O CAMINHO DA GRAÇA
Texto Base: Mateus 5:1-12
Tema: As Bem-Aventuranças: O Perfil do Cidadão do Reino
Expositor: Izaias Resplandes
Data: 13 de Dezembro de 2025
I. INTRODUÇÃO E CONTEXTO
A Paz do Senhor a todos. Sejam muito bem-vindos à nossa reunião.
Hoje, nós vamos mergulhar no texto mais famoso de Jesus Cristo: o início do Sermão do Monte, conhecido como "As Bem-Aventuranças". Mas, antes de lermos o texto, eu preciso compartilhar com vocês o lugar de onde eu falo hoje.
Vocês sabem que este ano de 2025 foi um ano divisor de águas para mim e para a minha família. Foi um ano marcado pela dor da despedida. Do lado da minha esposa Lourdes, perdemos o Seu João e a Tia Divina. Do meu lado, a dor cortante de perder minha mãe, Dona Maria Resplandes, e minha Tia Deusina.
Por que começo falando de luto? Porque, diante do leito de um hospital, ouvindo médicos falarem em "cuidados paliativos" e vendo a vida se esvair, nós somos confrontados com a nossa total impotência. Ali, dinheiro não resolve. Influência não resolve. A nossa força braçal não resolve. Ali, nós descobrimos que não temos controle de nada.
E foi exatamente essa experiência de impotência humana que abriu os meus olhos para entender o que Jesus está dizendo em Mateus 5. Durante muito tempo, eu achei que o cristianismo era uma escada que eu subia: eu fazia penitências, eu fazia orações, eu acumulava méritos para chegar até Deus. Mas, neste texto, Jesus nos mostra que o caminho não é subir, é descer. É reconhecer que não temos nada.
Jesus sobe ao monte — assim como Moisés subiu no Sinai — não para trazer uma lei de condenação, mas para descrever quem é a pessoa que foi transformada pela Graça. Ele usa a palavra "Bem-aventurado" (Makarios), que significa "Mais que feliz", "Aprovado por Deus".
Vamos ler juntos Mateus 5:1-12.
Irmãos, as Bem-Aventuranças não são frases soltas, como biscoitos da sorte. Elas são uma sequência lógica. É uma escada. Ninguém chega no degrau 8 sem passar pelo degrau 1. Vamos dividir nosso estudo em três partes: O Esvaziamento (nossa relação com Deus), o Enchimento, e o Transbordamento (nossa relação com o próximo).
II. O ESVAZIAMENTO: A NOSSA CONDIÇÃO DIANTE DE DEUS
Tudo começa no interior. Ninguém pode ser cidadão do Reino se estiver cheio de si mesmo.
1. "Bem-aventurados os pobres de espírito..." (v.3)
A primeira coisa que Jesus ataca é o nosso orgulho.
O que significa ser "pobre de espírito"? Durante um tempo, eu confundi isso com pobreza material. Achei que precisava vender tudo para ser salvo. Mas o texto original grego usa uma palavra fortíssima: ptochos.
Não é o pobre que tem pouco. É o mendigo absoluto. É aquele que está agachado na esquina, que não tem nada, absolutamente nenhum recurso, e depende 100% da caridade alheia para sobreviver.
Jesus está dizendo: "Feliz é aquele que olha para a sua conta bancária espiritual e vê que o saldo é zero."
Eu aprendi isso a duras penas. Eu achava que minhas boas obras ajudavam na minha salvação. Mas descobri que, diante da santidade de Deus, eu sou um mendigo espiritual. Eu não posso comprar minha entrada no céu. Eu dependo exclusivamente da esmola da Graça de Deus.
Aplicação: Se você acha que é "uma pessoa boa" e que Deus te deve a salvação, você ainda não entrou no Reino. O Reino pertence aos falidos espiritualmente que clamam por socorro.
2. "Bem-aventurados os que choram..." (v.4)
Qual é a reação natural quando você descobre que está falido, que é um mendigo espiritual? Você chora.
Mas atenção: este não é o choro da vitimização ("coitadinho de mim"). É o choro do arrependimento.
A palavra grega é penthos, usada para o luto profundo.
É chorar e dizer: "Meu Deus, como eu fui arrogante! Como eu tentei roubar a Tua glória achando que eu podia me salvar!".
Neste ano, eu chorei muito a morte física dos meus pais. Mas esse versículo fala de chorar a morte dos nossos pecados.
E aqui entra um consolo maravilhoso: "Porque serão consolados".
Quem chora o choro do arrependimento recebe o abraço do Perdão. O mundo diz "não chore, seja forte". Jesus diz "chore, derrame sua alma, e Eu te consolarei".
3. "Bem-aventurados os mansos..." (v.5)
Agora, observe a sequência. Se eu admiti que sou um mendigo (v.3) e chorei pelas minhas falhas (v.4), eu não tenho mais moral para ser arrogante com ninguém. Eu me torno Manso.
Manso não é frouxo. Manso não é bobo.
No grego, a palavra praus era usada para descrever um cavalo selvagem que foi domado. O cavalo perdeu a força? Não! Ele continua forte, mas agora a sua força está sob o controle do cavaleiro.
Harmonização Teológica:
Muitos me perguntam: "Izaias, ser pobre de espírito e manso significa ficar sentado esperando Deus fazer tudo?"
Não! Deus não faz o que nós podemos fazer. Nós plantamos e regamos. Mas a mansidão reconhece que quem dá o crescimento é Deus.
Nós somos as mãos e os pés de Jesus na terra, mas Ele é a Cabeça. O manso age, trabalha, advoga, cuida da família, mas ele não confia no seu próprio braço. Ele confia no Senhor. Ele parou de brigar para se autoafirmar. Ele herdará a terra porque entregou o controle a Deus.
III. O ENCHIMENTO: A GRANDE VIRADA
Aqui chegamos ao centro do Sermão.
Se nos versos 3, 4 e 5 nós nos esvaziamos (do orgulho, da autossuficiência, da agressividade), agora ficou um buraco. Ficou um vácuo. E a natureza não gosta de vácuo. Nós precisamos ser preenchidos.
4. "Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça..." (v.6)
Jesus não diz "aqueles que têm uma leve vontade de justiça". Ele diz Fome e Sede.
Isso é desespero de sobrevivência.
Depois que eu descobri que minhas obras não salvam, eu tive uma fome desesperada da justiça de Deus.
* A Justiça da Salvação: Querer estar certo com Deus, justificado pelo sangue de Cristo.
* A Justiça da Vida: Querer viver de forma correta, santa, íntegra.
A promessa é linda: "Porque serão fartos".
O mundo nos oferece prazeres que nunca saciam (dinheiro, fama, vícios). Quanto mais você bebe da água do mundo, mais sede você tem. Mas quem tem fome de Deus, recebe o próprio Deus. E Ele nos enche até transbordar.
IV. O TRANSBORDAMENTO: NOSSA RELAÇÃO COM O PRÓXIMO
Agora, prestem atenção na mudança.
Até o versículo 6, tudo foi entre eu e Deus. Agora, do versículo 7 em diante, é o que acontece quando eu estou cheio de Deus e me volto para as pessoas. Quem é cheio, transborda.
5. "Bem-aventurados os misericordiosos..." (v.7)
Se eu fui perdoado de uma dívida impagável (meus pecados), como posso eu não perdoar as pequenas ofensas do meu irmão?
A misericórdia é o reflexo inevitável da Graça.
Irmãos, nós temos uma tendência terrível de julgar. Nós julgamos até os mortos! Quantas vezes já ouvimos: "Fulano morreu, mas não aceitou Jesus do jeito certo, então...".
Quem somos nós? A misericórdia de Deus é de eternidade a eternidade. Deus é soberano para salvar quem Ele quiser, no último suspiro se Ele quiser.
A nossa função não é julgar, é exercer misericórdia. É olhar para a dor do outro e sentir junto.
"Porque alcançarão misericórdia". Não é um comércio. É uma evidência: só quem dá misericórdia prova que realmente recebeu misericórdia.
6. "Bem-aventurados os limpos de coração..." (v.8)
A misericórdia cuida das ações, a pureza cuida das intenções.
Os fariseus lavavam as mãos, mas o coração estava sujo. Ser "limpo de coração" significa não usar máscaras. Significa integridade.
O meu "sim" é sim, o meu "não" é não. Eu não faço o bem para ser visto, eu faço o bem porque fui transformado por dentro.
E a promessa é a maior de todas: "Eles verão a Deus". Quem tem o coração purificado pela fé começa a ver a mão de Deus em tudo, até nas dificuldades, até no luto.
7. "Bem-aventurados os pacificadores..." (v.9)
E, finalmente, o cristão maduro se torna um Pacificador.
Cuidado: não é ser "pacífico" (aquele que foge da briga por medo).
O Pacificador entra no conflito para resolver. Ele paga o preço para reconciliar pessoas.
Deus é o grande Pacificador, que reconciliou o mundo consigo mesmo na cruz. Quando nós trabalhamos pela paz na nossa família, no nosso trabalho, na nossa irmandade, nós somos chamados "filhos de Deus", porque estamos agindo igualzinho ao nosso Pai.
V. A CONSEQUÊNCIA E CONCLUSÃO
Agora, você deve estar pensando: "Irmão Izaias, se eu for humilde, misericordioso, puro e pacificador, todo mundo vai me amar, certo?"
Errado.
Jesus termina com um choque de realidade.
8. "Bem-aventurados os perseguidos..." (v.10-12)
O mundo jaz no maligno. A luz incomoda as trevas.
Se você vive a justiça de Deus, você vai incomodar. Vão te chamar de fanático, de antiquado, vão mentir a seu respeito.
Jesus diz que a perseguição é o Selo de Autenticidade da nossa fé. Trataram os profetas assim. Trataram Jesus assim. Vão nos tratar assim.
Mas aqui está o paradoxo final. Jesus diz: "Exultai e alegrai-vos".
Como se alegrar na dor? Como se alegrar na perseguição?
Porque o nosso salário (galardão) não é pago nesta terra. A nossa pátria não é aqui.
Conclusão e Apelo
Meus irmãos, voltando ao meu ano de 2025.
Eu aprendi, com a morte dos meus entes queridos e com a leitura deste texto, que a vida é breve e que a nossa força é ilusória.
O convite desse estudo hoje é para uma rendição.
Talvez você esteja cansado de tentar ser "bom" por conta própria.
Talvez você esteja exausto de carregar o peso do orgulho.
Jesus te convida hoje a assumir a sua pobreza espiritual.
* Reconheça que você precisa de Deus (Pobreza).
* Chore o arrependimento genuíno (Choro).
* Entregue o controle da sua vida (Mansidão).
* E deixe que Ele te encha (Fome e Sede).
Quando fizermos isso, seremos canais de misericórdia e paz neste mundo tão cruel. E, não importa o que aconteça neste ano ou no próximo, nós já possuímos o Reino dos Céus.
Vamos orar.
Oração
"Senhor Deus, Pai de Misericórdia. Nós Te agradecemos porque o Teu Reino não é para os fortes e autossuficientes, mas para os pobres de espírito. Perdoa o nosso orgulho. Perdoa as vezes que tentamos comprar a nossa salvação. Enche-nos da Tua justiça, porque estamos famintos. Dá-nos um coração manso e misericordioso, para que possamos refletir Jesus por onde passarmos. Consola os nossos corações enlutados e firma os nossos pés na Tua Rocha. Em nome de Jesus, Amém."
O Caminho da Graça (Bem-Aventurados)
Izaias Resplandes
Diante do trono, sem nada nas mãos
Não temos ofertas, nem ouro, nem pão
Mendigos da alma, falidos no eu
Buscando a riqueza que vem só do céu
Não há o que pague, não há o que dar
Só a Tua graça pra nos resgatar
E nesse vazio, a alma lamenta
O choro sagrado que o peito aguenta
Choramos o erro, a culpa, a dor
Mas somos erguidos por Teu grande amor
A nossa falência nos fez perceber
Que só dependendo vamos viver
Bem-aventurados os pobres, Senhor
Que trocam o orgulho pelo Teu favor
Deles é o Reino, promessa real
Saciados na fonte, no manancial
Esvazia-nos hoje, pra encher de Ti
Tua justiça queremos aqui
Agora domados, com força na mão
Mas mansos na alma e no coração
Plantamos, regamos, com todo suor
Mas a vida quem dá é o Deus maior
Não somos juízes, perdão vamos dar
Pois fomos perdoados pra perdoar
Se a luta vier e o mundo oprimir
Se a mentira e a dor tentarem ferir
Nós vamos saltar de alegria e luz
Pois nosso destino é o Reino da Cruz
Limpos de dentro, a paz a levar
Filhos de Deus a reconciliar
Bem-aventurados os pobres, Senhor
Que trocam o orgulho pelo Teu favor
Deles é o Reino, promessa real
Saciados na fonte, no manancial
Esvazia-nos hoje, pra encher de Ti
Tua justiça queremos aqui
Amém, Amém.
Tua Graça nos basta.
Amém.
Casa do Lago, 13/12/2025