônicos deste Estado destacam-se o Juruena, o Guaporé, o Teles Pires, o Xingu, o Araguaia/Tocantins e muitos outros. O rio Teles Pires, por exemplo, é um curso de água que banha os estados de Mato Grosso e Pará. Sua nascente fica localizada no município de Primavera do Leste (desmembrado de Poxoréu), tendo uma extensão de 1457 km até o encontro com o rio Juruena, grande afluente do rio Tapajós, em Barra de São Manoel. O rio das Mortes, que banha o município de Poxoréu ao norte é o principal afluente do rio Araguaia, que vai desaguar no Tocantins e depois no mar, ao lado do rio Amazonas.

Como se vê, temos muitas coisas em comum. E nesta oportunidade, queremos compartilhar um pouco de nossas práticas para a potencialização de nossos recursos em prol de uma boa qualidade de vida.


Ninguém o despreze pelo fato de você ser jovem, mas seja um exemplo para os fiéis na palavra, no procedimento, no amor, na fé e na pureza. ! Timóteo 4:12


2. O bom exemplo. Eu sempre digo que um exemplo é para quem quer um exemplo. Se os nossos exemplos de vida puderem ser uteis, nós ficaremos felizes. Mas não contenderemos com os irmãos que tiverem outras práticas que considerarem melhores do que as nossas. Pelo contrário, esperamos ter a oportunidade de um dia conhecê-las e, quem sabe, adotá-las também. Nós somos pessoas de mentes abertas.

E estamos prontos para ver, ouvir, compreender, experimentar e, se gostarmos, compartilhar com os demais. Recentemente, o missionário Isaias da Silva Almeida compartilhou um vídeo conosco, ensinando como conservar o abacate por meses. Como nós temos aqui em casa alguns abacateiros e não conseguimos consumir tudo, resolvemos colocar em prática o exemplo dado por ele e hoje temos abacates congelados para quando não tiver mais abacates.


E Jesus tomou os pães e, havendo dado graças, repartiu-os pelos discípulos, e os discípulos pelos que estavam assentados; e igualmente também dos peixes, quanto eles queriam. E, quando estavam saciados, disse aos seus discípulos: Recolhei os pedaços que sobejaram, para que nada se perca. Recolheram-nos, pois, e encheram doze alcofas de pedaços dos cinco pães de cevada, que sobejaram aos que haviam comido. João 6:11-13


3. O combate ao desperdício. Nós somos oriundos de famílias com poucos recursos. Éramos adolescentes quando nossas famílias se mudaram para Goiânia, GO. Éramos famílias numerosas. Na minha casa, éramos 13 pessoas. Na casa de Lourdes, eles eram 8 pessoas. Nossos pais não tinham profissão e trabalhavam em serviços braçais pouco remunerados. Nossa comida era a mais básica possível: arroz, feijão e farinha. Tínhamos vontade de comer frutas, verduras, carne e ovos, mas essas coisas não faziam parte de nosso cardápio. Não tínhamos condições nem para comprar pães para comermos de manhã. Íamos e voltávamos para a escola sem comer nada. No almoço, que no máximo era um prato para cada um, costumávamos deixar um pouco para comer mais tarde. Chamávamos esse resto de “égua atolada”. E ai de quem desatolasse a égua do outro. Minha madrasta chegou a cortar os longos cabelos para vender e assim comprar uniforme para os filhos. Aos poucos, fomos aprendendo a trabalhar na rua e na feira. E ajudávamos a família com algum dinheirinho. E então se comprava alguma carne e verduras. As carnes compradas eram as cabeças, pescoços e pés de galinha e as verduras, eram as pontas de feira. Minha madrasta ia na feira quando ela já estava quase acabando e aí comprava os restos por um preço bem menor.

Depois de anos vivendo essas experiências amargas, nós aprendemos a dar mais valor na comida e trouxemos essa educação para os nossos filhos e para a nossa casa.

Nós não jogamos comida no lixo. Embora minha esposa faça sempre um pouco mais do que nós comeremos, para atender alguém que possa chegar de última hora, quando terminamos a refeição, ela guarda todas as sobras. Até uma fatia de tomate é guardada. E depois comemos o que sobrou nas refeições seguintes.

Aprendemos com Jesus que as sobras devem ser ajuntadas para que nada se perca. E assim fazemos.

Certa vez, em Rio dos Crentes, eu vi um missionário comendo o resto que seus filhos haviam deixado nos pratos. Fiquei impressionado! Primeiro, ele esperou os filhos comerem. Depois ajuntou o que eles deixaram de sobra e comeu. E somente depois foi à panela para completar suas necessidades. Ele não desperdiçou nenhum grão de alimento. Aprendi que é assim que se faz.

Os recursos são sempre limitados. Mas podem ser potencializados por nossas boas práticas.

Em nossa casa, temos dois cestinhos para o lixo na pia da cozinha. Em um, colocamos o lixo seco: plásticos, latas e ossos. No outro, colocamos o orgânico: cascas de frutas e verduras. O lixeiro somente leva o lixo seco. O orgânico nós levamos para o quintal, onde as nossas galinhas aproveitam o que pode e o restante vira adubo.

Em nosso quintal, que hoje eu chamo de Mata do Vô, há 26 anos não nascia praticamente nada.

O terreno era o caminho das enxurradas que lavava tudo. Havia apenas algumas árvores. Desde então, as folhas dessas árvores nunca foram queimadas. Muramos o terreno e não deixamos nem saída para as águas da chuva. O que cai no terreno, fica no terreno. Hoje, temos uma variedade de plantas frutíferas. E, se perfurarmos o chão nas partes mais baixas, devemos encontrar uns 30 centímetros ou mais de terra preta, que foi produzida ao longo desses anos, através da decomposição de matéria orgânica. Nós pegamos dessa terra para estercar as plantas. Agora, tudo o que se planta, dá. Pode não dar muito, porque plantamos muito amontoado, mas temos frutas o ano todo. E mandioca e carás também. Neste ano eu plantei inhames.

Nós somos felizes porque tivemos bons exemplos. Na casa de meu sogro, em Goiânia, eles não apenas plantavam o quintal, mas aproveitavam até os locais das calçadas para plantar batatas. Na casa de meu pai, além do nosso quintal, nós plantávamos nos dois terrenos vizinhos ao nosso que estavam vagos. Na casa de minha mãe, nós comíamos mandioca frita no café da manhã.

Em Cristalândia, GO, o prefeito limpa os terrenos baldios e as pessoas plantam feijão neles. E estão tendo grandes colheitas.


Enquanto a terra durar, sementeira e sega, e frio e calor, e verão e inverno, e dia e noite, não cessarão. Gênesis 8:22.


4. O ciclo da vida. Aprendemos que a vida planejada por Deus é cíclica. Assim sendo, o que acontece hoje, voltará a acontecer depois de um determinado espaço de tempo. De ano em ano temos o inverno da seca e o verão das chuvas. A Terra dá um giro em torno de seu próprio eixo em 24 horas e uma volta em torno do sol em 365 dias e algumas horas. O cometa Halley passa pela Terra a cada 75/76 anos. Vimos que é preciso conhecermos os ciclos e aprendermos a viver com eles, para tirarmos o máximo de proveito de cada temporada.


As formigas não são um povo forte; todavia no verão preparam a sua comida. Provérbios 30:25.


5. É preciso fazer hoje para se ter amanhã. Aprendemos que em cada temporada de tempo bom, de chuvas abundantes e de vacas gordas, nós devemos nos esforçar para produzirmos o máximo que for possível, a fim de que tenhamos o necessário para o atendimento de nossas necessidades na referida temporada boa e nas seguintes, porque não temos garantia de que amanhã teremos o que precisamos.

Eu tinha 27 anos quando me casei com Lourdes e não tinha nada, embora tivesse ganho muito dinheiro. Naquele tempo, infelizmente, eu não tinha aprendido que é preciso fazer hoje para se ter amanhã. Quando eu tinha, eu esbanjava. Eu praticava aquele ditado que diz: “quem nunca comeu melado, quando come se lambuza!”. E quando eu ficava desempregado e sem dinheiro, eu ia para a casa de meus pais. E eu achava que isso era perfeitamente normal. Só que não era. A Bíblia diz que “quem não trabalha, também não coma”. Mesmo depois de casado, ainda quis viver sob a sombra de meu pai, o qual fazia de tudo para que eu aprendesse a viver, sem grandes resultados. E quando ele começou a regrar e me puxar o tapete no atendimento das minhas necessidades, eu apelei e decidi deixá-lo. Naquele momento, foi muito doloroso. Mas, graças a Deus que aconteceu. A partir daquele dia, eu aprendi que, abaixo de Deus, eu deveria contar era comigo mesmo. E então decidi mostrar para o meu pai que eu não precisava dele para sobreviver. E ainda que a motivação não tenha sido a melhor de todas, ela deu certo.

A partir de 1986, quando deixei a casa de meu pai, sem nenhum centavo no bolço, com a mulher à beira de dar a luz ao nosso primeiro filho e apenas com as malas de roupa, eu dei um outro rumo para a nossa vida. Viemos para Poxoréu, onde minha mãe morava. Ficamos na casa dela por dois meses, até que Lourdes passasse pelo reguardo de nosso filho, o qual nasceu nove dias depois que chegamos. Fui trabalhar na Prefeitura. Depois do resguardo de Lourdes fomos morar em uma casinha de 25 metros quadrados: sala, cozinha, quarto e banheiro. E tinha um quintal, o qual cercamos de tela e plantamos uma bela horta. Plantamos toda a área. Até as cercas serviam de suporte para plantas trepadeiras. Lourdes e eu saíamos pelos cerrados e pastos de fazendas vizinhas à cata de estrume de gado para esterco em nossa horta.

Trabalhamos arduamente. O salário que recebia era usado para comprar comida, roupas, pagar os móveis e um lote à prestação que tínhamos adquirido. Depois construímos nossa primeira casa. E compramos outros lotes ao lado dela. E plantávamos tudo. Assim, ficamos livres do aluguel e garantimos que teríamos comida na mesa, caso ficássemos desempregados, mesmo que fosse guariroba, mandioca, batata, cará e frutas. Mas não fiquei desempregado. Pelo contrário, arrumei mais um emprego, considerando-o como um plano B de sobrevivência. Me tornei professor do Estado. No entanto, nunca esbanjamos o que ganhamos. Tirávamos o necessário para nossa manutenção e o restante nós investíamos em novos planos de sobrevivência.

Tempos depois comprei um sítio à prestação, que era para ser o plano C. Mas terminei trocando ele por um mercado, o Mercado Torixoréu. E nesse mercado, minha mulher e meus filhos trabalharam durantes muitos anos. Ele foi o nosso plano C.

Trabalhava de dia e de noite. Mesmo assim ainda voltei a estudar. As aulas eram nos feriados, férias e fins de semana. E assim, consegui fazer meu primeiro curso superior, chamado curso de férias, oferecido na minha cidade pela Universidade Federal de Mato Grosso. E me formei em Pedagogia. Fui reclassificado e meu salário no Estado aumentou. Com o incremento, fiz duas pós-graduação, uma na área administrativa voltada para a Prefeitura e outra na área de educação, que também contribuiu para o aumento do meu salário no Estado. Depois fiz o curso de Matemática na UFMT e Direito na UNIC, polos de Primavera do Leste. Eu ia e voltava todos os dias. Formado em Matemática, fiz meu segundo concurso de professor no Estado. Deixei a Prefeitura de Poxoréu. E tomei posse na segunda cadeira no Estado. Troquei de plano A. Estou aposentado nessas duas cadeiras (Planos A e B). Nós paramos com o Mercado Torixoréu em 2013 (perdemos o plano C). Só que não, pois em 2010 me tornei advogado e, até hoje exerço essa profissão (que é meu novo plano C). Ao longo desses anos, usei os recursos para construir algumas casas que alugo. O aluguel delas é o meu plano D.

Entendemos que é muito importante a gente trabalhar hoje pensando no amanhã. Defendemos que o sacrifício hoje vale a pena para que possamos ter um amanhã melhor. O sacrifício é temporal e passageiro, não é pela vida toda. Mas, se não fizermos hoje, o que hoje podemos fazer, então sofreremos privações tanto hoje, quanto amanhã. Ainda que possamos ser socorrido em nossas necessidades, normalmente esse socorro se dá com apenas o mínimo necessário para viver, não permitindo o desfrute do lazer e de outros prazeres.


Por isso, vos digo: não andeis ansiosos pela vossa vida, quanto ao que haveis de comer ou beber; nem pelo vosso corpo, quanto ao que haveis de vestir. Não é a vida mais do que o alimento, e o corpo, mais do que as vestes? Mateus 6:25.


6. Ansiedade e investimento. Aprendemos que a ansiedade sobre a sobrevivência futura é uma doença e deve ser evitada. Isso não significa que não devemos fazer nada para termos um futuro melhor. Muito pelo contrário. As ações de investimentos em nosso futuro são meios de cura da ansiedade em relação a ele. Aquele cuja sobrevivência depende apenas de um plano, pode ficar em situação difícil se esse plano falhar. Mas se temos dois ou mais planos, falhando um ainda teremos os outros.

José, quando foi chefe de governo do Egito instituiu a poupança obrigatória de 20% de toda a produção do país para atender eventuais emergências futuras.


Faça isso Faraó, e ponha administradores sobre a terra, e tome a quinta parte dos frutos da terra do Egito nos sete anos de fartura. Ajuntem os administradores toda a colheita dos bons anos que virão, recolham cereal debaixo do poder de Faraó, para mantimento nas cidades, e o guardem. Assim, o mantimento será para abastecer a terra nos sete anos da fome que haverá no Egito; para que a terra não pereça de fome”. Gênesis 41:34-36.

E José estabeleceu por lei até ao dia de hoje que, na terra do Egito, tirasse Faraó o quinto; só a terra dos sacerdotes não ficou sendo de Faraó. Gênesis 47:26.


José não estava ansioso em relação aos problemas futuros, principalmente porque ele estava tomando providências para evitá-los. Aprendemos que é assim que devemos proceder. Preocupar-se com a melhoria das condições de vida futura não tem nada a ver com ansiedade, mas sim com responsabilidade.

Entendemos e praticamos isso, por entender que é isso que Deus espera de nós.

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